9- Manchada de vermelho

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Ao ver o remetente, quis compartilhar com Roberta. Mesmo que não precisasse me explicar eu queria.

–Na verdade...

–Eu não quero saber – Disse me interrompendo - A vida é sua. Você pode receber mensagens de quem quiser – Continuou tagarelando de costas pra mim.

Caminhei até ela e pus uma de minhas mão em seu rosto na intenção de limpar as manchas negras de maquiagem escorrida.

–O que esta fazendo? – Sussurrou Roberta

–Te limpando – Disse com um sorriso fraco

–Para! – Segurou minha mão – Jessy... Sai daqui!

Eu não iria discutir com Roberta. Mas confesso que eu estava magoada por ela ter me expulsado da sua sala duas vezes seguidas.

Sai da sala com um aperto no coração. Então lembrei da mensagem que havia recebido. Era o Arth me chamando urgente no estacionamento da escola. Então rapidamente fui pra lá.

Ao chegar, não vi ninguém. Então escutei uma voz atrás do carro.

–Aqui cadela – Era Thatty abaixada com Judith e Arthur.

–O que estão fazendo? – Disse me abaixando para me juntar a eles.

–A gente vai sair. – Disse Thais

–E não íamos te deixar sozinha. – Justificou Arthur

Judith nada dizia, ela nunca havia feito isso antes e estava muito nervosa.

Eu concordei com a nossa fuga. Não poderia ficar na escola depois do que aconteceu entre mim e Roberta, tanto o beijo como a reação dela após. Não sei se ficar longe da escola afastaria os pensamentos, mas eu poderia tentar.

A primeira a pular o muro foi Thais, pulou primeiro para ajudar os próximos. Logo Arthur pulou todo desajeitado. Ajudei a Judith a subir no muro e Thais a ajudou a descer. Eu fui a ultima.

De cima do muro avistei Roberta que estava me olhando por uma janela. Ficamos nos encarando a distância por um tempo.

–Pra hoje Jessy, pra hoje! – Me apressou Thais.

Desci, quase virei o pé com o impacto, mas desci. Corremos para longe da escola e depois de muita discussão fomos para a casa do Arth.

Chegando lá ele nos serviu vodka. Ao ver a cara de Judith misturei soda com a vodka para ela.

–E você fique longe de escadas. – Disse ela em forma de agradecimento.

Sinceramente... esse negocio de escadas já estava me enchendo o saco. Eles não podiam simplesmente esquecer. Eu não fico jogando na cara deles o que eles fazem quando ficam bêbados. Judith por exemplo comeu o próprio vomito. Arthur tentou estuprar uma arvore. E Thais... eu não lembro algo extremamente vergonhoso que ela tenha feito mas ela já deve ter feito algo.

Fomos para sala, cada um com seu copo. Thais sugeriu jogarmos verdade ou desafio para passar o tempo. Mas eu não estava com cabeça para ser interrogada ou para fazer sacanagem. Esse deveria ser o nome da brincadeira "Interrogatório ou sacanagem". Apenas me deitei no chão da sala e fiquei ouvindo musica enquanto eles estavam fazendo, sei lá o que.

Minha mente parecia não ter saído da sala de Roberta. Aquele beijo repentino...

–Jess – Chegou Judith se deitando ao meu lado levemente bêbada – Posso perguntar uma coisa?

Eu não aceitei brincar para não ser interrogada mas como o universo sempre conspira contra mim claro que alguém ia vir me perguntar alguma coisa. Mas era a Ju, o que Judith me perguntaria que eu não poderia responder? Sem contar que ninguém sabia sobre o beijo, ou sobre Roberta. Então não havia motivos para não responder Judith.

–Fala.

–O que é isso na sua boca? – Apontou para meus lábios. Franzi a testa não entendendo o que ela queria dizer – Ta manchada de vermelho – Se aproximou de minha boca me deixando assustada. Não que eu achasse que Judith iria me beija, não, mas bêbados sempre surpreendem a gente. – Tem cheiro de morango – Disse se afastando.

Vermelho, na minha boca, e tinha cheiro de morango... Não acredito...

Corri até o banheiro deixando Judith sem resposta ou justificativa alguma.

Olhei no espelho e simplesmente uma marca de batom vermelho na minha boca deixado por Roberta. A sensação de ter sido marcada por Roberta era boa. Mas junto com toda marca, vinha um interrogatório. Então comecei a limpar a marca.

–Jessy? – Disse Arthur

–Sim? – Respondi abrindo a porta.

–Judi não ta legal...

–Desafiaram ela de novo não foi?

–É... A Thatty quer continuar com o desafio, será que você pode levar a Ju pra casa?

–Vocês fazem a merda e sobra pra mim resolver né? - Disse caminhando de volta pra sala. Peguei minha mochila e a bolsa de Judith.

–Vem querida – Disse segurando sua cintura – Vamos te levar pra casa.

Thais não gostou de eu ter levado sua diversão pra casa mas concordou que Judith tinha passado do ponto.

Caminhamos bem lentamente por causa de Judith que jogava todo seu peso em mim. Foi então que vi um carro se aproximando de nos. Já estava escuro e eu não pude identificar quem era. Foi então que a pessoa abriu o vidro e eu pude ver um longo cabelo loiro e um sorriso enorme.

–O que estão fazendo a uma hora dessa na rua? – Perguntou Inácia

–Levando a amiga bêbada pra casa – Olhei para Judith.

–Entra. – Disse abrindo a porta – Eu te ajudo na tarefa.

Entrei com Judith no banco de trás para garantir que não vomitasse no carro de nossa professora.

Era incrível como Inácia sempre aparecia do nada pra mim, e sempre que eu estava precisando.

–É aqui? – Disse parando o carro.

–Isso. – Disse saindo com Judith apoiada em meus ombros.

Toquei a campainha.

–Ai meu Deus. – Disse dona Patricia ao ver o estado da filha.

–Ela meio que passou do ponto e eu achei melhor trazê-la para casa.

–Obrigada Jessica – Disse pegando sua filha.

Entreguei a mochila e me despedi. Estava pronta para seguir caminho a pé quando vi Inácia ainda me esperando.

–Eu posso ir sozinha daqui – Disse me aproximando do carro.

–Eu faço questão de te levar em casa. Já ta tarde, não queremos que nada aconteça com você certo?! – Deu um sorrisinho pra mim.

Entrei no carro e comecei a cantarolar alguma coisa.

–É Pitty? –Perguntou ela

–É... Conhece Pitty?

–Não só conheço, como também gosto.

Ela sorria pra mim e eu sorria de volta meio sem graça. Isso se repetiu algumas vezes até chegar em casa.

–Bom... não são cinco da manhã, quer entrar? – Disse meio envergonhada.

–Eu agradeço, mas não posso... Tenho um aniversario para ir... – Disse de cabeça baixa.

–Deixa pra próxima então. Disse me despedindo.

Ao entrar em casa fui direto para a geladeira comer alguma coisa. Meu estomago já estava me devorando.

Me sentei no sofá com um sanduíche que havia feito.

Algumas horas depois eu havia pego no sono ali mesmo.

Encare-meOnde histórias criam vida. Descubra agora