No sábado acordei com uma enorme e horrível ressaca moral, o peito estava inchado por uma dor incômoda que deixava um nó na garganta por não conseguir engolir a despedida de Théo na noite anterior. Havia apenas um pequeno alívio por não ter que me encontrar com ele, pois o administrativo do Village não trabalhava nos finais de semana.
Suzi trabalhava apenas dois sábados por mês e naquele estava de folga. Não aguentei esperar que ela se levantasse; na hora do almoço fui até seu quarto: - Acorda, Suzi! – sentei-me na beirada da sua cama e comecei a sacudi-la de leve para que despertasse. - Anda, menina! Toma um banho rápido e vamos sair para almoçar. Preciso conversar com você! – afirmei com seriedade.
Suzi abriu os olhos aflita e sentou-se rapidamente na cama, segurando firme minha mão: - O que foi, Ana? O João te fez alguma coisa?
Sorri e arregalei os olhos: - Não, Suzi! Pelo amor de Deus! Eu não queria te assustar! Só preciso conversar... Preciso que me ajude a entender uma coisa.
Ela foi se levantando e caminhando em direção ao banheiro: - O que aconteceu?
- O Théo veio aqui ontem...
Suzi sorriu bem entusiasmada: - Vocês dois ficaram juntos?
Balancei a cabeça em afirmativa e sorri de canto, mas sem demonstrar animação alguma pelo fato: - Vou te esperar na sala e a gente conversa com calma durante o almoço, agora vou aproveitar e ligar para casa.
Mesmo com 34 anos, eu estava precisando de conforto, de colo de mãe e de tia também, e talvez até mesmo uma bronca que me fizesse concentrar em solucionar os problemas que já tinha e não arrumar outros. Tia Beth foi quem atendeu ao telefone e foi logo anunciando a saudade: - Aninha, estou que não me aguento mais de vontade de te abraçar! – usou o seu tom escrachado de deboche. - Menina, não estou aguentando tanta calmaria... Ninguém chegando para pernoitar e saindo na maior cara-de-pau na manhã seguinte.
- Ai, tia, nem me lembre do que eu ainda não esqueci. – suspirei e perguntei sem brincadeiras: - Me diga a verdade: vocês estão bem? – perguntei referindo-me a ela e minha mãe.
- Ótimas! Frequentando assiduamente as aulas de zumba e os bailes de domingo à tarde no clube.
Com tanta coisa acontecendo tinha me esquecido completamente que as duas doidas tinham compromisso inadiável todos os domingos à tarde: um baile para a terceira idade, no clube dos Rocha, de duas às seis da tarde.
- Ana, me deixa falar baixinho antes que sua mãe chegue... – e começou a sussurrar tão baixo que tive até que forçar um pouco o telefone contra a orelha para entender. - Sua mãe arrumou um acompanhante fixo no baile. Dançam coladinhos e não trocam de par.
Gargalhei sonoro: - Quem tia? Eu conheço?
- Conhece sim; e acho que logo, logo você vai realizar outro sonho: se tornar irmã da Suzi.
Não contive o gritinho histérico: - O Sr. Gonçalves! (pai de Suzi) – exclamei animada.
- Isso mesmo – ela revelou com seriedade. - Sua mãe está vindo. Não fale nada sobre o que te contei, senão ela vai me matar! – advertiu-me com bom humor.
Minha mãe pegou o telefone e, pela animação, percebi que não tinha escutado minha conversa com tia Beth: - Ninha, Aninha, quero tanto te dar um abraço, meu amor.
Meus olhos marejaram: - Também mãe... – que vontade que senti de abrir o berreiro e entre soluços esbravejar que estava sendo desprezada por um homem, mas respirei fundo. - Mãe, já decidi, vou passar o próximo final de semana aí com vocês!
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Meu caminho
Romance(Parcial) - Ana, é como a Beth sempre diz, você vai ser muito feliz, mas precisa primeiro aprender a ser forte - ela suspirou. - Entendeu, minha filha? Não era para ser um recomeço fácil. Ana sabia muito bem disso, afinal deixar um marido egoísta, q...