07 - Fogo e Carne

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Bem, retornando de um período um pouco distante, já que as situações que estamos passando estão bem tensas, principalmente depois de perdemos um dos nossos, voltei para relatar os acontecimentos de um tempo ai atrás.


Quando fomos colocados em uma sala pouco iluminada, meu coração quase parou. Pra onde deveríamos ir, o que iriamos fazer. Após nos adaptarmos a escuridão do local eu pude averiguar um pouco. Parecia que tinham nos colocado em uma antiga sala de tortura, alguns instrumentos que eu lembro de ter visto em aulas de história medieval estavam presente lá, instrumentos com espaços para lâminas, mas com nenhuma que pudêssemos tirar e tentar escapar do local. A sala era redonda, não havendo uma esquina entre ela.

No centro da sala havia umas grades que dava passagem de líquidos para um fosso, mas bem estreito, não dando possibilidade de algum de nós tentar sair por lá. Exatamente acima desse fosso, no teto dessa sala, mais algumas grades podiam ser vistas, além de um facho de luz. Creio que lá seja um espaço em que alguns membros que nos sequestraram fazem reuniões, já que dá para se ouvir vozes e, as vezes, pancadas de cadeira no chão.

Passamos alguns dias nesse espaço, não sei ao certo quanto, mas foram dias horríveis, não tínhamos o mínimo de higiene. Xixi e cocô eram feito pedindo para os outros se virarem, no espaço do fosso, e o cheio era insuportável no começo, mas depois nos acostumamos. Em espaços bem distantes era passado para nós água e comida, mas quase nada mesmo, e o que nos era oferecido não dava para ser considerado uma boa refeição nem para uma pessoa somente.

Muitas vezes tentamos fazer algo na porta, chutar, puxar, bater... Porém, tudo foi em vão. Nada surtia efeito, a porta era de madeira maciça e muito resistente. Entre uma ou outra pancada que tentávamos dar na porta, gritos eram ouvidos, como que em resposta. Mas eles estavam tão distantes que não dava para distinguir se era pedido de ajuda, gritos de dor ou somente alguém brincando de nos responder.

Vários dias se passaram, não sei se cinco ou sete. Não havia nenhuma forma de identificarmos os dias, só nos baseamos que o tempo passava pela presença da água e comida, trocada constantemente. Sem que deixavam, nós gritávamos para saber porque nos trancaram, mas nada foi respondido, até um momento muito estranho.

Lá em cima, nas barras de metal que ficavam acima do fosso, nós pudemos ver um facho de luz e vozes exacerbadas. Alguém entrou na sala gritando com o outro. Escutamos metal batendo em pedra, passos nervosos de um lado para o outro e, numa fração de segundos, o tumulto se tornou ainda maior.

Uma forte explosão pôde ser sentida por nós, poeira caia das paredes e a luz lá em cima havia se apagado. O chão tremeu com a explosão e ela parecia ter ocorrido não tão distante de nós. Ficamos parados, distante da porta por um instante e, após alguns momentos, o silêncio voltou a reinar no local. Porém, não era um silêncio normal, era um silêncio sepulcral. Nós só conseguíamos escutar nossa própria respiração e nada mais.

Chegamos próximo à porta, e para nossa felicidade, as dobradiças haviam sido afetadas pela explosão, estando um pouco soltas de sua base. Nós três colocamos força para tentar deslocar a porta, mas Meredith mostrou ser mais uma vez muito habilidosa. Em poucos instantes do trabalho dela na porta, as dobradiças se curvaram ao seu desejo e a porta veio ao chão, com um forte barulho oco ao chegar no chão.

Tudo estava bem escuro, exceto por uma luz no lance de escadas acima. Agora que estávamos sem as vendas, eu pude perceber que fomos levados para um calabouço mesmo, mais de 40 degraus nos separavam da próxima sala. No meio das escadas, enquanto subíamos, vi uma porta e decidimos nos separar. Eu e Meredith pegamos o caminho da subida e Cyob e Krutnar foram pela porta que achamos.

Ao chegar na sala que finalizavam as escadas um grande salão se mostrou. Ele possuía colunas de pedras sustentando o teto e por todo ele tochas estavam espalhadas pela sala. O estranho foi que as chamas que bruxelavam eram azuis, profundos tons azuis muito lindos por sinal. Fui me dirigindo até uma dessas tochas e pude observar que mais no fundo do salão algumas portas existiam, mas eram portas de madeira com barras de metal, como em prisões. Todas elas estavam no chão no momento e ninguém podia ser visto lá dentro.

Com intenção de explorar melhor o lugar, eu e Meredith pegamos, cada um uma tocha e assim que a retiramos de suas bases círculos e pentagramas no chão começaram a brilhar. O azul das tochas tremeluziam e apagaram, enquanto que a iluminação do chão revelava chamas azuis formando símbolos que eu não conhecia.

De forma ainda mais surpreendente pedaços de carne pareciam surgir no meio desse local. Carnes que não representavam exatamente parte nenhuma do corpo mas que começavam a se juntar e formar um ser gigante, de quase dois metros e meio e que, com um grito de agonia extrema, esmurrava o chão para finalizar sua construção, fazendo todo o local tremer como o terremoto que havia ocorrido. O monstro gigante se formou e então nos encarou. Eu não sabia muito o que fazer. Ele possuía mãos que se me agarrassem conseguiam me quebrar como a macarrão, sem nenhuma dificuldade. Os pés gigantes, que se me pisasse fazia um patê de Liam. Mas, o que mais chamou a atenção, foi o rosto. Não havia qualquer similaridade com um rosto humano, mas os olhos eram de uma profundidade, de uma dor incomensurável.

Este ser então começou a correr par cima de nós e, o que só nos restava fazer era fugir dele e tentar não nos queimarmos no processo. Desviamos muitas vezes da investida dele, e uma delas inclusive fez cair um pedaço do teto após destruir uma das vigas de sustentação. Eu não sabia mais o que fazer, estava bem cansado, mas foi ai que vi Meredith chamando minha atenção, pedindo para eu fugir. Tá, eu não sabia onde deveria me enfiar, então corri para as jaulas que tinha percebido antes e tentei me esconder por enquanto que o gigante de carne partia para cima dessa mulher louca.

Não vi direito o que aconteceu, mas quando dei por mim, um grande barulho ocorreu, o gigante de carne acabou caindo pela escada da qual saímos e eu e Meredith estávamos correndo para entrar na porta que meus colegas foram enquanto o gigante não levantava para tentar nos matar novamente. Pelo tamanho da porta, ele não teria como entrar, mesmo assim.

Corremos e gritamos por Cyob e Krutnar e, quando viramos um corredor, demos de frente com eles, que traziam nosso equipamento e você diário, que me deixou bem feliz. Relatamos a eles o ocorrido e Cyob disse que encontrou um local que podia ser uma saída desse ambiente. Seguindo ele, parei e analisei que dessa vez eu fui...


Liam, o quase queimado.

Os passos em NemunusOnde histórias criam vida. Descubra agora