24- Você não pode me deixar

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–Vira – Camila me entregou um copo com vodka

Fiz uma careta mas bebi, Mila estava irritada porque eu andava desanimada e resolveu que me deixar bêbada seria relaxante para ambas as partes.

O telefone começou a tocar, Mila foi atender enquanto eu fui buscar mais uma garrafa.

–Alô? – Atendeu Mila. – Só um minuto – Se virou para mim – É pra você. – Disse me entregando o telefone.

–Quem é? – Perguntei para Mila que disse que não sabia. – Alô? – Finalmente coloquei o telefone ao ouvido.

–Você é Jessica Reis Ferrer? – A voz masculina perguntou

–Sim, sou eu. – Respondi um pouco assustada. Poucas pessoas sabiam meu nome completo, e Camila que escutou meu nome e caiu na risada não era uma dessas pessoas.

–Reis Ferrer? – Perguntou rindo mas não lhe dei atenção.

–Qual seu parentesco com Alanna Reis Ferrer? – Perguntou o homem

–Alanna Reis Ferrer? – Camila me encarou confusa – Sempre achei que "Ferrer" fosse do seu pai. – Comentou

–Eu não tenho o sobrenome do meu pai, ele nem estava lá quando eu nasci. Veio dar as caras um ano depois e depois sumiu. – Expliquei – Só sei que ele esta vivo porque manda dinheiro todo mês.

–Ainda esta na linha? – Perguntou o homem do telefone

–Sim, sim, Alanna é minha é tia – Respondi finalmente.

–Ela sofreu um acidente, preciso que venha ao hospital. – Nesse momento eu senti que iria desmaiar mas não poderia, Lanna precisava de mim – Pode anotar o endereço?

Eu anotei o endereço no celular e em seguida desliguei o telefone. Expliquei para Camila o que havia acontecido e que teria que ir para Rio de Janeiro ainda hoje. Camila não queria que eu fosse só, mas concordou em me deixar ir e ficar para cuidar de Safira.

Sai de casa e fui para o ponto de ônibus. Esperei por uns 40 minutos e nada. O céu já estava escuro e na rua não passava muitos carros o que me deixava um pouco apreensiva.

Um carro encostou perto da calçada me assustando de certa forma, mas logo fiquei mais tranquila quando vi que era Roberta.

"Ah when she comes walking over (Ah quando ela vem andando)
Now I've been waitin' to show her (Agora eu estive esperando para mostrá-la)"

–Entra – Disse ela abrindo a porta.

–Eu vou de ônibus – Recusei a carona.

–Acha mesmo que vai conseguir um ônibus pro Rio a essa hora? – Não sabia como ela sabia para onde eu estava indo mas ela tinha razão eu não conseguiria um ônibus tão cedo. Então acabei aceitando a carona.

–Pode me deixar na rodoviária. Eu me viro de lá – Disse assim que entrei no carro.

–Eu vou te levar até o hospital Jess. Sabe que se for de carro vai chegar mais rápido. – E ela estava certa novamente.

–Como soube? – Perguntei curiosa

–A Camila me ligou. – Explicou

–A Camila... – Lamentei baixinho.

–Não sei se isso ajuda mas, eu não fui a primeira opção, ela ligou pra Inácia primeiro. – Disse em um tom fraco

Aquela situação estava bem desconfortante, Roberta passou dias fugindo de mim e agora estava disposta a me dar carona e até mesmo puxar assunto sobre o clima. Mas sinceramente eu preferia quando ela estava tentando puxar assunto do que quando ficávamos em silencio, o silencio nunca havia nos incomodado tanto como naquele momento, então decidi ligar o radio. E logo fui surpreendida pelo cd que estava tocando. Era um dos que eu havia dado para Roberta, se eu não me engano, o primeiro cd que eu havia dado de presente.

"Ah, now I don't hardly know her (Ah, agora eu não a conheço)
But I think I could love her (
Mas eu acho que eu poderia amá-la)"


–Joan Jett? – Perguntei surpresa

–Eu gosto do cd... – Respondeu sem olhar diretamente pra mim. – Essa musica me lembra você – Comentou me observando de canto de olho.

Eu não respondi, apenas olhei para o outro lado para que ela não percebesse meus olhos marejados.

Horas em silencio, as vezes eu achava que se eu dormisse o tempo passaria mais rápido, mas toda vez eu que fechava os olhos eu escutava a voz da minha tia sussurrando "agora somos só eu e você"

–Chegamos. – Disse Roberta enquanto estacionava o carro.

Entramos no hospital e da recepção nos mandaram para uma salinha e falaram que tínhamos que esperar. Ninguém me deu se quer uma noticia, se minha tia estava bem ou pelo menos se estava viva.

–Você é a Jessica? – Perguntou um homem entrando na sala.

–Sim sou eu, como esta a minha tia? – Perguntei rápido pelo nervosismo.

–Ela esta inconsciente. – Informou o medico – Bateu muito forte com a cabeça, e tivemos que anestesia-la para a cirurgia. – Fez um pausa – O efeito da anestesia já passou mas ela não esta respondendo. – Roberta pôs uma de suas mão em meu ombro numa forma de me confortar.

–Eu posso vê-la?

Ele me levou até o quarto em que minha tia estava enquanto Roberta ficou no corredor conversando com o doutor esperando que eu retornasse.

–Aposto que você estava no celular quando a merda aconteceu – Comentei me sentando ao lado dela. – Porra Lanna... Somos só eu e você agora, você não pode me deixar. – Comecei a chorar.

–Jess... – Roberta entrara no quarto e me flagrou chorando em cima de minha tia. Ela caminhou até mim, me abraçando por trás. – O horário de visitas já acabou.

–Eu vou ficar como acompanhante – Disse limpando as lagrimas.

–Eu conversei na recepção e como você é de menor não pode ficar como acompanhante...

–Eu preciso ficar – Me virei para encara-la

–Sua tia iria gostar que você passasse a noite nessas cadeiras desconfortáveis? – Apontou para a cadeira no canto do quarto – Você precisa descansar, amanhã de manha nós voltaremos.

Depois de muito insistir eu concordei em sair do hospital. Roberta queria pegar um quarto num hotel perto do hospital mas eu preferi ir para o apartamento de minha tia.

O porteiro já me conhecia e me deixou entrar sem eu ter que explicar toda a historia.

O apartamento de Lanna tinha dois quartos, o dela e um que ela dizia que era meu, mas eu dormia lá umas três vezes no ano e não o considerava como "meu".

Arrumei o "meu" quarto para Roberta e fui para o quarto de Lanna. Me sentei na cama de minha tia mas eu não conseguiria dormir na cama dela enquanto ela estava no hospital. Então fui para a sala e liguei a TV.

Já passara das duas da manhã quando Roberta apareceu na sala com um pijama de Lanna que eu havia emprestado para ela.

–Achei que tinha dito para você descansar – Se sentou ao meu lado.

–Eu não consegui dormir na cama dela. – Comentei sem tirar os olhos da TV

–Poderia ter ido pra minha – Comentou baixinho – Você precisa dormir – Completou antes que eu pudesse ter respondido sobre o seu "convite" para dormir em sua cama.

–Não acho que o problema seja a cama. – Comecei – Eu só consigo pensar que agora com a Lanna lá, eu estou sozinha.

–Jessica. Você nunca vai estar sozinha. – Passou um braço em meu ombro e me trouxe mais para perto dela.

Eu queria perguntar o porque ela estava fugindo de mim, me evitando durante dias, mas eu estava tão calma nos braços dela que a ultima coisa que eu queria era começar uma discussão.

Encare-meOnde histórias criam vida. Descubra agora