Eu e Suzi chegamos a Horizonte no início da tarde e fomos direto a um mercado para fazermos uma comprinha de itens básicos antes mesmo de irmos conhecer o apartamento. Depois da rápida passagem pelo mercado, fomos enfim para a nova casa e fiquei muito surpresa e feliz ao me dar conta de que moraria numa rua linda, arborizada, com casarões antigos e bem cuidados e que o apartamento que dividiria com Suzi era num prédio encantador, de três andares, novinho em folha, num estilo europeu clássico. Nosso apartamento era bem arejado, com uma janela enorme na sala, móveis visivelmente novos, modernos, confortáveis e estilosos, piso lindo de tábua corrida escura, cozinha pequena, mas toda com móveis planejados, assim como os dois quartos. Depois de torturar Suzi para que me contasse como havia conseguido aquele palácio por preço de casebre, ela acabou se abrindo e contando a verdade, que o pai havia comprado e decorado o apartamento, que estava apenas me cobrando um valor simbólico de aluguel para que não recusasse morar com ela. Fiquei um pouco decepcionada, pois não queria começar uma nova etapa da minha vida devendo mais favores para o Sr. Gonçalves, mas apenas sorri e agradeci mais uma vez por tudo que ela estava fazendo por mim. Não era hora para discussões, ainda mais sabendo que no gesto da minha amiga só havia amor.
Depois de ajeitarmos as compras nos armários e geladeiras, fui tomar um banho bem relaxante para espantar o cansaço da viagem e também para tentar deixar os pensamentos mais leves. Era muita novidade, um rompimento abrupto de um relacionamento longo, mudança de cidade, de emprego, de casa, ter passado a noite com um estranho, ter gostado de passar a noite com um estranho... Estava muito ansiosa, o coração doía espremido e a respiração era mais suspiros do que o simples ato de inspirar e expirar. Depois de colocar um pijama confortável, fui para a sala e me sentei no sofá lateral ao que Suzi estava.
Ela, que mexia no celular, o jogou displicentemente no sofá, sorriu e me olhou com ternura: - Ana, estou tão surpresa por você ter tido coragem de dormir com um estranho! – e antes que eu pudesse abrir a boca, arregalou os olhos e completou: - Não é uma crítica, viu! É espanto mesmo! Sabe, pensei que você fosse viver um luto de ex-marido vivo por muito tempo, afinal você só tinha transado com o João...
Respirei fundo e sorri: - Muito louco! – passei as mãos pelos cabelos e concluí. - Eu tinha bebido muito, mas não vou culpar apenas o álcool... Sei lá, eu já tô ferrada mesmo... O João me odeia mais do que nunca! Aí, do nada, me aparece um homem lindo, de fazer perder o fôlego e o juízo... – balancei os ombros. - O cara estava lá, a fim de uma noite, e eu estava louca para parar de me sentir mal. Senti o gosto bom de ser livre. Era uma cidade de passagem, era uma oportunidade única, eu não queria dizer não para ele – suspirei e cerrei os olhos com divertimento. - E foi bom para caramba! Eu estava precisando de carinho, de descobrir que eu ainda tenho desejo.
- É isso, querida! É vida nova!
- Não gostei muito, na verdade não gostei nada, da frieza dele de não ter ficado nem cinco minutos após o sexo... Foi como se tivesse se arrependido e quisesse deixar bem claro que não significava muito ter tido a minha companhia, mas ele deixou um bilhetinho engana-boba e me confortou...
- Homens... – resmungou Suzi.
- É sempre assim? Na maioria das vezes é assim?
Suzi ergueu as sobrancelhas e espremeu os lábios: - No meu caso era... Ou eu transava com um cara para aplacar a raiva do carne de segunda (um dos apelidos do açougueiro) e ia embora arrependida, frustrada e puta comigo mesma, ou transava com ele e o via vestir a roupa correndo para poder ir para casa... – completou com o olhar triste.
- Foi tudo tão louco, tão na correria que nem cheguei a te perguntar o que te fez tomar esta sábia decisão.
Suzi sorriu com um dos cantos da boca, respirou fundo e passou as mãos pelo rosto: - Ele nunca vai me amar! Ele nunca vai largar a esposa! – ela suspirou e sorriu torto. - Historinha clichê esta minha... – deixou os ombros caírem e expirou com o semblante entristecido, embora tentasse parecer irônica.
- Sempre te disse que ele não te merecia nem merecia a esposa, e você já sabia muito bem disso. Alguma coisa a mais aconteceu! – afirmei. - Você não o largaria somente por concluir o que já havia concluído há muito tempo. – eu a encarei com seriedade. - O que aconteceu de verdade?
Ela ergueu os ombros e resmungou: - Aconteceu o que tinha mesmo que acontecer, a mulher dele está grávida! – suspirou pesado. - Se antes já era difícil ter esperança de que ele fosse terminar com ela...
Suzi nem precisou completar a sentença: - Ela é mais uma eu. Mais uma traída. Você era só mais uma idiota enganada por um homem... – sorri com tristeza pela constatação. - Desculpe Su, mas é esta a verdade. Agora temos uma nova chance e vamos tentar não repetir nenhum erro! – afirmei sorrindo.
Com o ar debochado, brincou arregalando os olhos: - Talvez eu inverta o erro: vou me casar e ter um monte de amantes.
Balancei a cabeça e sorri: - Nova fase: a vingança!

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Meu caminho
Romance(Parcial) - Ana, é como a Beth sempre diz, você vai ser muito feliz, mas precisa primeiro aprender a ser forte - ela suspirou. - Entendeu, minha filha? Não era para ser um recomeço fácil. Ana sabia muito bem disso, afinal deixar um marido egoísta, q...