05 - Sangue e Dedo

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Após a saída de Aubof coloquei aquelas palavras da última vez, mas hoje um tempo maior foi necessário para que tudo se acalmasse e eu pudesse escrever, principalmente porque você e meus outros pertencer não estavam comigo. Foi uma sorte Orcs serem burros e não saber ler.

Mas, retornando ao ponto que paramos da outra vez. Aubof foi libertado e ficamos lá na frente da caverna onde havíamos encontrado ele. Pensamos bastante sobre as palavras que ele queria dizer mas nada fazia sentido para nenhum de nós três. Dormimos tranquilo aquela noite, revezando como sempre a sentinela para não sermos surpreendidos.

O clima era propício para descansamos mais que o normal, o dia demorou a raiar e quando acordei Krutnar já havia feito um ótimo dejejum (dou graças a Deus termos ele conosco). Próximo havia um braço do rio que passamos a uns dias e lá nos lavamos, já que o cheiro das roupas depois do banho de sangue não estavam do melhor. Durante nosso asseio escutamos alguém se aproximando e conhecemos a Meredith, uma mulher esguia, bonita e com um decote tremendo fazendo contraste com sua longa rapieira no cós de suas vestes.

Ela se apresentou como uma aventureira que fugiu de sua vila e estava a procura de algo novo em sua vida, fiquei pensando em como ela é louca, principalmente por ver como esse mundo tratava as mulheres, não que fosse muito diferente do meu, mas aqui elas eram tratadas como mercadoria, de forma clara e escancarada. Fora que respeito era algo que não se conseguia ver para com elas.

Até que os meus dois companheiros a trataram bem, acho que o Cyob ainda mais pois ela meio que se jogava para ele nas falas. As segundas intenções pareciam estar rolando de forma intensa. Mas durante nossa apresentação fomos interrompidos por novos guardas Orcs que vinham pelo caminho da ponte ao qual passamos. Haviam três e eles partiram para cima de nós sem nenhuma preparação. Creio que pela sua estupidez, não conseguem gerar nenhuma palavra a não ser "Ahhhh" e correrem para atacar.

Minhas aptidões com a espada estavam melhorando. Me tornei mais seguro em como brandir ela e vi meus companheiros fazerem um belo trabalho derrubando um dos brutamontes. O que mais me espantou, e quase me custou um pedaço da orelha pelo Orc ao qual eu lutava, foi ver Meredith sendo extremamente habilidosa com sua espada. Parecia que o cara tinha virado uma esponja de tanto furo que ela conseguiu realizar nele. Só que uma esponja ao contrário, já que jorrava um líquido espesso e negro por cada buraquinho realizado. O meu oponente perdeu o foco ao ver seus companheiros caindo e foi ai que me aproveitei novamente e atingi ele no calcanhar, o fazendo cair de joelhos e fincando minha espada em suas costas.

Observando a desenvoltura de Meredith e seu desejo por viajar, acabamos a convidando para estar conosco, assim melhorando a proteção que poderíamos ter durante a aventura. Lembrei que o dia exato não era do meu conhecimento e ela informou que já era o 3ª Estandarte. O bilhete veio novamente em minha mente e todos percebemos que o dia ao qual ele remetia estava mais próximo. Explicamos a Meredith o que estava por vir e onde era necessário chegar. Ela disse que não conhecia tão bem as proximidades da Floresta dos Primeiros Filhos, mas até a entrada poderia ser de grande ajuda pois conhecia o caminho até lá.

Todos nós já tínhamos arrumado nossos equipamentos, as roupas já haviam secados graças aos fortes ventos que esse mês trazia e só nos restava agora empacotar tudo e seguir ao norte, para encontrar este bendito ponto de encontro delimitado no mapa. O início da tarde já era presente quando demos os primeiros passos para sair da região porém paramos de sopetão. Uma trompeta ecoou por todo o vale que nos encontrávamos e um local que eu pude observar que seria bom para saber de onde vinha esse som era do topo da entrada da caverna do dia anterior.

Subi lá, Meredith com uma agilidade incrível veio ao meu lado e vimos um exército marchando em nossa direção. Parecia um show lotado de pessoas, orcs e bichos medonhos, mas todos bem enfileiradas, seguindo corretamente alguns cavalos a frente. Eu conseguia ver um cavaleiro que se destacava. Possuía um alazão branco perolado, totalmente contrastante com todos os outros bichos presentes no vale mais a diante. Um elmo e armaduras totalmente negras e uma grande lança estava sendo levada ao lado do cavalo. Ele demonstrava ser bem imponente e todos só realizavam passos após sua autorização.

Ficamos em silêncio por um tempo para observar um pouco mais o que eles lá estavam fazendo. Quando decidimos descer para contar aos outros dois não encontramos mais ninguém. Era como se tivessem sido abduzidos por algo. Fiquei um pouco em pânico. Estava começando a confiar em Cyob e Krutnar, mas ficar assim, sozinho com uma mulher que nunca vi, e sem ninguém que pudesse me dar uma real proteção, tremi nas bases.

Dei a ideia de retornar ao local e, ao espiarmos novamente, vi os dois sendo levados para próximo do cavaleiros do alazão branco. Atrás deles vinham outros 4 cavaleiros portando arcos retesados diretamente para as costas dos dois. Percebi então que o barulho da corneta deveria ser para chamar a atenção enquanto batedores procuravam aqueles que estivessem por perto. Fiquei sem ação frente aquela situação. Meus amigos presos, eu sem condições de os salvar e eramos dois contra um mundo.

Meus amigos foram conduzidos até o cavaleiros negro e ajoelhados, seus pertences foram tirados e as armas confiscadas. Uma carroça que estava entre o exército estava se aproximando e lá foi colocado o material. Já havia avistado então meu local de ação. Tudo já estava sendo planejado na minha mente e eu havia compartilhado com Meredith como poderíamos chegar até lá, porém, como um trovão rachando todo o mundo, meu nome e o dela são chamados. Espadas são apontadas para a garganta dos meus dois companheiros e a única coisa que eu podia fazer era me reder. Meredith ainda pestanejou, mas mostrando ser muito mais corajosa que muitos homens, se colocou frente àqueles algozes que nos chamavam.

Descemos o monte e fomos nos encontrar frente ao cavaleiro negro. Ao chegarmos perto nossas armas e mochilas foram arrancadas e pude ver uma surpresa, Aubof estava sentado atrás do cavaleiro. Ele desceu então e falava com sua voz esganiçada "quebraram base", "mataram amigo", "nojo de sangue". Enquanto Aubof falava com ar de autoridade para o cavaleiro, percebi que Meredith tentou chegar no cavaleiro e lhe tirar a vida, mas com a ardilosidade do kobold, ele avisou o homem sobre o cavalo, mas esse não se deu nem ao trabalho de se mexer. Como se o ar tivesse tomado corpo, o vento empurrou Meredith ao chão e quando a olhei, vi sua mão sangrando intensamente e ao seu lado algo muito molhado de sangue. Não foi necessário mais que dois segundos para perceber que aquele vento havia impedido ela de chegar no cavaleiro e arrancado seu dedo da mão, que agora jazia em seus pés.

Pensei que jamais conseguiria você de volta diário, pois não consegui te manter comigo, já que você estava na mochila. Ainda mais, pensei que jamais teria vida de volta depois do olhar gélido que o cavaleiro nos deu. Ele se apresentou sem muita empatia porém muito pomposo, disse que era Merok, um serviçal da Unidade e ali estava para manter o mundo puro. Vendo o impuro Cyob capturado, ele jamais perdoaria quem fizesse aliança, com a "raça de escória" pelas palavras dele, e irá purificar as nossas quatro almas com um sacrifício aos deuses. Percebi claramente que estava em maus lençóis e isso só tendia a piorar. A mão de Meredith não parava de sangrar e ai fomos amarrados junto a carroça. Merok solicitou um pequeno grupo para nos acompanhar, enviou também um curandeiro que colocou ervas na mão de Meredith e nada mais, e ordenou aos nossos guardas que nos conduzissem para a casa da união.

Enquanto eles se dirigiam ao Sul, fomos levados para o Norte, juntamente com seis guardas, um cavalariço e um cavaleiro em vestes púrpuras. Nada conversavam conosco, mas pude ouvir pela fala de um dos guardas que estávamos voltando para a "base", o que eu suspeitava ser o ponto que já queríamos chegar. O que nos faltava agora era paciência e esperança que tivéssemos sorte de reaver todos os nossos pertences. Nessa hora percebi que eu era:

Liam, o amarrado (continuo a explicação de como consegui meu diário de volta na próxima oportunidade de parar um pouco).

Os passos em NemunusOnde histórias criam vida. Descubra agora