E sob a sombra daquela árvore, eu entendi o que realmente sentia.
Minhas mãos tremiam, o efeito que aquela conversa me causara estava acabando com o meu coração. Me sentia fraca, inútil, inábil para realizar qualquer tipo de liderança. Como governaria um reino inteiro se me deixava abalar por uma conversa estúpida?
Andava desorientada pelos corredores daquela imensidão que sempre foi o castelo de Erysimun. Respirava ofegante, meus cabelos ainda úmidos deixavam gotículas por meu colo já suado pelo temor. Não podia demonstrar o quão aflita me encontrava, contudo, era perceptível em meus olhos e gestos que havia algo de errado.
Decidi não comer absolutamente nada, nem ao menos procurar por meus pais. Precisava me acalmar. Peguei o caminho lateral oeste e saí. Desviei dos guardas da entrada e corri até o campo que havia bem ao lado do castelo, era um lugar enorme, havia algumas árvores frutíferas e um gramado baixo. Pertencia à nossa família, mas quase ninguém ia até lá, somente eu quando precisava me desvencilhar de todos e ter um tempo para mim, e meu irmão, que gostava de apanhar frutas frescas.
Quando cheguei bem ao lado da grande macieira, fechei os olhos e respirei com as mãos no peito, estava cansada por conta do vestido pesado e esgotada mentalmente por causa de tudo: Coroação, feiticeiro, profecia, magia proibida, responsabilidades e chave da aura.
Um passo em falso e eu colocaria tudo a perder, essa não era uma opção, não para mim.
Segurei todo o tecido da saia e me sentei ao pé daquele tronco enorme. Recostei minha cabeça e observei toda aquela imensidão repleta de folhas caídas e algumas frutas. Minha face ardia, eu precisava pôr para fora, externar todo aquele peso, aguentei tempo demais sem derramar nenhuma lágrima e aquilo me matava por dentro.
Meus lábios começaram a tremer e meus olhos a queimar, senti cada gota de água brotar em meus olhos, e doeu quando elas desabaram sobre minhas bochechas rosadas. Eu aguentei o máximo que pude, mas naquele momento descobri que era fraca! Não conseguia imaginar todo o mal que causaria ao meu reino e ao meu povo, se por ventura falhasse. Cada traço de minha feição se contorcia naquela dolorosa sinfonia que era o meu choro. Era apenas a princesa que sonhava em se casar, ter uma família e cavalgar tranquila, mas tudo aquilo foi quebrado.
Seria um tremendo desgosto aos meus pais se fugisse e abandonasse todas as minhas obrigações.
Apoiei a face em minhas mãos e soluçava desesperada, colocando para fora toda a angústia que sentia. Lembrei-me de quando meu avô, o rei Aurio, nos visitava. Ele sempre me dizia que eu tinha um brilho diferente nos olhos e que aquilo me faria uma mulher admirável. Meu irmão era o futuro rei de Erysimun e eu seria sua fiel aliada. No entanto, meus pais decidiram fazer a aterradora troca de postos, matando todos os meus sonhos.
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Os Espinhos Do Trono {em Revisão}
FantasíaA busca pelo poder é incessante. Ao final, o que todos querem é comandar, não obstante, o que a maioria consegue é desafeto, rancor e ódio. Em Erysimun, além de todo o poder sobre as pessoas, os reis também têm acesso à grande chave da aura, objeto...