Agnessa, Erysimun
Perdoe-me, não fui forte o suficiente, permiti que o mal se apoderasse de mim.
Assim que chegamos ao Castelo, corremos para a masmorra, deixando nossos cavalos junto aos guardas da primeira torre. Antero me ajudou a descer e tomamos rápido o rumo do local onde ficavam as celas principais.
— Não quero nem imaginar a reação de nosso pai ao ter visto o feiticeiro — comentei.
— Foi necessário.
— Antero, tu sabes que o papai é contra o tipo de magia que ele pratica. Na verdade, a única força sobrenatural que permite dentro do castelo é a da chave e, com muitas restrições, as poções e encantamentos de Levi.
— Minha irmã, tens de aprender o quanto antes que as vontades de papai não são sempre corretas. Daqui a alguns dias, quem terá de querer ou não outras magias aqui és tu — replicou enquanto desciamos as escadas.
— Pretendo seguir as leis que ele impôs. Deixar meus desejos escondidos e levar tudo conforme ele e mamãe têm levado durante todo esse tempo.
— Uma rainha deve cumprir seus deveres, Agnessa. — Segurou em meu braço. — Não deixe que teus medos a impeçam de fazer o melhor para o povo.
— Esqueça! Vamos logo, pois sinto que pode haver uma desgraça se não chegarmos a tempo.
Corremos apressados até o corredor escuro repleto de guardas. Ouvimos a voz de Ícaro, era lá que o feiticeiro se encontrava.
Dentro da cela estava meu pai, andando de um lado para outro como nunca havia visto. O curandeiro ao lado da cama e o mago com um pergaminho em mãos.
— ANTERO! O que tendes na cabeça, meu filho? — Meu pai caminhou até nós. — Tu estavas ciente desta loucura, Agnessa?
— Eu juro que não sabia de nada, o encontrei enquanto cavalgava.
— A culpa é minha, pai! — Meu irmão deu um passo à frente. — Se me permites, irei terminar o que comecei. — Desviou do grande rei enfurecido e foi até a cama. — Como ele está, Lorenzo?
— Bem, Alteza. Levi não achou nada além de mal estar físico. Não tem nada de sobrenatural nessas dores. Irei tratá-lo com algumas ervas que preparei e creio que amanhã já poderá ser interrogado.
— Perfeito!
— Perfeito, Antero? Só podes ter batido a cabeça em alguma pedra. Não há outra explicação. — Meu pai se aproximou dele.
— Tu não vais começar com esta história de novo, eu sei o que estou fazendo!
Ícaro conversava com o mago no canto, eu observava a discussão e também a prosa enquanto o feiticeiro se contorcia de dor sobre a cama. Tudo aquilo fazia minha cabeça pesar, me deixava tonta.
— CHEGA!!! — Minha voz ressoou pelo cômodo. — Estão me deixando enlouquecida! Antero, por favor, da próxima vez, pergunte antes ao nosso pai sobre qualquer decisão. Papai — Voltei o olhar a ele —, meu irmão sabe muito bem o que está fazendo e arcará com possíveis consequências provindas dos seus atos. — Caminhei até o lado da cama. — E tu, deixes de exageros, não estás com tanta dor quanto parece.
Ao ouvir meu grito, o homem arregalou os olhos e tirou as mãos da barriga, percebi seu fingimento.
— Amanhã serás interrogado e permanecerás aqui embaixo,
para que ajudes meu irmão no que for necessário. — Respirei fundo. — Ícaro, tu vens comigo, vamos levar os cavalos para o estábulo.Virei de costas enquanto todos eles me encaravam com surpresa.
— AGNESSA! — Era meu pai.
— O que queres? — respondi com altivez, por cima dos ombros, sem encará-lo.
— Eu e sua mãe decidimos o dia da coroação. A esperamos mais tarde em nossos aposentos — falou em um tom mais brando.
— Como queira. Agora preciso levar Oliviana. Com licença.
Saí segurando o vestido e ouvi passos atrás de mim, era o domador. Ele pigarreou e, em seguida, tomou coragem:
— Alteza. Estás bem?
— Melhor, impossível — respondi, ainda com a entonação alterada.
— Tens certeza?
— Ora! — Parei de subir as escadas e o encarei no degrau abaixo. — Até tu? Faça-me a gentileza de me acompanhar calado e só — falei como nunca antes havia falado com Ícaro.
Era como se uma força maior me impulsionasse. Sentia algo em mim queimar como brasa, ao mesmo tempo era como se trevas envolvessem meu coração e minhas emoções. Sabia que tinha a ver com a entrada do feiticeiro no castelo. Infelizmente, preferia não ter razão sobre esse fato.
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Os Espinhos Do Trono {em Revisão}
FantasyA busca pelo poder é incessante. Ao final, o que todos querem é comandar, não obstante, o que a maioria consegue é desafeto, rancor e ódio. Em Erysimun, além de todo o poder sobre as pessoas, os reis também têm acesso à grande chave da aura, objeto...