Falsa Febre

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4.

Foi a partir daquele dia que as coisas começaram a ficar estranhas. Realmente estranhas.

Todas às vezes... em todas as voltas... toda vez que passava na voltando do colégio em frente à propriedade da família Silva, um calafrio rastejava dos meus pés a cabeça. Era rápido e era terrível. Gerson e Carol percebiam isso, não tanto para me questionar que, algo de estranho acontecia comigo sempre quando estávamos prestes a chegar a minha casa. Talvez pensassem que meu lar não me agradava ou algo do tipo e não queriam entrar nesse tipo de assunto inconveniente.

No começo pensei ser coincidência, ou coisa da minha cabeça, até porque, não tinha nada racional nisso. O que?! Vai me dizer que uma casa estava me causando calafrios?! Sim, eu era uma criança, mas não era tão ingênua assim. Não podia acreditar nisso, era piração! Depois, cogitei estar doente. Febre. Vírus, bactérias qualquer coisa assim. Li no livro de ciências que calafrios são associados à febre, assim também como sensação de friagem, perda de apetite e um tanto de outras coisas que eu não sentia. Foi difícil desapegar dessa teoria, mas depois de fazer minha mãe medir minha temperatura três vezes garantindo que estava doente e ouvi-la dizer já sem paciência que, entre trinta e seis e trinta e sete graus é uma temperatura normal do corpo, e que, tentar enganá-la não iria fazer eu me livrar da escola assim tão fácil, desapeguei.

Um dia tive uma ideia. Pensei em como era burra porque, em nenhum momento pensara na que deveria ter sido de longe minha primeira alternativa. Depois de se despedir de Luiz, falei para Gerson e Carol sobre o famoso "jogo do contrário" (que eu acabara de inventar). Era simples e divertido de se jogar. Bastava cada um escolher uma coisa que fazíamos diariamente e ordenar para que todos envolvidos façam o contrario. Bem autoexplicativo.

Gerson ordenou que as mochilas fossem das costas para frente tampando a barriga.

Carol ordenou que, ao invés de nos despedirmos, nos cumprimentássemos.

E eu ordenei que fôssemos para nossas casas pelo lado inverso da rua.

Tamanho foi meu espanto quando, pouco antes de chegarmos à esquina de minha casa, vi que, no meio da calçada que estávamos, no lado contrário ao lugar que eu queria evitar, havia uma árvore caída obstruindo a passagem por lá.

Só sentia calafrio.

Sempre perto da residência Silva.

O Mistério da Estranha Residência SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora