- Sempre suspeitei que tinhas um lado travesso. - comentou Aaron, corrigindo a minha postura com uma batida no fundo das minhas costas.
- Au! - exclamei, baixando os braços. - Podias ser mais gentil! - queixei-me, esfregando o local atingido.
O filho de Apolo soltou uma gargalhada, abanando o rosto de um lado para o outro em negação. Levantou o braço, mirou o alvo a uma distância considerável de nós, puxou a corda até junto da sua orelha e largou com agilidade, acertando no centro. Virou-se para mim e lançou-me uma piscadela.
- Aprende com o mestre. - declarou, enchendo o peito de orgulho.
Revirei os olhos. Convencido. Observei-o afastar-se e repreender a Ayla que apontava a seta para quase o céu.
Encarei o alvo resignada.
Depois do almoço e de toda a algazarra dos meus agora definitivos companheiros de quarto, seguimos para a Arena, onde teríamos uma aula de arco e flecha dirigida pelos filhos de Apolo. Não deixei de estar surpresa pelo desempenho de Aaron no ressinto, embora já o tivesse visto em ação. A sua destreza com aquela arma era de louvar, mas a sua atitude passiva-convencida, não podia mentir, irritava-me solenemente. Contudo, ele tratava-se de um excelente professor-assistente desta modalidade.
- Concentra-te. - instruiu. - Apesar de os filhos de Hermes não serem conhecidos por serem bons com o arco, qualquer arma pode ser a diferença entre a vida e morte.
- Zac diz que é inútil. - afirmei, vendo a seta passar ao lado do alvo.
- O Zac está sempre a reclamar. - contestou o loiro, encarando um pouco desapontado o local onde a flecha desaparecera. - Antes nem sabia pegar num arco como deve ser, agora quase que acerta no centro.
Olhei para o onde o filho de Hermes estava. Treinava com uma rapariga loira, Kira Lancaster, uma filha de Apolo não muito mais nova que ele, e com Raphael, outro filho do deus dos ladrões. Estavam a fazer um trabalho muito melhor que o meu pelo menos.
Aaron entregou-me outra flecha e preparei o arco de novo. Estava para ver o estado horrível das minhas mãos depois disto. A aspereza da corda do arco deixaria marcas com certeza nos meus dedos não acostumados a este tipo de trabalho. Antes, tudo o que faziam era teclar no telemóvel e no computador.
- Estás a pensar demais. O truque é relaxar.
- É mais fácil falar do que fazer - afirmo entre dentes, sem deixar de mirar o alvo.
- Controla a respiração, inspira pelo nariz e expira pela boca, assim não tremes tanto o braço. - aconselhou e eu reproduzi o que ele dizia.
Fiz o disparo novamente. Soltei um som irritado quando, novamente, a seta passou bem por cima do que era suposto ter acertado.
- Okay, chega por hoje. - declarou Aaron. - Tu não estás sequer focada.
- Ou simplesmente sou péssima nisto. - insinuei.
- Isso também, mas não estás em condições de continuar. Só vais ficar frustrada.
Suspirei. Ao fim e ao cabo, a melhor de todas as tentativas foi num arbusto ao lado do alvo. Aaron, por outro lado, não falhara uma única. Até de olhos fechados fora capaz de acertar, só mesmo para me fazer sentir ainda mais o meu sangue a borbulhar de frustração e raiva.
Retirei a aljava das costas e pousei junto aos restantes equipamentos dos outros semideuses. Semideus, uma palavra que ainda soava estranha, mas que começara a adquirir uma sensação familiar.
- Vais para aonde agora? - perguntou-me à porta do campo, puxando-me de leve pelo braço.
- Não faço ideia. Ainda tenho que averiguar com o Liam.
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Evelyn Brown e a Marca Perdida
FanficEvelyn Brown era só mais uma aluna de Northeast High School. Tudo corre à mil maravilhas até decidir ajudar dois estranhos a entrar na biblioteca. De um momento para o outro Evelyn depara-se com algo saído dos seus livros de História: Deuses, criatu...