Capítulo 9

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Duas da tarde, em ponto, entramos no escritório de Théo. Eu carregando meu notebook, Daniel algumas folhas e Vivia seus óculos de leitura, sem grau, apenas para adicionar um ar de sabedoria, como ela nos confidenciou em tom de brincadeira.

Ele se levantou para nos receber e estava mais perfeito ainda que nos outros dias que o havia visto, usando calça jeans escura, camisa social num azul exato aos dos seus olhos, com as mangas dobradas e a barra para fora da calça. Até passou pela minha cabeça a ideia de me arrumar um pouco melhor para a reunião, mas temi que ele interpretasse de maneira errada; então coloquei uma calça social de alfaiataria verde-oliva, botas de salto médio, grossos, blusa de tricô preta em gola V. Mantive os cabelos fartos e ondulados que vinham até a altura dos ombros soltos e não abusei na maquiagem, apliquei um pouco de gloss e passei um rímel incolor para destacar meus olhos, que são da mesma cor da blusa que usava.

Daniel foi o primeiro a cumprimentá-lo. Os dois se abraçaram com intimidade e Daniel gargalhou antes de comentar: - ficando velho, cara! , a mulherada chegando ontem à noite e você foi embora sem nem se despedir!

Meu coração afundou, mas mantive minha postura firme diante das novas descobertas: Daniel era amigo íntimo de Théo e, ao que parecia, tiveram uma noitada das boas.

Théo sorriu reservado e respondeu: - Mais responsabilidade e menos farra!

Depois de Daniel foi a vez de Vivia ir até ele e dar um abraço apertado e um beijo estalado em sua bochecha: - Primo, que bom que você veio ficar com a gente! – exclamou eufórica.

Vivia e Daniel me olharam segurando o riso e eu espremi os olhos em direção a eles, respirando profundamente, deixando bem claro que havia entendido a peça que me pregaram quando fingiram não saber qual era o motivo do pronunciamento do Sr. Rubens dias atrás.

Caminhei em direção a Théo e estendi a mão de forma educada. Encaramo-nos por um segundo e senti que ele estava tão desconcertado quanto eu; então assumi uma postura fria, deixando bem claro que não precisava se preocupar, pois eu, ao contrário dos outros dois que entraram, não tinha a intenção de fazer nenhuma espécie de revelação.

Théo nos orientou para que sentássemos em volta de uma mesa-redonda de vidro, com cadeiras modernas de acrílico brancas.

Como o combinado, Daniel praticamente fez um monólogo. Eu apenas entregava um ou outro esboço e mostrava alguma coisa no computador, mas evitando a todo custo olhar para Théo além do estritamente necessário.

Ao final da reunião, Théo aprovou o projeto e pareceu realmente ter ficado muito satisfeito com o que criamos. Nós faríamos um enorme painel na entrada da Vila com fotos dos funcionários com seus pais ou com alguém que tivesse assumido a posição e, em todas as compras, independentemente do valor, na semana do dia dos pais, o cliente receberia uma raspadinha com premiação dupla (para pai e filho), com prêmios que iriam de cappuccinos a jantares especiais, de entrada para o cinema a peças de roupas.

Estávamos juntando as coisas para deixar a sala quando Daniel, numa postura bastante séria, pediu para fazer uma última consideração: - Théo, preciso ser justo. Todas as ideias envolvendo as promoções partiram da nossa gerente. Eu assumi a parte de design – e depois sorriu de forma safada. - E a Vivia ficou totalmente envolvida nas tarefas de apontar lápis e buscar cafés.

- Idiota! – bufou Vivia com o rosto vermelho pela raiva. - Fiz muita coisa, Théo.

- Mentira minha, ela fez sim – gargalhou novamente Daniel. - Vivia ajudou muito na parte de criação, além de apontar os lápis e pegar os cafés.

Meu caminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora