Audição. Tato. Olfato. Paladar. Visão.
Os sentidos de Alec voltaram nessa ordem.
Ele ouve gemidos de dor cuja voz era estranhamente familiar, e gritava coisas que ele ainda não era capaz de entender, como se sua audição ainda estivesse embaçada. Ele sente a dureza e o frio do chão onde estava deitado. Sente cheiro de mofo e madeira, como um depósito. Sentia o gosto amargo de sangue invadindo sua boca. Então, lentamente, ele abre os olhos, se deparando com a visão que o assombraria para sempre.
Magnus estava deitado no chão um pouco mais longe dele. Suas roupas estavam ensanguentadas, assim como seu rosto, que também exibia alguns hematomas próximos a boca e aos olhos.
Ainda com a visão entrando em foco, ele se rasteja até o corpo inerte de Magnus e checa sua seu pulso, já entre lágrimas.
Vivo.
- Mags... - ele tira alguns fios de cabelo que pendiam sobre seus olhos - Eu sei que você pode me ouvir, por favor amor, abra os olhos e acorde... Magnus, acorde!
Nada.
O garoto olha para cima, apertando os olhos.
- Eu perdi tudo - ele não sabia bem se estava pedindo a Deus, ou a um anjo, sequer sabia o que estava pedindo - Eu perdi Max, perdi meus pais, perdi meus amigos... Não posso perdê-lo também. Não o leve de mim.
Alec levanta Magnus e o apoia em seu colo, ainda chorando, enquanto sente um movimento.
- N-não vai... - ele ouve, encarando-o e molhando-o com suas lágrimas. - não vai me perder, pequeno. Nós vamos ficar bem, eu prometo.
Alec sorri pequeno, em seguida o abraça e o ajuda a se levantar, segurando sua cintura firmemente.
- Olha só - uma figura alta aparece - Os pombinhos finalmente acordaram.
Magnus se posiciona à frente de Alec instintivamente, mesmo com seu corpo todo gritando de dor.
- Quem é você e o que quer conosco? - Alec diz entre os dentes.
- Eu estou aqui a serviço, e vocês são o meu serviço. - Era um homem com capuz preto e estatura mediana.
- Cale a boca, imprestável - uma outra voz entra no ambiente. Dessa vez é familiar.
Magnus observa os dois e também o local. Era realmente um depósito. Seu olhar viaja pelo local em busca de algo que pudessem usar para se defender. Ele encontra um cano próximo a algumas caixas. Mas não deixaria Alec, e sozinho, naquele estado, não seria capaz de chegar nem a metade do caminho. Alec parece entender o plano de Magnus no instante em que seus olhos se encontram. O garoto sabia que Magnus nunca lhe pediria para fazê-lo, mas também sabia que se existia alguma chance de saírem vivos dali, por menor que fosse, dependia de Alec.
- Quem mandou vocês? - Magnus pergunta.
- Isso não interessa a você. Mas eu vou mudar os planos. - O que chegara depois responde.
O outro sequestrador o encara, se aproximando.
- Não invente agora. Nós fomos pagos, de qualquer jeito não poderemos ficar na cidade quando acabar.
- Já mandei calar a boca - ele diz, enquanto tira um revólver do cinto e o aponta para o outro - Eu fui pago para matar vocês dois, mas matar você - ele indica Alec com a cabeça - seria um desperdício. Apenas um deve morrer hoje.
- Você não vai fazer isso...
O mais alto puxa o gatilho de repente, como se não significasse nada. Como se a pessoa que receberia a bala não significasse nada. O barulho do tiro ecoa no depósito, fazendo Magnus e Alec tremerem. O moreno segura a mão de Alec.
- Eu disse que estava cansado da sua voz...
Alec soube, no momento em que vira a arma, que tentar correr era inútil. Soube, no momento em que viu seu temperamento, que a única saída era um milagre.
A questão era: Eles acreditavam em milagres?
O homem caminha até eles e pela primeira vez se permite examinar seus olhos pelos buracos do capuz. Verdes.
O verde que o machucou. O verde que o roubou. O verde que o despedaçou.
- S-Sebastian? - Alec balbucia. Ao seu lado Magnus o encara espantado, ainda segurando sua mão.
O homem tira seu capuz, exibindo os cabelos loiros bagunçados e um sorriso traiçoeiro. Sorriso que Alec conhecia bem.
- Em carne e osso - Ele se aproxima de Alec, segurando seu rosto com uma mão, apertando-o.
- Fique longe dele seu desgraçado - Magnus grita, antes de socar o rosto de Sebastian.
Com o movimento brusco, sua mão se solta da de Alec. Sebastian sorri como Lúcifer sorriu ao cair do céu. Em seguida, ergue a arma e a aponta para a cabeça de Magnus.
- Eu me lembro de você. Se não fosse por você, Alec seria meu. Mas hoje isso vai mudar. Você morre, e ele vive. Eu fui muito bem pago para fazer este serviço, mas teremos que fugir com a mudança de planos. Você pode escolher o lugar, Alec. Sairemos de Nova York esta noite.
- Eu não vou a lugar algum com você. - Alec diz entre os dentes, controlando a imensa vontade de correr até Magnus.
Sebastian mantém a arma apontada diretamente para Magnus.
- Por bem ou por mal, Aleczinho - o apelido fez o garoto estremecer - Eu sempre fui ótimo em fazer você obedecer...
Magnus podia sentir seu sangue esquentar.
Flashback On
- Eu morreria com você. Morreria por você. Mataria por você - Magnus sussurrava no ouvido de Alec enquanto o abraçava por trás.
- Eu faria o mesmo por você. Quantas vezes fossem necessárias.
Ele se vira de frente para ele e o beija, aproximando seus corpos.
- Talvez em um mundo paralelo nós fôssemos alguma espécie de heróis - Magnus diz aleatoriamente.
Alec arqueia a sobrancelha.
- Como guerreiros matadores de monstros ou algo do tipo?
- Talvez, mas pensei em algum tipo de bruxo ou feiticeiro...
- Pelo que eu saiba eles são imortais. Eu provavelmente seria mortal. Não suportaria ver todas as pessoas que eu amo morrendo.
Magnus fica pensativo.
- Bom... - ele diz antes de dar uma pequena mordida no pescoço do garoto - eu encontraria um jeito de ficar pra sempre ao seu lado. Não quero imortalidade se não puder ter você. Nós somos pra sempre.
O garoto toma seus lábios num beijo necessitado.
- Sempre e pra sempre...
Flashback off
Sebastian puxa o gatilho.
Só não nota que o alvo agora era outro.
Por instinto, Alec se jogara na frente da bala. Na frente de Magnus.
A perda de sentidos volta.
Alec sente seu coração errar uma batida.
E outra.
E outra.
Flashback Off
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The cruelty of hope (Malec)
FanfictionSorri pra mim, por favor. Eu amo as covinhas nas tuas bochechas, amo o som da tua risada e amo o desenho que as pintas em suas costas formaram minuciosamente. Olha pra mim. Eu amo ver meu reflexo nos teus olhos azuis inebriantes e o modo como arque...