Pés e mãos suavam, o coração palpitava forte, minha mente não sabia ao certo em que pensar. Que decisões tomar. Apenas caminhava pelos corredores do castelo, esperando ansiosa pela hora em que deixaria aquelas paredes escuras e chegaria perto de um rio pela primeira vez. Mais cedo, meu avô e eu conversamos sobre a coroação, decidimos os últimos detalhes, ensaiamos até os movimentos que faríamos da entrada à saída do cerimonial. Tudo tinha que ser perfeito, e para agradar meus pais, obedecia a tudo o que me mandavam fazer e dizer. Meu pai também me ordenou que estivesse pronta antes do jantar, para decorar o juramento da coroação.
Meu irmão estava ocupado demais experimentando suas vestes para a cerimônia, o que me deixava livre para sair sem todo o interrogatório.
Quando notei os raios solares aumentarem a sombra da segunda torre pela janela de uma das laterais do castelo, corri em disparada até o portão da frente. Já havia combinado com Giórgio a desculpa para meu sumiço repentino, e ele aceitou me ajudar.
Meu vestido cor vinho era um tanto pesado, mas bastava segurar sua saia para que pudesse andar depressa sem maiores problemas. Pus um diadema de safiras e deixei meus cabelos livres. Quando cheguei ao estábulo, notei que Oliviana não mais estava em sua baia, observei nas demais e percebi que o cavalo utilizado por Ícaro também não. Caminhei então até a parte lateral, e lá estavam: Ícaro, minha égua Oliviana e também o segundo animal alvo.
— Por um instante pensei que não viria — comentou, antes de me puxar pela cintura.
— Jamais lhe deixaria sozinho a minha espera — respondi e o beijei.
O domador então me ajudou a montar. Acariciei a crina da Oliviana e dei um beijo em seu pelo enquanto aguardava o rapaz estar pronto para sairmos.
A partir dali, Ícaro dizia o caminho, me guiava. A sensação de liberdade banhava minha alma inquieta e sofrida.
Nos afastávamos cada vez mais do castelo, e quanto mais longe, mais eu me sentia viva e feliz. Por momentos até pensei em nunca mais retornar, tão grande era o peso em minhas costas por toda a responsabilidade.
— Ag, é aqui — Ícaro comunicou-me, apontando para uma pequena trilha.
Direcionei então Oliviana até ela e nós cavalgamos mata adentro, até que pude ouvir o som da água. Era tão gostoso, sentia-me como nunca antes. Talvez tivesse medo tanto quanto meu pai e meu irmão, mas o domador me dava a coragem necessária para continuar.
Quando pude avistar a grande queda d'água, meus olhos brilharam encantados. Estava petrificada enquanto contemplava a magnitude daquela cachoeira.
— Meu amor, vem — Ícaro despertou-me, eu sacudi a cabeça e assenti.
Desci de Oliviana, e nós prendemos os animais em uma das árvores do entorno.
Em seguida, sentamo-nos em uma pedra, à beira da água. Podia sentir as gotículas que pingavam por conta do impacto, era surreal como uma coisa tão simples enchia meu coração de ternura e encantamento.
Aproveitávamos cada segundo, seus beijos pareciam mel, retiravam meu ar e deixavam apenas o doce de seus lábios impregnados em mim.
— Agnessa, eu vou mergulhar, se importa? — ele disse.
— Claro que não, podes fazer o que quiseres.
O rapaz então se levantou, me encarou com um olhar provocante e começou a desatar os nós que prendiam sua camisa. Algo dentro de mim acendeu como brasa.
— Ícaro, não vais...
— O que? Ficar nu? — indagou, rindo.
Rolei os olhos e assenti.
— Se for incomodar-te, eu...
— Não! Podes continuar, afinal não acho bom usar roupas molhadas depois — repliquei.
O domador, por sua vez, arrancou a camisa por completa, depois as calças. Eu, de olhos arregalados, fitava seu corpo e todos os seus trejeitos. Sim, ele estava nu em minha frente, e eu gostava da sensação de observar cada linha, cada traço do meu pedaço de paraíso.
Foi então que algo me ocorreu, uma coisa completamente imprudente e inconsequente, mas ainda assim, mais forte que toda minha sanidade.
Levantei-me e pus-me a desamarrar os laços frontais do meu vestido, senti o olhar de desejo lançado sobre mim.
— Princesa, não acho que seja... — Ele parou quando eu comecei a puxar as mangas, revelando meus ombros lentamente. — Agnessa, será que não é melh... — Mais uma vez ele engasgou com as palavras, engoliu saliva e respirou fundo.
Eu estava quase sem vestimenta alguma em sua frente, já era possível enxergar todo meu tronco despido. Não sei se por conta do feitiço, ou de minhas próprias motivações, sentia-me sem pudor algum. Não tinha vergonha ou timidez, apenas me sentia livre em me libertar de todos aqueles tecidos pesados. Eu gostava muito de meus vestidos, sim, eu os adorava. Mas naquele momento, eu só queria poder sentir as sensações únicas que só a pele de meu amado me proporcionaria.
Caminhei até ele, com cuidado. O domador já estava na água, coberto até a cintura. Senti todo meu corpo se arrepiar ao entrar em contato com o gélido. Mesmo com o frio do lado de fora, por dentro meu corpo queimava, sentia como se brasas ardessem dentro de mim. Era como ser jogada em uma caldeira fervente.
Quando já estávamos tão próximos que a respiração era sentida, os dedos de Ícaro tocaram minha pele devagar, um por um. Fechei os olhos e então senti sua mão forte pousar sobre minha cintura e puxar-me para perto.
— Minha Princesa. Eu lhe amo tanto! Quantos anos ansiei por esse instante.
Ele me beijou e me guiou até uma parte mais funda da água. Seus braços me seguravam para que não afundasse. Meu corpo branco já estava pálido por conta do frio, mas eu não queria sair dali. Experimentei afundar minha cabeça uma primeira vez, molhei meus cabelos e retornei à superfície para recuperar o fôlego.
Os lábios do rapaz a minha frente pareciam ainda mais convidativos, então eu o beijei, como nenhuma vez havia feito. Como se quisesse devorá-lo. Senti algo diferente em seu corpo, era bom. Eu não sabia exatamente a linha perfeita entre o certo e o errado, então tocava sua pele com um pouco de receio. Já ele, sabia bem o que fazia, acariciando-me e deixando-me cada vez mais entregue, repleta de fogo e paixão.
— Ag, tu tens certeza? — sussurrou em meu ouvido, em seguida desceu por meu pescoço com seus lábios molhados.
— Eu sou tua, Ícaro. Da mesma forma que és meu. — Olhei em suas pupilas e então senti que nada mais importava.
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Os Espinhos Do Trono {em Revisão}
FantasíaA busca pelo poder é incessante. Ao final, o que todos querem é comandar, não obstante, o que a maioria consegue é desafeto, rancor e ódio. Em Erysimun, além de todo o poder sobre as pessoas, os reis também têm acesso à grande chave da aura, objeto...