O Garoto da Bola

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7.

O sono resolveu não me visitar aquela noite.

Minha mãe levou o jantar no quarto e insistiu para que eu comesse algo, menti que sim e, quando ela saiu, escondi a comida debaixo da cama. Depois estiquei o braço para pousar o prato em cima do criado-mudo.

Virei a noite olhando meu teto. Não tive respostas dele. Depois de o dia nascer, cedo, antes de sequer alguém da casa estar de pé, fui à cozinha e tentei comer algo. Sentia-me fraca, mesmo assim, meu corpo não aceitou alimento. Foi como tentar forçar um tijolo pelo ralo da pia.

Fiquei um tempo na varanda encarando "aquilo". A casa.

Lembro-me de piscar os olhos e quando abri tive aquela sensação de ter passado mais tempo do que planejava com eles fechados. Havia um garoto, provavelmente pouco mais novo do que eu do outro lado das grades da casa dos Silva. Meu primeiro pensamento foi delírio, a experiência de quinta-feira havia acabado com o resto de minha sanidade. Acho que cochilei sentada. Esfreguei os olhos na esperança de que voltassem a funcionar, mas quando os abri de novo, o garoto continuava lá, jogando sua bola para cima e correndo atrás dela.

"Ei!" gritei. "Quem é você?" ele me olhou meio bobo.

"O que foi?" continuei. "Se eu fosse você, arrumaria outro lugar para brincar menino. Aí não é seguro."

"Mas eu moro aqui." disse ele.

"Tá de brincadeira! Sem chances. Eu nunca te vi por aqui."

"Eu já te vi. Você e seus amigos passam por aqui sempre." disse ele sem tirar os olhos da bola no ar.

Lancei-me na grade e chamei-o, desajeitado ele veio até mim, tinha cabelos claros e era franzino, notei também que ele tinha uma marca da nascença avermelhada no pescoço. Disse-me que seu nome era William, mas que gostava quando chamavam-no de Willy. Contou-me que era filho do senhor e da senhora Silva e que eles não o deixavam sair muito da casa, e aquele dia ele estava muito feliz porque adorava jogar bola. Fiquei paralisada. O vi gritando para mim enquanto voltava para dentro da casa, porque já era tarde e ele tinha que entrar.

Tarde... não eram nem sete da manhã...

O Mistério da Estranha Residência SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora