Capítulo 8

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A sexta-feira passou num estalo, principalmente porque fiquei totalmente envolvida no trabalho sobre a propaganda do dia dos pais com Vivia e Daniel, pensando no tipo de publicidade que faríamos. Ao contrário do meu pensamento negativo, fui surpreendida por uma Ana até que razoavelmente criativa (óbvio, com ajuda da internet e dos meus companheiros de equipe), pois tive algumas ideias que foram bastante bem recebidas.

Já o final de semana foi mais tenso do que eu gostaria. Sem muito o que fazer, o pensamento angustiante sobre a vida que tinha deixado para trás não me abandonava. Eu não queria ficar remoendo lembranças, mas era tão pouco tempo que a vida que eu vivi era ainda muito mais real em minha mente do que a nova fase que estava se iniciando.

No sábado à noite aceitei o convite de Daniel e fui com Suzi até uma reuniãozinha entre amigos na casa dele, um apartamento pequeno, com poucos móveis e um bar bastante equipado. Foi bacana conhecer seus amigos, muitos deles trabalhavam no Village, mas eu ainda não os havia encontrado por lá. Suzi simplesmente ficou hipnotizada pela beleza desconcertante de Daniel, assim como Vivia e mais algumas mulheres que estavam lá; mas, até a hora que fiquei na casa dele, percebi o quanto era ciente de seu efeito sedutor e parecia disposto a alimentar a esperança de todas as pretendentes.

No dia seguinte, enquanto preparava café fresco, Suzi se levantou com o semblante satisfeito e animado.

- E aí? Ficou lá na casa do Daniel até que a última rival saísse? – perguntei debochada enquanto enchia nossas xícaras.

Suzi apertou o laço do roupão, sentou-se num banco da bancada que dividia a sala e a cozinha e sorriu: - Que homem é aquele?! – suspirou e revirou os olhos. - Que boca!

Franzi o cenho me divertindo: - Sério?

Ela gargalhou: - Sério! Vi aqueles belos lábios carnudos me dizendo "tchau, a gente se esbarra por aí...".

- Então não terminou a noite com ele.

- Não. Mas ele também não ficou com nenhuma outra mulher. Acabou acompanhando a mim e a Vivia até o táxi .

- E você nem jogou seu charme? – perguntei surpresa.

- Não. Ele é gato demais, mas vi a Vivia toda derretida para o lado dele e achei melhor nem tentar. Ela parece ser tão bacana... – finalizou o assunto levantando os ombros.

Passamos o restante do dia descansando no apartamento, assistindo TV e jogando conversa fora. Foi um final de semana tão diferente dos que eu estava acostumada que não consegui parar de desejar que nada de ruim acontecesse nos próximos para que eu pudesse desfrutar calmarias como aquela por muito tempo.

***

No meio da semana seguinte, quase no final do expediente, fomos avisados que o Sr. Rubens pediu que todos os funcionários do setor administrativo e gerentes de lojas encerrassem seus trabalhos meia hora antes do final do turno e fossem para o refeitório, para uma breve reunião onde explicaria algumas mudanças que estava prestes a implementar. Eu, Vivia, Daniel e Suzi (através de mensagens) começamos imediatamente, após o anúncio, a especular as mais variadas bizarrices que poderiam ser anunciadas. Palpites que iam de notícias extremamente trágicas, como anúncio de falência da empresa (algo realmente absurdo ao que nos parecia, pois o lugar vivia cheio de clientes e não apenas curiosos) até bobeiras como um anúncio informando que todos os funcionários deveriam trabalhar com trajes de banho, independentemente do clima.

No horário determinado, seguimos os quatro (eu, Daniel, Vivia e Suzi) até o refeitório, que já estava bem cheio e barulhento por conta das conversas que pareciam ter um único tema: qual seria a pauta da reunião. Sr. Rubens não demorou a aparecer, passou entre os funcionários com o sorriso aberto e um semblante que demonstrava que nada de grave seria anunciado. Enquanto ele se posicionava à frente de todos, revirei minha bolsa em busca do celular para colocá-lo no modo silencioso, evitando passar por qualquer constrangimento. Ainda de cabeça baixa apertando botões no telefone, senti Suzi apertar meu braço com tanta força que automaticamente levantei meu olhar em sua direção com uma feição interrogativa. Suzi arregalou os olhos e ergueu as sobrancelhas, balançando o rosto para que eu olhasse para frente. Curiosa, joguei meu celular de volta na bolsa e estiquei o pescoço para ver por cima de algumas cabeças e assim descobrir o que ou quem tinha deixado minha amiga muda e com o semblante assustado. Minha respiração cessou na hora e o coração disparou por causa do susto que levei ao ver Théo, o mesmo homem com quem eu tinha passado uma noite, de pé, sorrindo ao lado do meu chefe. Não consegui dizer nada, e nem queria, pois Vivia e Daniel poderiam perceber que havia algo estranho; então olhei para Suzi, que arregalou os olhos novamente e cerrou os lábios demonstrando que também estava muito surpreendida com a visão.

Meu caminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora