Dia não tão comum

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Estava em um sono profundo tão bom quando começaram a sacudir seu ombro. Voltou a cobrir a cabeça com o lençol sem nem ao menos abrir os olhos. Por que sua mãe não o deixava dormir por mais algumas horas? Tinha sido uma péssima ideia dar uma cópia da chave para aquela mulher tirana.

"Papaizinho, acorda. Telo fazê totô."

Ah, não! Será que se fingisse de morto a menina o deixaria em paz? E o que ele tinha a ver com as necessidades fisiológicas alheias?

"Vai no banheiro e senta na privada." A voz grogue ordenou para a garotinha, que continuou a sacudi-lo. "Depois pega o papel e limpa o bumbum."

"Num conxigo sentá xozinha, papaizinho. quase xaindo."

Furioso por ter seu sono interrompido e sabendo que não poderia voltar mais a dormir, Jared jogou o lençol para o lado e pulou da cama pegando a garotinha como se fosse um simples saco de batatas murchas. Adentrou o banheiro, levantou a tampa do vaso e a ajudou a tirar a calcinha molhada antes de sentá-la. Saiu dando privacidade à garotinha e com um suspiro puxou os lençóis da cama só para comprovar que estavam molhados.

Seu colchão de quatro mil dólares e apenas dois meses de uso estava arruinado. Fechou os olhos em busca da paciência de Jó para não surtar.

Ela é só uma criança. Ela é só uma criança. Ela é só uma criança. Recitou seu mantra da paciência.

Deveria ter comprado fraldas descartáveis. Mas como saberia que uma menina de quatro anos ainda mijava na cama? Sua mãe ou Hugo ao menos poderiam tê-lo alertado sobre a necessidade de comprar fraldas descartáveis, para a menina usar durante a noite.

"Papaizinho?" Com um mau-humor matinal do cão, Jared voltou ao banheiro e encontrou uma confusão de papel higiênico no chão, uma  Esther nas pontas dos pés tentando apertar o botão da descarga. "Num dô conta, papaizinho."

"Sai daí, menina." Afastou-a, abaixou a tampa do vaso e puxou a descarga. "Você por acaso comeu um urubu?"

"Eu num comi uburu, não, papaizinho."

Esther o olhava sem nada entender e Jared apenas a mandou tirar o vestido e entrar debaixo do chuveiro para tomar um banho. Encheu a mão dela de sabonete e mandou lavar a borboletinha e o bumbum. Não se aventurou em lavar os cabelos dela, já que tinha apenas um shampoo, que doía infernalmente quando caía nos olhos. Não estava com paciência para aturar o choro da menina logo pela manhã. Enxugou a pequena com a toalha, não era preciso dizer que os longos cabelos dela estavam uma completa confusão.

"Vai lá na sua bolsa e pega uma roupa e vista. Vou banhar agora." Empurrou a menina para fora do banheiro e fechou a porta. "Meu Deus, que pecado tão terrível cometi para estar passando por isso?"

Reclamou retirando a calça moletom e se jogando sob o jato frio de água. Quando saiu do banho quinze minutos depois, encontrou Esther sentada no tapete somente de calcinha, conversava baixinho com o urso feio e sujo. Não deu muita atenção àquilo e foi para o closet se preparar para mais um dia de trabalho. Tinha duas reuniões muito importantes naquele dia e teria que levar a menina com ele para a empresa. Bufou irritado enquanto fazia o nó da gravata, olhando-se no espelho.

Deixaria Zoé responsável por entrevistar e escolher uma babá adequada para a menina. Sua eficiente secretária sempre sabia o que deveria fazer.

Encontrou Esther ainda no mesmo lugar e após pegar um short jeans - que um dia deveria ter sido vermelho - e uma blusa branca com desenhos de ursinhos, ajudou Esther a se vestir e mandou que ela calçasse as sandálias e o acompanhasse.

Uma família para a Esther (COMPLETO) ✔✅Onde histórias criam vida. Descubra agora