Meu caminho

Capítulo 5

- Uau, Suzi! Você está digna de um baile no Copacabana Palace! – exclamei assim que abri a porta do quarto e a vi num vestido de seda azul marinho longo, bem solto abaixo da cintura, com flores brancas na estampa.

Era início de julho, ainda estava bastante frio, o que parecia não importar muito para minha amiga. Eu estava a fim de sair arrumada, mas não imaginei que fosse o caso de me produzir numa terça-feira para uns drinques como se fosse um sábado de festa; então coloquei uma blusa de lã creme, larga, com a gola caindo em um dos ombros, uma calça jeans justa e bota marrom de cano curto com um salto mínimo.

- Não trouxe vestido aí nesta mala, não?! – perguntou entortando os lábios para um dos cantos e analisando minha roupa com desaprovação.

- Ah, tô com frio; e a ideia não era uma noite de um porre confortável? Um brinde à nossa liberdade. – respondi com convicção.

- Tudo bem... – Suzi sorriu dando-se por vencida. - Você está linda, mesmo estando escondida atrás desta blusa larga.

Atravessamos a rua sentindo o vento gelado que fazia barulho e anunciava que uma tempestade estava para chegar. Entramos no bar do hotel e o garçom nos acomodou numa mesa ao fundo, porém não muito distante do bar. O lugar era bem escuro, com luzes baixas, mesas e cadeiras pretas e com assentos almofadados em veludo vermelho. Uma música instrumental tocava ao fundo dando ainda mais um toque requintado ao ambiente. Não havia muitas pessoas no salão, talvez por ser início da semana e também por ainda não ser nem dez horas da noite. Nós duas decidimos pular o jantar, pedir uma tábua de frios e a primeira garrafa de vinho. Rapidamente a primeira garrafa secou, pedimos a segunda, e mal havia passado uma hora que estávamos lá.

- Nossa, Ana, já ia te falar para gente aproveitar a noite em outro lugar porque este bar estava meio caído, ainda mais com esta música que estava me convidando para uma noite relaxante na cama, mas mudei de ideia. – anunciou sorrindo.

Nem precisei me dar ao trabalho de perguntar o que havia acontecido, pois foi só seguir o olhar de minha amiga para chegar ao seu alvo, ou melhor, seus alvos: dois homens lindos, impecavelmente vestidos de forma casual e com ares de donos do local.

- Ah, sim, eu os vi hoje – comentei.

- Sério?

- Sério – sorri. - E um deles me pegou no flagra comendo um sonho enorme na padaria.

Suzi deu uma olhada especulativa pelo local e afirmou: - Vou pedir mais uma garrafa de vinho, pois se não chegarem acompanhantes para estes gatos vou até o banheiro, desfilando, jogando cabelo, fazendo um charme... E... – ela balançou os ombros e revirou os olhos não precisando completar a frase para que eu entendesse bem que ela estava louca para dar o bote.

Entortei os lábios, respirei fundo e balancei a cabeça em negativa: - Faça o que quiser, só não me force a acompanhá-la.

- Poxa, Ana, você está solteira! Solteira de verdade pela primeira vez em anos! Vamos aproveitar! – exclamou em tom de súplica.

- Suzi, um passo de cada vez! Preciso de tempo para assimilar tanta mudança. – falei com sinceridade.

- Tá bom. Não vou forçar a barra.

Não éramos as únicas mulheres desacompanhadas sentadas no salão e, pelo que pude perceber, havia outras com a mesma intenção de Suzi: a de acabar a noite acompanhada por um belo homem, e aqueles dois eram com certeza os dois mais lindos que estavam por lá. Um grupinho de quatro amigas se adiantou à ideia de Suzi e conseguiram com que os rapazes se juntassem a elas na mesa que ocupavam. Entre um assunto e outro, nós duas continuamos a observar os dois, pois se sentaram de frente para nós. O homem moreno imediatamente encarou Suzi por alguns instantes e, em seguida, me olhou de relance. O loiro estava balançando a cabeça e sorrindo como se concordasse com algum assunto, mas nem por um momento desviou o olhar da nossa mesa.