03 - Palavras e Armas

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Olá você que está lendo esse diário depois de mais um tempo de  distância. Então, o clima de suspeita sobre mim durou ainda alguns dias, mas tomei coragem e fui tirar satisfação com os dois. Não estava mais aguentando essa pressão que cada olhar deles acabava caindo sobre mim.

Ouvi suas indagações e percebi o que eles estavam com receio, e o por, era o mesmo receio que eu. Krutnar contou que sentia as dores, mesmo desacordado, que sentia que a morte chegaria para ele porque o corpo começava a ficar frio e sua consciência já não estava mais tão ligada a ele, mas disse que sentiu também quando minha mão o tocou e todos os mal sentimentos sumiram, era como se ele tivesse sido colocado em uma banheira quente e tivesse o abraço de concubinas ao seu redor.

Preferi não relatar o que havia se passado comigo e como senti toda a dor dele sendo passada, mas Cyob continuou a me olhar estranho e pedi que ele explicasse o que ele também achava, foi aí que a ficha caiu e o medo começou a tomar conta de mim.

Ele falou que havia uma profecia chamada "novos sagrados" e que dizia que a magia retornaria ao mundo através da mão desses seres que ninguém saberia quando apareceriam. Mas seriam eles os responsáveis por quebrar o selo dos titãs e fazer Nemunus tornar-se novamente um mundo de poderes inimagináveis. Cyob contou que isso que havia acontecido com Krutnar parecia muito com algo que eles não conseguiam explicar, já que a quantidade de sangue perdida iria demorar ao menos dias para ele se recuperar.

Porém, o que realmente ficou martelando na minha cabeça foi "os Unitários querem matar a todos nós, os quatro originais, e se souber que existe realmente os novos sagrados, os capturará e os obrigarão trabalhar para eles".

Eu lembrei que os Unitários haviam levado os gêmeos e isso me deu tanto raiva quanto medo, o que será que eles fariam com os dois? Mas, ao mesmo tempo, percebi que deviam ser realmente perigosos porque se eles deixaram Cyob com esse receio, depois do modo que o vi lutar, eu deveria estar com muito mais que ele.

Após essas conversas, após eles me falarem o que realmente os atormentava, tive coragem de contar um pouco sobre minha história também. Não contei que vim de outro planeta porque já li muitos livros e sei que isso seria bem idiota. Mesmo ao Sr. Smith não tive coragem disso, nem a Luan e Lunia, que me foram tão parceiros. Preferi guardar a história da minha origem para mim mesmo. Todos acreditam naquela história genérica de "minha vila foi acometida por doenças e só eu sobrevivi", já que, como eu disse, esse lugar parece uma história de Tolkien sendo vivida por mim, só que bem menos rebuscada e bem mais fedida.

Expliquei a eles que vim dessa vila, mas que quando estava caminhando tive um apagão e acordei do lado de fora de Pico do Mar, sendo socorrido pelo velho Smith, mas não lembrando em qual direção ficava minha vila ou como eu havia chegado até ali.

Contei a eles que jamais tive qualquer lance como o que aconteceu com Krutnar e que também não fazia ideia do que tinha ocorrido. Pelo benefício da dúvida, acho que eles acreditaram em mim, já que depois desse papo voltamos ao clima de cordialidade.

Andamos mais alguns dias, dessa vez não mais para o norte e sim em direção ao oeste (cara, pela primeira vez fico feliz de entender bem de geografia e saber me localizar). O lugar parecia mesmo saído de uma história fantástica que tanto li durante minha infância. Os lugares eram pouco tocados pelos humanoides (não digo humanos porque já vi cada coisa estranha). Mas, as árvores crescem ser serem podadas, a grama em algumas áreas é gigante, e o mato cresce, mesmo que modesto, entre o caminho principal, já que poucas pessoas por lá passam. Durante esses quatro dias que caminhamos, além de de sentir os fortes ventos daquele mês tão marcado por essa característica, quase tomamos outra tormenta de água se não fosse a casa de Willer, um senhor armeiro que Krutnar disse conhecer e que nos ajudaria a ficar mais protegidos. Willer era um homem robusto, bem ignorante no primeiro momento, mas depois que Krutnar falou com ele a sós, os dois retornaram e Willer pareceu muito mais amigo e solícito para o que nós quiséssemos pedir. Ofereceu um quarto para descansarmos e nos deu comida durante a enxurrada que caia lá fora.

Uma das coisas que mais chamou a atenção foi onde a casa dele era. Quando chegamos pensei não haver nada, mas uma porta na pedra denunciou. A casa era incrustada na montanha que se erguia para formar um dos picos do estreito Arcman, uma arte de engenharia incrível, creio que se meus amigos engenheiros vissem, ficariam abismados. A casa em si era até grandinha, acolhedora, possuía dois quartos, duas salas e um espaço para cozinha, até largo para uma pessoa só morar. Mas o que mais impressionava, se era possível, foi a parte de trás da casa, onde estavam guardadas as armas. Pudemos escolher qualquer coisa lá de dentro (peguei uma armadura não tão pesada, mas que senti que me protegia bem e uma besta leve com alguns virotes, já que sempre quis ter uma. Troquei também a espada de Sr. Smith havia me dado e agora tenho uma mais afiada e de melhor pegada na mão, com um lindo cristal lilás colocado em seu punho). O espaço devia caber uns 10 carros, se aqui tivesse, mas não tinha nenhuma janela a vista.

Ficamos na casa de Willer durante o restante do dia mas pouco pude saber dele, já que saiu por um tempo e só retornou quando a noite já havia caído. Nos mostramos o mapa a ele e recebemos indicações de onde poderia ser o local que estamos procurando.

Finalmente saímos, pela manhã com as mochilas cheias de comida e, graças a Deus, um bom banho tomado. Além disso, fiquei bem feliz com esse upgrade conseguido, me sinto mais preparado nessa aventura, agora eu me sinto...

Liam, o armado (esse nome é bem mais legal que os outros).

Os passos em NemunusOnde histórias criam vida. Descubra agora