S H O C K I______________________________________
Capitulo Zero.
A fumaça da terra levantada pelas rodas pulando enaltecidas cobria o reflexo no retrovisor. Uma caminhonete velha e suja, mas tão forte quanto um tanque, atravessando as terras de grama e areia. Havia chovido há não muito tempo, um pouco de lama sujava ainda mais a lataria, cambaleando na velocidade máxima. O caminho era quase reto, então volta e meia o velho senhor de chapéu soltava o volante, para tentar ajudar sua esposa, já de cabelos brancos, em pleno parto. A senhora, com cabelos já não tão longos segurava a barriga como a um paraquedas em queda livre. Suas mentes eram totalmente ocupadas por apenas um pensamento, que logo fugira pela garganta:
— TEM QUE DAR TEMPO – enaltecia a mulher em parto, tentando acalmar a si mesma, seu marido e ao bebê.
A criança não ouviu bem o clamar de sua mãe, pois não iria esperar, era ali mesmo que queria nascer, junto ao nascer do sol em um gigantesco campo vazio, com a clínica nem no horizonte ainda.
— NÃO DÁ MAIS – ela soprou um "P", mas engoliu seco, com a dor que parecia um grito de seu filho, querendo sair. Respirou fundo – PARA O CARRO!
O balançar da lataria não estava ninando o bebê, pelo contrário, parecia um exercício de ioga para o fazer nascer mais rápido. O pai sussurrava "Droga, droga, droga". Não conseguia pensar no que fazer. Botou o pé no freio, suavemente, mas antes de parar se confundiu nos pedais e fez o carro morrer. O gargalo do motor deu sequência à porta se abrindo, o senhor deu a volta até o lado de sua cônjuge.
— Consegue andar? Você precisa deitar – ele pensou um pouco – atrás! Vou te deitar ali – a parte traseira da caminhonete parecia um bom lugar, vazio e plano para ela deitar.
A mulher em prantos nem conseguiu responder, o senhor a tirou do carro, pondo em seus ombros os braços dela, mas era bem mais pesada do que imaginava – principalmente por estar grávida. Ele tentou a colocar na carroceria vazia, mas não conseguiu. Era uma ideia bem tola, logo compreendera, já que estavam em um campo plano, qualquer local era bom, até porque era só grama – com bastante conforto, comparado com a lataria da caminhonete.
Finalmente então a deitou, puxou as mangas e tentou descobrir o que fazer. A grama estava levemente molhada, o que talvez tenha sido melhor, dando uma resfriada na pele da grávida, que estava fervendo de calor, mesmo estando um pouco frio. O sol já estava quase todo visível, ele terminaria de nascer junto com a criança, secando o gramado, as poças e "dando luz" ao filho dos fazendeiros, que de uma forma poética, também era filho do sol.
Ali nascera Kevin, ali o sol tornara-se menos luminoso que os olhos daquele bebê, ali também, subia ao céu, a mãe do descendente e antecedente de heróis, que junto ao mundo, mudariam um ao outro. Perante a paz, por entre e para ela, aquele tornara-se o recanto dos novos tempos.
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SHOCK (OBYON-Livro1)
AdventureSHOCK conta a jornada do garoto Kevin para se tornar um herói. Ele, porém, encontra problemas maiores dentro do próprio lar, além de uma rivalidade misteriosa. Busca então descobrir o que acontece ao seu redor e entender o que são seus poderes e seu...