Capítulo 2
Num sábado frio, finalzinho de junho, hora em que estava encerrando o expediente no escritório, por volta do meio-dia, eu ajeitava uns papéis sobre a minha mesa e Suzi bateu na porta de leve, anunciando sua entrada: - Ana, podemos conversar? – perguntou sentando-se na cadeira oposta à minha.
Levantei os ombros e sorri em tom de brincadeira: - Claro, meu bem.
Ela me encarou de um jeito sério, sem vestígio de humor e, por um segundo, meu coração se espremeu pensando que não deveria ser nenhuma boa notícia o que ela estava prestes a anunciar: - Ana – suspirou e sorriu sem mostrar os dentes –, sabe o Green Village?
Green Village é um complexo de lojas charmoso e sofisticado com lojas de marcas famosas, perfumarias, salões de beleza, cinemas, restaurantes, lanchonetes, bistrôs, cafés etc., comandado por uma única família.
- Claro! Acho até que existem duas Vilas... – respondi sem formular conclusões sobre a pergunta.
Ela assentiu com a cabeça: - Isso! Uma no Rio de Janeiro e outra em Horizonte. Você já foi a alguma delas?
- Fui na Vila de Horizonte uma vez, no Natal do ano retrasado...
Horizonte é uma cidade pequena, porém, por sua natureza exuberante, com diversas cachoeiras e este comércio como atrações, é uma cidade rica, a 400 quilômetros de Fontes.
Suzi suspirou profundo: - Então, Ana...
Interrompi com espanto: - Não me diga que estão querendo abrir uma Vila aqui?
- Por que eles iriam querer investir neste fim de mundo? – gargalhou Suzi, e emendou com sarcasmo, revirando os olhos – E como competiriam com o império dos Rocha?
- Então desembucha logo! – arregalei os olhos – Você chegou aqui com uma cara...
Suzi voltou ao semblante sério e suspirou novamente: - Ana, é o seguinte... – mais um suspiro – Não é que tenha escondido de você... Você é minha melhor amiga... – minha garganta estava inchando pela tensão que o tom de Suzi me passava, mesmo não conseguindo formular mais nenhuma hipótese sobre o assunto.
- É o seguinte, há dois meses, fiquei sabendo que estavam procurando gerente para uma de suas lojas, o break. Você deve saber qual é – afirmou enquanto fazia gestos com as mãos para explicar melhor. – Aquele lindo, muito charmoso, com mesas brancas de madeiras e sombreiros enormes, com um jardim bem bonitinho na entrada, enfeitado com lâmpadas pequenas... – concordei com a cabeça de modo aflito para que ela desenvolvesse o assunto mais rapidamente. – Meu pai conhece o dono do Village e eu pedi que me indicasse para o cargo.
- Não! Você vai embora! – gritei surpreendida, num misto de tristeza e euforia.
Ela sorriu torto e me olhou com uma espécie de piedade: - Não faz assim, Ana... Tô com mais de trinta anos e uma vontade louca de sair desta cidade! – Suzi respirou profundo – Caramba, Ana, você sabe que eu sonho em ter um negócio próprio – sorriu travessa e revirou os olhos antes de completar –, embora nunca tenha tido ânimo para levantar cedo – depois suspirou e continuou compenetrada. – Agora falando sério, chega de ficar aqui, dependendo de mesada do meu pai, dependendo da boa vontade do açougueiro me levar para cama, dependendo de festas e noitadas para me sentir feliz. Quero tomar as rédeas da minha vida!
- Mas você sabe que será um emprego pesado, que consumirá horas do seu dia e talvez você não chegue a ganhar nem um terço do que seu pai te dá por semana... – ponderei.
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Meu caminho
Romance(Parcial) - Ana, é como a Beth sempre diz, você vai ser muito feliz, mas precisa primeiro aprender a ser forte - ela suspirou. - Entendeu, minha filha? Não era para ser um recomeço fácil. Ana sabia muito bem disso, afinal deixar um marido egoísta, q...