Corações quebrados.

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Estou com muito sono. Apareço amanhã por aqui pra revisar tudo certinho.


No sábado pela manhã, começa a passar um filme que batizei de "Fiasco do Smokehouse" na minha cabeça. A pior parte que vai me acompanhar a vida toda é a expressão de horror no rosto de Camila, a boca aberta, quando revelei minha deficiência sexual. Eu deveria até colocar um sinal de néon na testa dizendo: Babaca. E a revelação de que ela foi criada num ambiente completamente sexual, praticamente a poucos metros de um bordel, não ajudou em nada.

Acabei não falando a ela sobre toda a farsa do romance com Mani, e pior, ainda concordei com uma trepada de misericórdia, pois só assim ela vai poder prestar a ajuda necessária e completar as horas de trabalho voluntário para os membros dessa comunidade de pessoas sexualmente arruinadas, da qual sou uma associada antiga.

Só rastejo do meu casulo para pegar um pouco de cereal. Depois de voltar para a cama, ligo a TV e começo a assistir à maratona do Bob Esponja que está passando no canal Nickelodeon. A esponja feliz usando shorts bem curtos é, no momento, a única coisa que me faz não entrar em pânico. Meu telefone toca logo depois do meio-dia e, graças à minha natureza curiosa, atendo.

— Oi, Lauren, que diabos está acontecendo com nosso encontro hoje à noite? Você nem me ligou.

— Me perdoe, Mani — murmuro.

— Se você quer cancelar nosso acordo, tudo bem. Só preciso saber porque eu não vou ficar em casa hoje de jeito nenhum e minhas amigas vão sair para dançar.

Não posso dar uma mancada.

— E se a gente fosse ao cinema?

— Você está pagando, certo?

— Claro que sim.

— Isso é praticamente raridade nos dias de hoje. Bom pra você aposto que Camila vai adorar essa qualidade.

— De verdade?

Minha cabeça começa a latejar. Como é que eu vou conseguir manter esta farsa?

— Então, eu posso te pegar na sua casa às sete horas? — pergunto. – Nós podemos comer alguma coisa e pegar a sessão das nove.

— Perfeito! — ela confirma.

Até que não foi um primeiro encontro ruim, apesar do fato de não ser realmente um encontro. O filme foi péssimo e derramei minha pipoca. Pelo menos a comida no mexicano estava boa e Mani contou vários casos amorosos entre o pessoal do trabalho de que eu não tinha ideia. Aparentemente, tem alguma coisa errada com o sistema de ventilação, uma vez que a luxúria e o desejo estão voando em todo o ambiente, em cada show. E eu sem a menor noção de nada, até que alguém escreva e me mostre. Até mesmo Kevin esta saindo com Beatrice da turma de edição. No final da noite, ao levar Mani até a porta, começo a rir.

— O que foi, alguma coisa engraçada? — ela pergunta, confusa.

— Bem, Camila está me ensinando que é importante dar um beijo de despedida depois do nosso encontro. E este é um momento quase irônico.

Ela coloca as mãos no quadril e diz: — Peraí, você disse que não iria rolar beijo sério e nem muitas demonstrações de afeto?

— Calma, não vou te beijar.

— Por que você não diz a Camila que se apavorou e precisa de mais treinamento?

— Sim, talvez eu faça isso mesmo — respondo. Se eu conseguir olhar para ela um dia, solto um gemido por dentro. Abraço Mani e digo: — Muito obrigada por tudo.

Dear To Me. [Camren | Intersexual]Onde histórias criam vida. Descubra agora