Solidão.

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Será que cinco da manhã é muito cedo para ligar? Acredito que seja socialmente correto, apesar de ainda estar escuro. Ando de um lado para o outro na cozinha, observando o ponteiro do relógio a cada minuto. Imagino Camila deitada no sofá dormindo como um anjo, e essa é a única razão de eu não ligar.

Às seis da manhã, depois de comer uma barra de cereal e tomar minha segunda xícara de café, não resisto. Com as mãos trêmulas começo a digitar:

— Oi, Camila, vamos tomar café da manhã juntas? Tô morrendo de vontade de comer panquecas, e você?

Sim, acho que ficou legal, mais casual... não como se eu estivesse babando e obcecada com a ideia dela e do Major juntos fazendo planos para o casamento. Talvez eles já estejam até na internet registrando a lista de presentes numa daquelas lojas chiques.

Coloco o celular bem no meio da mesa da cozinha e fico olhando para ele nos próximos quinze minutos. Não recebo nenhuma resposta.

Às oito e quinze eu já estou pronta para ir para o trabalho, mas estou um pouco nervosa. Sim, só um pouquinho. Eu já fiz até um buraco no tapete que fica entre o corredor e a porta de tanto que andei. Talvez ela tenha perdido o telefone. Eu nunca ouvi ela dizer que tinha perdido alguma coisa antes, mas pode acontecer. Não é impossível. Antes de entrar no carro ligo mais uma vez para ela, lembrando que se ela perdeu o telefone não vai me atender.

— Oi, Camila, você está livre no almoço? Tem um lugar bem bacana no Lago Toluca e queria te levar. Que tal meio-dia, ou melhor ainda, onze e meia?

Muito bom, foi uma mensagem normal. Agora preciso encontrar um lugar bem bacana para levá-la e não pode ser o Taco Bell. Acho que ela não almoça antes da uma da tarde, mas vou ficar literalmente alucinada se não conseguir vê-la logo.

Quando chego na garagem vejo o carro do Major, mas não o da Camila.

Será que ela veio com ele? Ou ele a deixou amarrada, drogada e trancada dentro do sótão e essa é a razão de ela não me retornar? Penso até em bater no porta-malas para checar se ela não está presa lá dentro. Acho até que minha reação é normal levando em consideração que a última vez que ela não me ligou de volta foi quando tinha sido raptada e forçada a ir para Santa Barbara e sofrido uma lavagem cerebral.

Assim que chego na minha mesa, antes mesmo de abrir minha mochila, pego o telefone e ligo.

— Oi, Morgan.

— Olá, Lauren. Como você está?

— Olha, só queria agradecer mais uma vez sua ajuda no sábado. Obrigado mesmo.

— Fico feliz em ajudar — ela responde. — Então, está tudo bem?

— Sim, estou bem. Só queria saber onde está a Camila. Ela já chegou? Eu queria perguntar uma coisa.

— Não, ainda não chegou, ainda é meio cedo para ela. Você quer que eu a avise que você ligou?

— Sim, por favor... assim que ela chegar.

Às nove e meia saio escondida e vou até o estacionamento novamente. Nada do carro dela. Exatamente às nove e quarenta e cinco mando outra mensagem:

— Oi, Camila, algum problema com o carro? Quer uma carona?

Nada.

Às dez e vinte Morgan me liga.

— Ela acabou de ligar e não vem trabalhar.

— Ela disse por quê?

— Não, mas me pareceu muito estressada. Você conseguiu falar com ela ontem?

Dear To Me. [Camren | Intersexual]Onde histórias criam vida. Descubra agora