Sugar

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Ivo viu a mulher sair da penumbra, ainda não podia ver muito bem o rosto dela, os homens de Franco se entreolham, indagando como ninguém a virar ali antes e notado que aquela presença era um risco real e inesperado.

Ela pegou o rapaz com quem estava a discutir e o arrastou pela gola até um pouco perto da mesa onde estava Franco.

-Vamos ver se você é capaz de me escutar uma segunda vez, eu quero exigir uma devolução ao Sr. Franco, pois o palerma dos subordinados dele não tem a mínima capacidade de me entregar uma porra de três sacas de açúcar.

-Nós não fazemos devoluções- respondeu outra vez o rapaz com os olhos fechados- talvez se você viesse antes, se não tardasse tanto para vir reclamar.

A mulher perdeu a paciência e jogou o rapaz contra uma mesa ao lado.

-Acontece que só agora eu tive vontade de vir, não é problema meu se o chefe de vocês é um caloteiro de merda, eu quero o preço que paguei em peso.

-Você entendeu bem, não fazemos devoluções de produtos ou dinheiro. Levantou-se Beto a protestar em nome de Franco- Retire-se daqui, Silva Cano Alto, até que exista alguma prova que você tenha dado o pagamento em peso a sua presença não é bem-vinda aqui, e só vou te avisar uma vez. Não pense que uma vadia barata como você pode com todos os homens armados desse salão.

Silva mudou de expressão diante daquelas palavras, antes parecia caçoar da situação, mantendo uma raiva caricata apenas para provocar os senhores na mesa de jogos. Agora ela estava com sua feição verdadeira, e aproximou-se da luz para quem quisesse e pudesse ver. Ivo fitou bem o seu rosto, estando ela de frente para ele e Franco, porém os olhos grandes dela estavam para as costas de Beto. Ivo os desprezou, como toda a sua figura, não que se tratasse de um rosto feio, muito pelo contrário a morena era tão alta quando Beto, de cabelos cacheados soltos até a cintura, contrastados a uma pele avermelhada e alinhada como os seus lábios marcados e cheios, todavia o seu olhar era frio e cínico, e o som de sua voz demonstraram uma total apatia e desprezo alheio. Ivo confiava no seu dom de perceber uma personalidade através da tonalidade da voz, sim, à primeira vista ele não gostou nada de Silva.

Seus olhos negros viam famintos a nuca de Beto, e de súbito enganchou sua mão esquerda nela com tamanha força que fez o homem sentar-se de novo.

-Acredito eu senhor Beto, que vossa mercê apresenta problemas de memória, pois me lembro muito bem de seis meses atrás ter pago uma taxa em peso aos seus homens...

Beto reagiu retirando a faca de seu cinto, infelizmente subestimando a capacidade de resposta e domínio de Cano Alto, que com a mão direita o forçou a soltá-la na mesa. Ivo e Marco tentaram agir quando mão de Franco os segurou por debaixo da mesa, em seu olhar viram a ordem que ainda não era a hora.

-Continuando de onde fui interrompida... agora que venho aqui educadamente em busca de um acordo formidável, um senhor me vem com palavras tão baixas quanto a sua mãe, pois bem, eu o perdoo senhor Beto, no entanto, não posso admitir que o senhor Franco fique sem uma importante mensagem, não mesmo. Tem mais, jamais sairei daqui sem antes curar esse seu problema de cabeça.

Cano Alto desceu a testa de Beto contra a madeira com tanta força que a fez se partir no primeiro golpe.

-Nunca! - Ela repetia a ação- Contrate! - O rosto de Beto estava em puro sangue agora, Ivo e Marco se debateram contra Franco, e este os apertou com a ponta de sua adaga.

-...um merda de subordinado com problemas de memória! - Ela agora o fez descer com toda a força do corpo, fazendo a ponta da mesa estilhaçar junto com a cabeça de Beto.

- É só isso, agora espero que se lembre de passar o recado.

Silva retirou os cachos que cobriam sua fronte suada, estava satisfeita com o que causara, ela recompôs-se esperando um contra-ataque massivo da parte dos demais e isso estava para acontecer até Franco lhes negar a ordem. Beto encontrou-se no chão e o seu rosto era irreconhecível, Ivo era vermelho como os seus olhos, embora muito mais observador quanto ao que iria Franco fazer agora.

Ele apenas a deixou sair, e o som das botas cano alto de Silva foram ouvidos até a saída do bar.

Minutos tensos de olhares trocados se passaram depois do incidente, Beto inconsciente foi carregado por Marco e Ivo, que naquela situação já parecia agir como um deles. Franco então respira para proferir a temida pergunta:

-Quem foi o imbecil filho de uma meretriz que aceitou um pedido de Silva Cano Alto? - Os olhos de Franco estavam saltados, ele fora desafiado e ofendido, sendo sábio o suficiente para não revidar naquele momento, assumir o papel de líder o ensinou que as respostas precisam ser bem dadas e inesquecíveis, se possível retardadas. Silva poderia ser chefe de si mesma, Franco era chefe de uma gangue na masmorra mais secreta do mundo.

O silêncio logo foi quebrado por dois rapazes sentados no balcão, eram os irmãos Bart e Curt, ambos resolveram se lembrar que tinham mesmo passado o calote em Silva, contudo o problema não estava no calote e sim em quem escolheram enganar.

-Eu deveria...-Franco respirou fundo outra vez- vocês dois, sigam-na sem que os perceba, achem o buraco onde essa vadia desgraçada dorme, e só me voltem quando o conseguirem, vão agora seus palermas filhos de um necromante!

Os dois partiram a saltos do bar e Franco começou a analisar onde estava se metendo. Tratava-se de Cano Alto, e a desgraçada era apenas uma das figuras mais perigosas e temidas de toda a masmorra. E ele viu bem que ela não temia nem um pouco o número de homens que tinha ao seu dispor, mostrou que ele não lhe representava perigo algum e que faria de sua autoridade piada caso o mesmo não se vingasse já. De historiador do Vaticano a contrabandista e chefe de uma facção de espiões e assassinos, agora humilhado por aquela criatura desprezível. Franco lamentou pela primeira vez a sua decadência.

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