Capítulo I: Muito cedo para ser rainha

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— Princesa Agnessa, o rei a espera no jardim

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— Princesa Agnessa, o rei a espera no jardim. Presumo que queira falar sobre a coroação — comunicou-me Giórgio, braço direito de meu pai.

O homem de estatura mediana carregava algumas gotas finas de suor que desciam pelo seu pescoço, banhando o tecido de suas vestimentas escuras. O motivo da face molhada e vermelha era a corrida ensandecida que manteve para chegar aos meus aposentos, o mais rápido possível.

— Ora, por que razão não pôde esperar até o jantar, momento em que estaremos todos juntos? — respondi, observando sua imagem pelo espelho enquanto penteava os cabelos.

— Isso eu não sei lhe informar, alteza. Porém, peço que não desobedeça as ordens de seu pai e vá ao seu encontro, o mais breve possível — completou ofegante.

— Farei isso assim que acabar — repliquei.

Como princesa de Erysimun, nunca permiti que alguma das criadas me ajudasse com cabelo, roupas e adorno. Ser independente era algo que fazia eu me sentir diferente das filhas de outros Reis. Aliás, nunca me dei bem com nenhuma delas. Na verdade, preferia a companhia dos cavalos.

Terminei de me arrumar e gostei do meu reflexo. Usava um dos meus vestidos favoritos: Era azul, pesado, continha um sutil decote e amarraduras nas costas que contrastavam com o tom escuro de meu cabelo longo.

Caminhei pelos corredores do castelo, usando os atalhos que descobri por entre as paredes para cortar caminho.

Passei então pelo salão de festas e enfim cheguei ao jardim. Meu pai, o grande rei Demétrio, observava algumas gérberas. Sua coroa, sempre imponente, era deveras encorajadora e carregava o peso da responsabilidade.

— Papai — chamei-o, assim que o avistei.

— Olá, querida. — Estendeu sua mão. — Venha, quero lhe falar sobre algumas coisas.

— Onde está a mamãe? — perguntei enquanto segurava o vestido, me esgueirando pelas flores.

— Foi ao joalheiro real, ela está muito aflita pela chegada do cerimonial — comentou. — Mas parece que a grande homenageada não está muito contente com isso. — Fitou-me, esperando uma resposta sábia.

— Pai, eu não sei se estou pronta para tal feito. Digo, tu e a mamãe exercem tão bem a função. Sabem de cor tudo o que é preciso para que o reino continue em sua plenitude. Eu sou tão jovem, não tenho um marido para me auxiliar, penso que essa foi uma decisão precipitada de vossa parte.

— Querida... — Ele pôs a mão em minha face e afastou os fios de cabelo que caíam sobre ela. — Tu és a moça mais capaz de toda a redondeza. Certamente que os reis mais próximos ainda não estão prontos para passar a coroa à filha mais nova. Mas eu sim. Eu confio em ti, minha menina.

— Fico agradecida por demasiado com tanta confiança, mas não sei se posso cumprir todo o juramento da coroa. É muito para mim. Além do mais existe a... a... — Hesitei.

— A chave da Aura? — completou. — Já disse que é questão de tempo até conseguir tocá-la.

— Papai, lembra-te da última vez em que tentei adentrar a sala da Aura para fazer uso da chave pela primeira vez? Houve um desastre tão grande que quase ficamos sem castelo — ressaltei.

— Ora, tudo tem o seu momento certo. Há algum motivo pelo qual a chave ainda não permite ser tocada por ti. Mas garanto que muito em breve saberemos o porquê.

— Papai, eu sei o porquê. O senhor também sabe, tu só não queres admitir — repliquei exaltada.

— Já disse que tenho plena confiança em ti. Está decidido! Dentro de poucos dias, deixarás de ser princesa tornarar-se-ás Rainha de Erysimun.

— Mas, pai! O meu irmão é o primogênito, não eu! — Minha voz já dava sinais de choro.

— Seu irmão tem outras funções, que no momento são mais proveitosas ao Reino. Ele busca poções que curam até a mais mortal das doenças, precisamos disso.

— Antero conseguiu tocar a chave da Aura, ao contrário de mim, que quase destruí nosso lar. Quiçá o Reino inteiro.

Era uma tentativa falha de convencê-lo a voltar atrás em sua decisão e dar o trono ao meu irmão mais velho, Antero. Todas as nossas conversas acerca desse assunto terminavam da mesma forma: eu sozinha, em lágrimas, e ele enfurecido, mas ainda assim irredutível.

— Não digas tolices, Agnessa. Serás a melhor Rainha que esse povo já teve. Agora, por favor, trates de apressar sua mãe para mim. Precisamos decidir tudo para sua coroação.

— Ainda é cedo, papai — tentei persuadi-lo com uma lamúria emocionada.

— Quanto mais cedo começarmos, melhor.

O tom de sua voz em nada me agradava. Decerto que ele tinha seus motivos para querer-me no trono. Esperava apenas o momento oportuno para me tornar a rainha, e eu temia que seu "breve" fosse perto demais.

Saí de sua presença, minha face ardia. Escutei o relinchar dos cavalos ao longe, fechei os olhos e me permiti imaginar a imagem dos animais tão graciosos. Aquilo me acalmava.

Mesmo com o calor tremendo que fazia, abracei meu próprio corpo tentando me reconfortar, infelizmente, no momento, só poderia contar comigo mesma, e eu sabia que minhas fraquezas se revelariam tão logo como a chuva no inverno.

Observei o arco de pedra que circundava a entrada, era uma construção tão magnífica, tão frondosa, eu não era digna de ser a soberana de tudo aquilo. O medo me tomou de imediato.

Senti algumas folhas pequenas embaterem em minha face, provindas de algumas árvores da redondeza. Misturavam-se aos meus cabelos e, enquanto eu me controlava para não chorar, segui meu caminho. Conversar com minha mãe nunca fora tarefa muito fácil, meu temor era ainda maior em confrontá-la. Se não consegui convencer meu pai, certamente que não faria ceder a grande rainha Auriviana.

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