Flutuar na imensidão

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Eu, Park Jimin, não sabia se eu era bom ou ruim demais com despedidas. É a última vez que eu escrevo aqui, nesse caderno de memórias e registros. Por anos foi meu confidente, a minha forma de desabafar quando eu não conseguia ter coragem para me apegar aos meus amigos e dizer a eles tudo o que acontecia e se passava dentro de mim. Acredito que agora seja a hore de dizer adeus a esses papéis também.

Pensei, por muito tempo, se não seria egoísmo meu e deixar para trás em meio a tantos sofrimentos aqueles que ainda se importavam comigo e diziam me amar. Cheguei à conclusão de que agora eu precisava ser egoísta. Minhas forças haviam sido sugadas por algo que eu ao menos sabia dar forma e verbo, eu ao menos sabia explicar como as pequenas coisas ridículas que aconteciam em minha vida se tornaram a minha maior tormenta.

Era hora de dizer adeus a elas também.

Talvez fosse mais digno escrever um logo texto, mas eu não quero mais me demorar por aqui. Ver as ondas chocando-se com as rochas aqui do alto, sentir a brisa gelada tocar meu rosto molhado pelas lágrimas, todo o acolhimento da vegetação e o barulho da fauna apenas me traziam a sensação de que eu deveria, de uma vez por todas, me entregar à paz da imensidão.

Minha mãe finalmente havia conseguido se reestabelecer na vida depois de tanto sofrer pelos cacos de vidro deixados pelo abandono repentino de meu pai. Ela estava bem, eu poderia ir.

Hoseok e Seokjin cresciam cada vez mais em seus projetos pessoais. Eu sempre vibrei intensamente a cada conquista deles, a cada passo para frente e tenho certeza absoluta que eles serão muito bem-sucedidos em suas escolhas. Eles estão bem.

Jeon Jungkook...ele sorri com frequência. Sempre foi um garoto como eu, do tipo que guarda tudo pra si, mas ele conseguia sorrir com sinceridade. Eu ainda continua a admirar essa personalidade radiante dele que sempre via algo de bom em tudo. Ele está bem e se apaixonará de novo por alguém que valha a pena. Também é uma certeza.

Amanhã é o grande dia. Todos acham que irei viajar, mas sem imaginar que é uma ida sem volta. Eu me desculpo desde já por isso, mas eu simplesmente não aguento ser mais uma pessoa que não consegue superar os próprios problemas. Existe algo dentro de mim que me pisa, que me suga, que drena toda a minha existência. Tudo me entristece, desde as saudades que eu sinto até as coisas ruins que acontecem com as pessoas do outro lado do mundo. Eu não deveria absorver tanta coisa ruim, mas agora é incontrolável e inevitável.

Eu quero ser livre.

Vejo as nuvens carregadas de água se aproximando, é melhor eu voltar para casa.

Ainda há algumas folhas em branco desse caderno que eu poderia preencher, mas agora vejo que elas podem representar todas as coisas nunca ditas por mim. Nem a ninguém, nem a esse diário.

Nem a mim.

Eu deveria me despedir? Acho que não... vou espalhar algumas coisas por aí e se alguém encontrar, fará o que eu nunca tive coragem: dizer adeus aos que eu amo.

Eu deveria ir.

Logo...

"O dia corre lá fora à toa e há abismos de silêncio em mim". 

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