SHOCK (OBYON-Livro1)

Capítulo 6 [ O Grupo A Seguir ]

Capítulo Seis

— O que... o que irá acontecer agora? – perguntou Kevin, ainda na mesma sala, depois de secar as últimas lágrimas.

— Deixe isso conosco, não há como evitar, apenas se prepare, Kevin! – respondeu Emil – mas por agora, vá falar com o Gordon, ele acabou de chegar e o seu trabalho pode desaparecer a qualquer segundo, não deve ser fácil.

— Tudo bem, mas quero ajudá-los no que precisar!

Kevin levantou e saiu da sala, não sabendo bem quanto tempo ficou sentado ali, sua bunda já estava doendo – ou "quadrada", como ele diz.

Chegando no quarto de Gordon, a porta estava meio aberta. Kevin a terminou de abrir, Gordon estava arrumando algo em sua mala.

— Você... você vai embora?

Gordon levou um pequeno susto.

— O quê? Ah... ah sim, não! Não vou embora – deu uma risada tímida – é que não sabemos o que vai acontecer, não posso deixar meus ingredientes secretos irem a público.

— Os insetos? – perguntou Kevin, esforçando-se para voltar ao seu humor normal.

Gordon riu.

— Não, as formigas ficam, bem... elas são do tipo que se movem muito de lá para cá, então vão ir embora sozinhas. Meus ingredientes são mais normais que isso.

— E a garota? A Keith, vocês vão cuidar dela?

— Já estamos cuidando, você fez muito bem em ajuda-la.

O telefone na outra sala tocou. Gordon assentiu fechando os olhos.

Kevin entendeu.

— É o mundo ligando? Vão vir nos buscar?

— Calma, Kevin. O doutor Emil e eu não deixaremos que levem você e Alroy.

Kevin entristeceu a expressão.

— Então os outros vão ser levados?

— Não podemos mais cuidar deles, não teremos a aprovação de nenhum governo para isso. Talvez seja bom você dizer adeus, Kevin. Eu vou atender ao telefone!

Gordon foi dando passos rápidos para atender à primeira ligação de muitas e muitas.

Por volta do meio-dia começou; os telefones não paravam. Desde jornais até políticos, policiais, todos queriam Kevin.

"Garoto com poderes salva moça em bar"

"Vídeo de garoto com poderes roda a internet"

"Mulher é salva por herói com poderes"

"Quem é o garoto dos poderes?"

"Você conhece a história dos antigos heróis?"

"Entenda a relação do antigo Shock e o garoto de poderes"

"Shock está vivo, a lenda era real!"

"O grupo de seis ainda existe? Conheça Shock"

"Shock" "Shock"

"Shock"

"O governo irá intervir na instituição que cuida do garoto de poderes, Shock"

* * * * * *

— Acho que esse é o fim, não é? – disse Kevin, ao lado de Emil, observando os outros estudantes no jardim.

As crianças estavam se arrumando, logo chegariam competências do governo para leva-las. Alguns olhavam Kevin de forma muito diferente de antes, uma mistura de curiosidade, medo e raiva, por fazê-los serem levados assim.

— Antes de chegarem, você deve ir, Kevin – Emil deixou bem claro.

Kevin já havia arrumado suas coisas, estava preparado para ir embora. Mas para isso, tinha que encontrar Alroy, que não estava em lugar nenhum.

— Gostou do nome? – perguntou Emil, tentando analisar o garoto, como sempre fez.

— Nem um pouco. Alroy também tem um, sabia?

— Não me diga, ele pegou da lenda também não é?

— É verdade, a lenda. Eu não sei muito sobre, só o que você me mostrou naqueles livros de pintar, mas eram idiotas.

— Aproveite sua viagem para descobrir sobre. Sinceramente, eu nunca pensei muito nisso, eu sou um cientista, afinal.

Kevin riu.

— Não sei se conheço alguém menos cientista que você.

Emil riu junto.

— Eu... eu vou encontrar aquela moça amiga do Alroy, ela deve saber bastante. No caminho para cá, Alroy falou de alguém chamado "Fire".

— É uma boa ideia, Kevin. Faça isso! Quando descobrir tudo, venha me contar e tomar um café com a gente.

— Vocês vão ficar?

— Eu não sei o que vai acontecer. Talvez esteja na hora de me aposentar, aprender a ter uma família agora, sem mais laboratório, só uma casa na praia.

— Vai tentar encontrar sua ex-mulher?

— É uma boa pergunta. Mas acho que ela não vai querer me ver.

— Você não disse uma vez que tinha um filho?

Emil abaixou a cabeça, mexendo a boca como se a conversa de família o deixasse intrigado e triste.

— Tá na hora de você ir, Kevin!

— Tudo bem. Mas eu não vou me despedir, pois vou voltar. Vou arrumar tudo, quem sabe até te ajudar a recomeçar aqui. Vou fazer todos eles verem as coisas incríveis que vocês fizeram!

— É claro, sei que você vai nos salvar – conclui Emil com um sorriso.

Emil abriu os braços, oferecendo um abraço. Kevin sorriu, emocionado, segurou-o como nunca antes. Dessa vez sem lágrimas, dessa vez apenas com sorrisos. Para Kevin não era uma despedida, mas sim um agradecimento, um pedido de desculpas.

Kevin estava com medo, um frio cercava seu corpo, não era fácil para ele pensar em sair sozinho por aí, sem saber o que iria acontecer. Estava ansioso.

Os carros começaram a chegar, as crianças se juntaram, como se estivesse com medo. Kevin saiu por trás, dando tchau a todos. Ele foi para o meio da floresta, observando atrás de uma árvore o que acontecia lá. Emil acalmava os estudantes, direcionando-os para um ônibus que chegara. Levou umas cinco horas para tudo ser feito. Todos foram embora, só Emil ficou ali, cercado por fitas amarelas, interditando o local. Policiais conversaram com ele, entraram e saíram, levando coisas. Kevin não viu Gordon, queria dar um abraço nele também, mas ficara para outra hora.

Depois que tudo acabou, Kevin seguiu seus passos em direção à cidade. Com o peito estufado – assim como a mala grande – pronto para iniciar sua jornada, animado em fazer parte de algo, de descobrir sobre o passado, para se tornar um verdadeiro herói. Porém, algo o aguardava, algo estava errado, algo o impediria de começar esse caminho.

Nas televisões passavam as gravações sobre o laboratório, mostrando as crianças, informando que Kevin não fora encontrado lá. Uma entrevista com o doutor Emil, assim como com Gordon, que estava sim no laboratório, mesmo que Kevin não o tenha visto.

O fim da notícia foi diferente do que esperavam.

"O xerife que está coordenando a investigação informou à nossa rede que os arquivos da instituição, o laboratório, estavam errados. Haviam informações excluídas, mudadas. As licenças foram alteradas há cerca de 15 anos, pareciam falsas, nas palavras dele. Ele também informou que não sabem ainda o que isso significa, mas a investigação continuará."