Eu e Suzi deixamos a cidade na terça bem cedinho, muito antes de o comércio começar a funcionar. Fomos em carros separados depois que chegamos à conclusão que deveríamos manter o máximo de independência uma da outra quando começássemos a morar juntas. A despedida não foi nem perto de ser fácil; minha mãe e minha tia estavam com sorrisos tão escancarados que davam a impressão de terem sido colados em seus rostos para que não conseguissem demonstrar nada além de felicidade. Eu estava com a sensação de pressão baixa, vendo tudo como se estivesse num universo paralelo. Estava absurdamente nervosa, cheia de medos e expectativas. Para as três e Senhor Gonçalves (pai de Suzi), que também estava conosco, eu afirmava que era uma tentativa e que queria seguir a frase de uma música que dizia que "o caminho do risco é o sucesso"; para mim mesma, eu misturava esta frase com o total desespero de "Deus me ajude!".
Depois de duas horas e meia de viagem, Suzi, que seguia à frente, parou no acostamento. Eu estacionei logo atrás. Enquanto aproveitamos para esticarmos as pernas, decidimos que faríamos uma pequena parada para um café num posto de gasolina logo à frente indicado no aplicativo de mapas.
- Suzi, tô tão nervosa! – desabafei. - Imagina se depois de toda confusão que causei não conseguir a vaga no Village? – passei as mãos pelo rosto. - Ou me derem a vaga e eu não conseguir dar conta do serviço? O que eu vou fazer da minha vida?
- Não vai acontecer, Ana! – respondeu ela com confiança. - A vaga é sua. Te garanto. Quanto a não dar conta do serviço, tenho certeza de que não acontecerá, mas o que eu quero te dizer é que nunca, nunca mesmo vou te abandonar. Eu te incentivei a vir comigo porque tenho muita certeza, do tipo absoluta mesmo, de que seremos muito mais felizes longe de Fontes! E se não for em Horizonte a gente se muda de novo. – falou com a tranquilidade de quem estava apenas trocando chá preto por verde.
- Fico pensando no João... – suspirei. - Não adianta revirar os olhos, estou sendo sincera. Era uma merda de casamento, eu sei, mas estou me sentindo estranha...
- O cara te traiu com a cidade inteira! Pensa nisso e segue a vida! – esbravejou.
- Você está certa – balbuciei levantando as sobrancelhas e os ombros ao mesmo tempo.
Suzi bebeu o resto do café, repousou o copo na mesa de modo estabanado, ajeitou-se na cadeira, olhou para o lado por um instante e depois me encarou como se tivesse acabado de ter uma grande ideia: - Ana, estamos perto de Caxias Paulista... – concordei com a cabeça sem entender o que isso significava; então ela continuou depois de abrir um enorme sorriso conspiratório. - A gente só tem que se apresentar no emprego na quinta-feira. Certo? Então vamos pernoitar num hotel hoje lá em Caxias e comemorar?!
- Como assim?
- Vamos sair, beber um pouco ou muito! – afirmou sorrindo. - Vamos passar a noite numa farra! A gente nunca – repetiu dando ênfase à palavra –, NUNCA mesmo aproveitou uma noitada juntas!
Sorri com verdadeira felicidade: É mesmo! Uma noitada eu e você? Sem ter que me explicar para ninguém? Sem ter que fingir que estou bem e manter a pose? Beber e não ter que acordar cedo?
- Sim! Tudo isso – respondeu ela.
- Topo! Topo muito!
- Isso, garota! Vamos ter nossa comemoração de vida nova!
***
Assim que chegamos a Caxias Paulista, paramos em frente a um hotel com uma fachada bonita, bastante elegante, com escadaria de pedras e portas enormes em vidro fumê, e minha cabeça logo disparou o alarme de gastos. Suspirei e dei uma olhada pela rua pensando em como falar com Suzi que não estava disposta a gastar muito, mas não queria decepcioná-la. Por sorte, bem em frente, do outro lado, vi outro hotel. Um hotel horroroso, um prédio antigo, com janelas velhas, pintado de verde-limão.

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Meu caminho
Romance(Parcial) - Ana, é como a Beth sempre diz, você vai ser muito feliz, mas precisa primeiro aprender a ser forte - ela suspirou. - Entendeu, minha filha? Não era para ser um recomeço fácil. Ana sabia muito bem disso, afinal deixar um marido egoísta, q...