Prólogo

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"Olhe bem meu filho, que dá sina se foge, se esquiva, até se atrasa o chegar, mas não tem jeito, um dia ela pega a gente de surpresa, como chuva de verão que não tem aviso nem hora".

Jacó lembrou dessas palavras com muito apreço. Sua avó era uma senhora demasiado teimosa, difícil de prosear e ainda por cima dona das próprias verdades. De nada valia que ele as achasse absurdas pois estas sempre se cumpriam e de todos os traços da velha, esse era o que mais lhe irritava.

A sina de Jacó era entender que sua avó, Miriam, estava sempre certa sobre tudo, mesmo quando errada. Miriam o criou repetindo as frases que perseguiam sua família por gerações; "a morte nos chega à galope menino, veja bem, a desgraça também, vou logo dizendo que costumam vir juntas, o nosso sangue maldito sempre as atrai".

Jacó riu em seu íntimo enquanto pensava nisso a caminho de algum lugar, não tendo como ele como saber por estar muito bem vendado com suas mãos e pés presos em grilhões. Sentiu a barriga colar nas costas de fome, seu próprio cheiro o incomodou, isso lhe afligiu mais que qualquer mordaça, cresceu orgulhoso de si mesmo, inclusive da própria aparência, mimado pela avó que o criou como mãe, e sobrevivendo ao medo de ser perseguido por quem era e o que mantinha consigo.

Sendo forçado a passar por um corredor, Jacó sentiu um conforto no ar, era quente e úmido como os ares de um litoral, passou-lhe a impressão de estar sob um clima agradável, havia pássaros acolá, e percebia o piar de outras espécies, aceitou que se morresse neste momento poderia ir em paz.

- Ei, você tem dez segundos, pega o molho e tenta abrir, seja rápido viu, eu apostei sete segundos- ouviu a voz grave de um dos que o levava.

Jacó sentiu alguém ser jogado ao seu lado com um pesado molho de chaves, o indivíduo ofegava como um velho, mas vai saber.

-Dois segundos- advertiu o soldado.

O "velho" desesperado já estava na terceira tentativa de abrir os grilhões.

-Três... -quarta chave e nada - quaaaaatro.

Vozes riam no fundo, com isso Jacó teve a certeza que aquilo ia mais para uma chacota barata do que para uma aposta de verdade.

Ele estava atônito, pensava demais e não pensava em nada. Até que o som do engate de um rifle o fez ficar duro como uma vara verde.

-Cinco, seis, sete...

O tiro soou com um trovão caindo na cabeça de Jacó, o desconhecido desabou com um furo na testa ao seu lado a ensanguentar o chão em seguida. O guarda perdera a paciência e a aposta, pegou os molhos e demorou um pouco mais para soltar os grilhões do novato.

- Segue em frente pelo corredor, e se olhar para trás leva tiro... entendeu?

- Entendi.

-Bom, se quiser pode até tentar, mas só tem uma chance.

Risos se seguiram ao fundo, todavia o rapaz sequer se dignou a olhar, pulou um cadáver a sua frente e atirou-se pelo corredor com paredes empedradas.

Jacó andou entre o vão escuro, o que o fez recordar da masmorra em que fora jogado antes de ir parar naquele lugar desconhecido. Como na passagem de Sodoma e Gomorra, seguiu pelo beco sem olhar para trás, ainda que o receio o exigisse, contudo, uma luz começou a guiá-lo para a frente. Definitivamente era o fraco e esperançoso raio de sol da liberdade.








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