Capítulo 4

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Puxo o Aaron pelo braço, virando repentinamente à direita, para um beco sem saída. Deixo as costas baterem na parede de tijolos, enquanto tentava recuperar o fôlego. Thíaso toma o lugar à minha direita, largando as canadianas e apoiando as mãos no joelhos para recuperar da corrida. Dado o seu estado físico, não esperava outra coisa.

Uma gargalhada sobrepôs-se às nossas respirações aceleradas. Thíaso acompanhou Aaron neste momento de delírio, deixando-me extremamente baralhada. O loiro ria-se de tal maneira que acabei por esboçar um sorriso involuntário e aliviado.

- Bem agora que acabaram as risadas, - interrompi, após alguns instantes - alguém me pode explicar o que acabou de acontecer na biblioteca?!

Como se o clima tivesse alterado, os rostos dos dois ficaram mais sérios. Um olhar cúmplice foi trocado entre eles, ao mesmo tempo que eu cruzava os braços.

- Bom... - iniciou Aaron, coçando a nuca e franzindo os lábios. - Aquele monstrinho...?

- Era um lestrigão. - revelou Thíaso, muito rapidamente, desconfortável.

Continuo a fitar os rapazes face à sua resposta vaga. Ergo uma sobrancelha à espera de uma explicação.

- Um lestrigão é um gigante canibal com corpo humanoide, para ser mais específico. - completou o seu pensamento. - Se conheces mitologia grega, deves ter umas luzes de que tipo de criaturas poderemos encontrar.

- Mitologia? - questionei ainda confusa. - Tentem uma desculpa melhor.

- Vais-me dizer que nunca vistes coisas estranhas? Coisas que não conseguias explicar? - cortou Aaron um pouco frustrado.

Os meus sonhos sempre foram algo peculiar, mas fora isso o resto não ultrapassava o ordinário.

Como se soubesse o que estava a pensar, Aaron deu sequência à sua linha de pensamento.

- Tudo o que não achavas que existia ou que passava de um mito ou lenda são da verdade reais. Pelo menos em parte. - ponderou, inclinando de leve a cabeça - Não vais encontrar o Yeti em lado nenhum.

- Como é que isso é possível? Como é que ninguém sabe sobre isso? - soltei incrédula, negando abanando a cabeça.

- Segredo de Estado. - respondeu o loiro.

Houve de novo uma troca de olhares entre os dois adolescentes. Soltaram uma gargalhada quando retornaram a encarar-me. Com certeza, uma expressão de ríspida prevalecia no meu rosto.

- Ele está a brincar, Evelyn. - garantiu Thíaso, ainda com a sombra de um sorriso sobre os lábios. - Vivemos constantemente a ocultar-nos quer do mundo dos mortais quer das criaturas que procuram capturar-nos. A Névoa é o que mais nos auxilia a escondermo-nos dos humanos. Disfarça tudo o que seja sobrenatural, por exemplo, em vez de um monstro veriam um assassino, ou coisa assim. Nunca sabemos o que é. - fez uma pequena pausa - Dos monstros é que é mais difícil. Para além disso, a maioria das pessoas não conseguiria aguentar o choque de tais coisas. Negariam e iríamos ser eternamente caçados por eles.

Não fico muito convencida, mas acabo por aceitar a explicação. Era tudo tão confuso e difícil de entender que aquela parecia a justificação mais plausível. Tinha que aceitar senão ia dar em doida. Nada fazia sentido.

- Seguimos já ou esperamos por amanhã? - questionou Aaron, virando-se para o ruivo.

Ignoro os dois, começando a apalpar as calças, à procura do telemóvel. Retiro o pequeno aparelho e quase que o deixo cair quando este sinaliza doze notificações não vistas.

Mãe: Filha? Está tudo bem?

Mãe: Filha??

Mãe: Evelyn! Estás longe de casa??

Evelyn Brown e a Marca PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora