O que ela está fazendo com ele?

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Odiava os benditos trajes black tie e, principalmente, aquela maldita gravata borboleta apertando seu pescoço. Comparecer em eventos da alta sociedade e confraternizar com pessoas falsas e mesquinhas nunca foi seu passatempo preferido, mas era uma de suas obrigações como vice-presidente da Luxel Hershlag. Olhou-se no espelho, conferindo se estava tudo em ordem antes de ir para o quarto ao encontro da pequena Esther deitada na cama, agarrada ao urso feioso. A chamou, já pegando a mochila abarrotada de roupas para levar Esther para a casa dos pais. Por algum milagre, sua mãe tinha aceitado ficar cuidando da neta por aquela noite, enquanto ele participava do jantar beneficente.

"Tá cheilosinho, papaizinho." Esther o abraçou pelo pescoço quando a ergueu nos braços. O urso feioso preso entre os dois. Nem mesmo com várias bonecas novas, a menina deixava o tal Fofinho de lado. "É bunito como o plíncipe da Babi."

"Lembra que eu disse que hoje você vai dormir na casa dos seus avós?" Jared perguntou quando as portas do elevador se abriram, já na garagem.

"Na cajona da vovó Janete e do vovô Giovanni. Vai domir o Fofinho, a Esther, a rainha da pécia e o papaizinho." Mais uma vez a menina o estava incluindo no pacote. Esperava que ela não chorasse e fizesse birra quando percebesse que ficaria sozinha com os avós. "Eu e o Fofinho ama muito o papaizinho cheiloso."

Jared sentiu o impacto daquela declaração diretamente no peito, ao ponto de a apertar com mais força entre seus braços. Como Esther era capaz de amar alguém tão cheio de defeitos como ele?

Sem saber o que dizer, Jared pigarreou e a ajeitou na cadeirinha. Já sentado no banco do motorista, colocou a playlist para tocar e surpreendeu-se quando Esther começou a cantarolar Imagine, na sua linguagem meio torta e confusa. Como uma criança daquela idade conhecia uma das músicas mais melancólicas e profundas de todos os tempos? Abaixou o volume do som ao perceber que ela tinha parado de cantar e agora estava sussurrando algo para o Fofinho, balançando-o, como se o ninasse.

"Dome caladinho e rapidinho, Fofinho. Num tá esculo." Foi a única coisa que a entendeu dizer.

Procurou no YouTube uma lista de músicas infantis e colocou para tocar para a felicidade de Esther, que soltou um gritinho de felicidade ao escutar a tal da Galinha Pintadinha e o Galo Carijó, a galinha usa saia e o galo paletó.

Insuportável? Não, imagina. Só fazia seus ouvidos doerem.

Felizmente, a casa de seus pais não era distante da sua e em quinze minutos atravessava os grandes portões brancos da residência onde viveu os melhores e mais felizes anos de sua vida. Quando passou pela porta de casa carregando Esther no colo e a mochila na mão, por pouco não caiu quando suas pernas foram agarradas por um pequeno foguete.

"A Ithé chegô, oba!" O gritinho de Alex fez Esther se remexer no colo do pai. "Pliminha chegô pa bincá com eu e o Gabe."

"Alechi!!!" Ao ser colocada no chão, Esther e Alex se abraçaram com força, cheios de felicidade por estarem novamente juntos. "Tava com xaudade de eu também?"

"Tava pliminha. Tôxe um monte de cainho coloido pa nós bincá com o Gabe o Dani."

Jared sorria enquanto observava a interação entre as duas crianças. Não tinha dúvidas que uma irmandade já tinha sido formada entre os primos. O que era muito bom, já que Jared não pretendia dar nenhum irmão para Esther, os primos serviriam para ocupar o cargo de protetores e melhores amigos da única garotinha da família.

"A bebê bonita da vovó chegou!" Janete cantarolou indo de encontro a neta. Pegou-a no colo e beijou as bochechas da linda garotinha tão parecida com o filho caçula. Olhou para Jared, medindo-o dos pés a cabeça e balançou a cabeça aprovando o que via. "Isabelle e Liam deixaram as crianças aqui para irem ao jantar. Tenho certeza que será uma noite muito... interessante."

Uma família para a Esther (COMPLETO) ✔✅Onde histórias criam vida. Descubra agora