(Vinte e um)

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"Não há pedido de desculpa que nos faça esquecer o passado. Sempre fica aquela pontinha de insegurança ou aquele pé atrás, porque infelizmente confiança é algo que não pode ser remendado."-Augusto Cury.


Leon Cardison.

Ao passar alguns minutos na estrada, em silêncio naquele carro nós chegamos ao destino. A casa dos meus pais, a casa que fica longe da cidade, longe da minha antiga vida que agora eu faço questão de esquecer um pouco. A casa estava a mesma de dois anos atrás: pintura velha, portão velho cinza, árvores e mais árvores.

Entro de casa e um flashback começou a passar na minha cabeça, quando eu era pequeno eu adorava correr pela sala pequena com meus brinquedos de heróis, adorava ouvir minha mãe me contando histórias loucas sobre sua adolescência e a fase da minha juventude eu adorava ajudar meu pai na pequena oficina que ele tem ao lado de casa, passava maior parte do meu tempo junto deles, tanto que para sair de casa foi difícil tanto da minha parte como da deles. Ando no pequeno corredor, o último quarto de quatro é o meu, e como minha mãe falou, está do jeito que deixei. Minha cama de solteiro, sem janelas, luz amarela, escrivaninha e o famoso cheiro de mofo... eu me sentia bem, pela primeira vez em horas eu me sentia bem.

Depois de colocar minhas roupas no pequeno guarda-roupa de madeira amarelada eu deitei na cama, meus pés ficam de fora, estou literalmente jogado nessa cama. Evito a todo momento pensar no que aconteceu, mas parece impossível, acho que estou com medo de que eu nunca esqueça isso, mas passado pode ser esquecido, se ele não for nosso presente. Minha mãe me chama da cozinha, levanto segundos depois e vou ajuda-la, como antigamente.

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Murilo Backer.

Olho para os papeis amassados na lata de lixo que transborda com as bolinhas arremessadas por mim a cada minuto, quando as minhas ideias começam a fluir minha mente se volta para Leon, sempre ele, sempre o momento do hospital... ser pai... a ideia me parece doce, confortável, mas é só pensar mais um pouco e lembro que não irá mais acontecer, o destino não quer nós dois juntos e assim será.

Enrico entra na minha sala depois que jogo mais uma bolinha de papel no cesto de lixo-errando e a deixando do chão-, ele suspira e senta na cadeira a minha frente seu olhar parece triste.

- Você está bem? - Pergunto.

- Eu quem devia estar fazendo essa pergunta, meu amigo.

- Eu sei... então?

- Eu recebi uma mensagem, e acho que é do Lucas... ele sabe.

Arregalo meus olhos em desespero, Lucas está progredindo com suas ameaças e agora ele pegou o meu amigo e pretende encurralá-lo como fez com Lisa.

- Eu vou falar com ele.

- Não... deixe que ele espalhe... eu não ligo, não vou empurrar você para esse cara assim.

- Sei que não, mas não vou permitir que ele faça mais besteiras com as pessoas que amo, não vou mais perder ninguém-Sinto um gosto amargo na boca quando termino de falar.

Ele não fala nada por um tempo, ficamos apenas nos encarando sei que ele não quer que eu faça isso e nada vai me impedir, não agora.

- Obrigado - É a única coisa que ele fala antes de sair da minha sala.

Peguei meu celular no bolso e disquei o número de Lucas, ele atendeu no primeiro toque, sua voz carregada de deboche quando atendeu me fez cerrar os punhos e respirar fundo por um momento.

- Sim? O seu amiguinho já correu para te contar não foi? Coitadinho dele, foi mais fácil do que imaginei... ele deve estar bem triste.

- Quero que apague todas as evidências pessoais do meu amigo, agora.

- Você sabe que eu tenho um preço, sempre, tudo na vida tem um preço.

- Qual o seu preço?

- Quero que dirija até onde estou hospedado e o resto... a gente resolve sozinhos.

- Quero ver todas as provas sendo destruídas.

- Seu desejo é uma ordem, venha logo.

Desliguei frustrado, eu sabia que existia um preço e com Lucas, não é nada tão simples quanto uma noite, ele quer mais, ele sempre quer mais.

Caminhei para fora da minha sala e fui direto para o meu carro, ele está em um dos hotéis mais caros da cidade-isso já eu esperava, ele sempre foi ganancioso. Quando cheguei, dei meu nome na recepção e logo fui autorizado subir.

- Foi rápido. - Ele fala quando abri a porta do quarto que está hospedado.

- Sim. - Falei seco.

Ele aponta para uma mesa de centro que estava com alguns papéis em cima, as provas, logo percebi. Peguei todas e amassei, rasguei e as joguei no lixo e finalmente estava feito, mas não acabou... não estava nem perto disso.

- Vamos aproveitar agora. - Ele fala em tom malicioso.

Conectados Por Uma Vida (Romance Gay)-[MPreg]Onde histórias criam vida. Descubra agora