Mudanças

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Fazia quase seis meses que eu e minha família mudamos para aquele bairro. Como sempre, foi difícil para todos nós no começo a adaptação com o novo, mas como tudo na vida, com o tempo acostumamos, ou melhor, eu e meu pai aceitamos mais fácil a situação, ao contrário de minha mãe, que nunca perdia uma única oportunidade para reclamar.

Morávamos, em uma casa de sete cômodos acanhados distribuídos em dois andares localizada perto do fim da Avenida Céu Azul que recebera esse nome não em referência ao clima da região (que tirando o verão, era nublado e chuvoso), mas porque havia, numa longa parte dela em ambos os lados da rua, fileiras de magnólias azuis que formavam um lindo arco acima da cabeça de quem transitava por ela.

E claro que aquela beleza toda tinha que acabar justamente antes de chegar à minha vizinhança. Droga!

Eu havia me juntado a um grupinho de colegas no Colégio Santo Alberto Magno sem dificuldade. Nunca fui de muito assunto, mas, depois de ouvir um menino de minha sala, dizer-me que "eu tinha um nome maneiro" (o que custei a levar como um elogio), começamos a conversar mais e mais até ele me apresentar para os outros do bando: Carol, Edu e Gerson. Não precisa ser um gênio para descobrir que Luiz, o tal garoto do "elogio", só gostava de meu nome porque, por coincidência, era o mesmo que ele tinha só que na forma feminina.

Edu e Carol eram de outra turma, mas apesar disso, recordo-me de nossas reuniões diárias no recreio, e também de nossas fugas para as aulas de educação física uns dos outros.

Eu ia e voltava do colégio para casa no ônibus escolar, mas depois que fui convencida por Luiz e Gerson que juraram para mim que, a pé com a galera era bem mais divertido, eu tive que implorar para meus pais de mãos e sobrancelhas juntinhas para me deixarem voltar com eles. Minha mãe foi mais resistente que o papai. A ideia da filhinha querida cortando a avenida principal na ida e na vinda acompanhada de uma turma de crianças esquisitas, não a cheirava bem, me advertiu sobre chuva e me fez prometer levar sempre uma sombrinha comigo, e no fim, mesmo a contragosto cedeu falando como que para si mesma que: "eu já estava bem crescida e ela tinha que me deixar viver".

Mães...

O Mistério da Estranha Residência SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora