A noite é muito longa e fico com o celular agarrado numa mão e um copo de uísque na outra, perambulando pela casa. Pareço até um fantasma, perdida na minha dor latejante, e temo só de pensar em perder a vida que sempre sonhei. Vejo a Camila em todos os lugares... uma imagem dela brilhante me assombra. Mas cada vez que chego perto e tento segurá-la, vejo que é só minha imaginação.
Na manhã seguinte, a luz da manhã machuca meus olhos, levanto cambaleando até chegar na pia do banheiro. Que dia é mesmo hoje? Ah, sim é terça... um dia depois do pior da minha vida. Olho no espelho e fico até grata por a Camila não me ver. Se ela tivesse ainda alguma dúvida, seria o fator decisivo.
Apesar do meu conflito interior, atendo meu pai no telefone. Só que minhas respostas de zumbi não o deixam muito satisfeito.
— Lauren. Para com isso. Você comeu alguma coisa ou só alimentou seu estado etílico ontem à noite?
— Você realmente quer saber? — eu pergunto desanimada.
— Filha, estou indo para sua casa. Tenho boas novidades. O Walter ligou e eles não vão processar a questão do assédio. Sua namorada os convenceu ontem de que tudo o que aconteceu foi consensual e que foi ela quem incitou o comportamento mais agressivo. Ela disse a eles que queria muito transar com você, enquanto estava estirada na mesa de reunião.
— Pai, para. Eu não quero ouvir isso. — eu nem me sinto aliviada por Camila ter arriscado sua reputação profissional por mim.
— Bom, estou extremamente confiante de que esse fato predatório já tenha sido esclarecido. Será que você não aprendeu nada comigo sobre riscos, minha filha? Da próxima vez, analise com cuidado os obstáculos comparados ao estágio temporário de euforia física. Você vai perceber a grande diferença e sair ganhando sempre.
— Sim, eu sei que sou uma idiota. — resmungo. — Terminamos?
— Você ainda está bêbada?
— Talvez.
— Tome um banho e se apronte. Estou a caminho.
Minutos depois escuto a campainha da porta. Esse barulho insuportável precisa parar. Depois percebo que não é a porta, e sim meu telefone e atendo.
— Lauren?
— Sim, Walter?
— Preciso sentar com você e analisar todo seu trabalho e procurar exemplos de como você estava desenvolvendo esses personagens muito antes de começar a trabalhar na República do Rabisco.
— Só comecei a trabalhar nisso depois que já estava empregada lá.
— Não acho que você está me entendendo, Lauren. Você quer ganhar ou não?
Quando desligo parece que levei um choque de realidade. Se quero ganhar? Ele está brincando? Tenho que ganhar.
Apesar do meu desespero, ainda não abri mão do fato de que a Camila e a Garota-C são tudo para mim. Sento na cadeira da sala e imagino minha vida sem as duas garotas mais importantes da minha vida e quase não consigo respirar.
Levanto, pego o telefone e decido deixar uma outra mensagem na linha fixa da casa dela.
— Camila, se você um dia voltar para casa e escutar esta mensagem, e se realmente se importa com o que penso, por favor me liga? Achei que era para valer, eu e você, amor verdadeiro e tudo o mais. Agora você se foi e estou perdida. Estou morrendo aqui. Me liga?
Meu pai me encontra no jardim, estou sentada numa cadeira vestida com meu pijama do Scooby Doo. Uma garrafa quase vazia de Jack Daniels está bem do meu lado no chão, mas, no momento, minha bebida é a garrafa de água na minha mão. Eu dou uns goles e fico encarando um arbusto.
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Dear To Me. [Camren | Intersexual]
FanfictionLauren não possui uma conquista para se orgulhar, tem 20 e poucos anos, é fã de quadrinhos e alimenta uma paixão secreta por sua colega de trabalho, Camila, de 33 anos. Sem esperança de sequer ser notada pela mulher dos seus sonhos, Lauren começa um...