Eu adorava visitar a Catedral aos domingos. Mamãe começou a visitar com mais frequência depois que meu pai nos deixou. Acho que o ambiente fazia com que ela sentisse um acolhimento que nem eu e nem ninguém poderiam dar. Lembro de quando eu era criança e, inocentemente, escondia os folhetos das missas onde os fiéis apoiam os joelhos para rezar. Foi uma descoberta incrível saber que aquela parte dos enormes bancos de madeira se abriam.
O que eu mais adorava, porém, não era o esconderijo de folhetos, tampouco o som melodioso dos louvores e as palavras de acalento, que muitas vezes faziam minha mãe chorar. Eram as imagens. Eu passava mais tempo observando as esculturas, os quadros e os artefatos atentamente, atentando para cada detalhe como se fossem um portal que me pudesse levar mais perto para o céu, para alguma divindade, para um lugar onde não existia toda aquela dor, desespero e corrosão.
Acho que era por isso que eu sempre preferi sentar perto da imagem de Jesus. Era como se eu pudesse estar mais perto dele, mesmo que na maior parte do tempo o sentisse tão distante de mim.
Jeongguk me disse, certa vez, que eu deveria parar de prestar tanta atenção no calor dos dias e começar a admirar a bela no céu azul. Foi assim que eu me apaixonei pelo céu. E todos aqueles quadros esplêndidos, aquelas imagens sublimes em exposição na belíssima catedral me faziam gostar ainda mais do céu. Eu gostaria de poder alcança-lo.
Quando saímos da missa naquele domingo, mamãe estava com um sorriso sereno e um olhar calmo. Parecia despreocupada, leve e eu sabia que a manhã tinha feito um bem danado a ela. Me senti da mesma forma. Almoçamos juntos em um restaurante barato e depois voltamos para a nossa casa, que talvez deixasse de ser nossa em alguns meses. Não era momento para pensar naquilo.
O dia correu calmo. Assistimos besteiras na TV, conversamos e evitamos tocar em qualquer assunto que envolvesse meu pai. Eu me senti tão confortável naquele dia que acreditei ser uma boa ideia revelar que agora eu tinha um namorado. Eu achei que podia confiar na calmaria, na leveza, na serenidade, mas fui driblado por elas.
"Eu preciso te contar uma coisa" Eu disse
"Oi, filho" Ela respondeu, com um sorriso ainda calmo no rosto
"Eu tenho uma pessoa"
Eu pude ver seus olhos se iluminarem naquele momento. Eu pude ver o sorriso nascer. Sintomas de felicidade. Sim, ela estava feliz por mim e eu precisava continuar a contar. Ela segurou minhas mãos, animada, incentivando-me a continuar contando sobre essa pessoa. Então eu disse:
"É um garoto"
E o brilho que antes enfeitava o olhar dela apagou quase instantaneamente. O sorriso animado? Substituído por um "O" meio horrorizado. Suas mãos se afastaram da minha devagar. Ela foi curta e grossa em suas palavras, como se aquilo tivesse causado tanta exaustão em si que já nem era mais capaz de fazer uma cena por descobrir que eu era gay.
"Como se não bastasse toda a merda que estamos passando por causa do seu pai, você ainda me vem com a história de virar viado? O que você pensa que eu sou, Park Jimin?"
E foi assim que ficamos semanas sem dizer aomenos um bom dia.
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