"Cockfight" ❀

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Na segunda-feira Luke levou-me até à agência de viagens do senhor Collins. Christian estava à porta do edifício, de braços cruzados e com uma expressão ansiosa no rosto. Assim que me viu, veio até mim.

Assim que chegou perto o suficiente, evolveu-me nos seus braços e apertou-me contra si e fez um som estranho com a boca.

Quando me soltou, virei-me para me despedir de Luke que nos olhava com uma cara confusa. Ele aproximou-se, abraçou-me e murmurou ao meu ouvido.

"Cuidado com ele, Daisy. Não me parece uma pessoa de confiança."

"Adeus Luke." - revirei os olhos enquanto lhe dava um beijo na bochecha, como forma de despedida.

Segui Christian até ao lado de dentro do prédio. Ele apresentou-me às pessoas que já trabalhavam ali, a maioria eram mulher e quase todas elas era loiras.

Assim que chegamos ao último andar, ele disse-me o que teria que fazer naqueles primeiros dias. Era basicamente atender as chamadas do pai dele, que ainda era o chefe supremo ali dentro, e passa-los para ele quando fosse mais importante, ou então tomar conta da sua agenda, que ainda não era muito preenchida por causa de ter começado a trabalhar com o pai apenas recentemente.

Sentei-me na cadeira, um pouco desconfortável, pousei a minha bolsa no chão, não sem antes retirar de lá o meu telemóvel e pousá-lo na secretária que ficava do lado de fora da sua sala e liguei o computador tratando logo de conectar o meu e-mail, que Christian me tinha obrigado a criar, alegando que era estritamente necessário para falar comigo acerca de trabalho.

A manhã tinha passado arrastada, como se cada minuto fosse uma hora. Estava aborrecida pois não tinha nada para fazer. Christian não saiu mais da sua sala ou falou comigo, nem pessoalmente nem por e-mail.

O elevador apitou despertando-me do meu transe. Ashton saiu de lá, deixando-me extremamente espantada.

"O que fazes aqui?" - questionei não conseguindo evitar o tom de voz levemente rude.

"Vim buscar-te para almoçar." - sentou-se numa das cadeiras que tinha em frente da minha pequena secretária de madeira.

"Porquê isso agora?" - cruzei os braços. - "Quando nos conhecemos tu parecias não me suportar, o que foi à apenas alguns dias, e agora vens ao meu local de trabalho e convidas-me para almoçar?" - abri um sorriso irónico.

"Daisy, queres..." - Christian saiu da sua sala olhando diretamente para mim contudo, quando avistou Ashton que se tinha levantado rapidamente, calou-se.

"Quero o quê, Sr. Collins?" - indaguei. Era-me estranho falar com ele num tom tão formal, mas não me podia esquecer que ele é meu patrão.

"Ia perguntar-te se querias sair para almoçar. E trata-me por Christian, por favor." - sorriu gentilmente.

"Ela vai almoçar comigo." - Ashton interveio, colocando-se ao meu lado. - "Estávamos mesmo de saída, não é Daisy?" - sorriu para mim.

Aquele havia sido o sorriso mais falso que já me tinham dado.

Odiei o facto de ele ter respondido por mim, mas odiei ainda mais o olhar que eles lançavam um ao outro, como se estivessem a disputar a minha atenção, como se eu não passasse de uma puta! Fiquei com raiva e, num movimento impulsivo, levantei-me, peguei o meu telemóvel e guardei-o na mala que coloquei ao ombro. Ashton sorriu pensando que aquilo era um 'sim' ao seu falso convite de almoço.

"Na verdade, não vou almoçar com nenhum dos dois, se me dão licença." - carreguei no botão próximo ao elevador e esperei que as portas se abrissem.

Eles já não se encaravam, podia sentir o olhar de ambos cravados nas minhas costas, mas recusava-me a olhar. Não queria ser disputada por dois adolescentes com as hormonas aos saltos como se não passasse de um pedaço de carne do qual eles podiam disfrutar e, ao mesmo tempo, atacar-se um ao outro.

Entrei no elevador, extremamente irritada. Ashton apressou-se para entrar também. A sua cara não era das melhores, mas pouco me importa o que ele estava a sentir ou a pensar.

Christian olhou para nós, abanou a cabeça negativamente enquanto um lento sorriso se formava no seu rosto, e voltou a entrar na sua sala.

A porta do elevador fechou e com ela veio o silêncio, até Ashton decidir quebrá-lo.

"Almoça comigo." - pediu. A sua voz estava baixa, como se ele estivesse com vergonha.

Impedi-me de olhar para ele, quase tendo que colocar as mãos na cara para me controlar.

"Não." - respondi, curta e seca.

Ele mexeu-se do meu lado, parecendo desconfortável. Depois e sem eu esperar, pressionou o meu corpo contra a parede de aço daquele pequeno espaço. O ar parecia que fugia a cada segundo dos meus pulmões. Estava quase a entrar em pânico com o seu aperto e o seu olhar duro sobre mim, fazendo-me recordar tempos anteriores e todos aqueles homens.

"Não aceito um não como resposta Daisy." - sussurrou. A voz dura e contida. - "Vamos almoçar no restaurante que tem aqui ao lado. É um espaço agradável." - a sua voz foi-se suavizando aos poucos, mas não deixou de me assustar.

Senti as lágrimas nos olhos e tentei desviar o rosto, mas ele impediu-me segurando a minha face com uma das mãos.

"De que é que tanto tens medo, pequena Daisy?" - murmurou.

Desviei o olhar do seu ficando espantada por me sentir excitada com a pressão do seu corpo sobre o meu. Era a primeira vez que aquilo me acontecia.

Deixei que as lágrimas escorressem pelo meu rosto afinal, ele já me tinha visto chorar, apesar de odiar admitir isso.

Ele limpou as pequenas gotas salgadas e afastou-se de mim assim que a porta do elevador se abriu.

Saí dali o mais rápido que consegui, apressando o passo quando ouvi os seus atrás de mim. Pouco depois, agarrou o meu braço fazendo-me parar. Já estávamos fora do edifício pelo que ele me arrastou até dentro de um restaurante. Sem dizer nada, agarrou a minha mão, surpreendendo-me, e pediu uma mesa para dois.

Assim que nos sentamos designou-se a olhar para mim.

"Não me podes forçar a almoçar contigo, Ashton." - sussurrei. A minha voz revestida de raiva.

"Relaxa Daisy. É apenas um almoço."

"Eu deveria levantar-me e sair daqui para almoçar com o teu irmão, só para te fazer ver que não mandas em mim." - coloquei a mão em cima da mesa, fazendo força na mesma para tentar controlar a fúria que me invadia. A minha voz permanecia enganadoramente calma contudo, fria.

"Mas não o vais fazer porque preferes-me a mim do que ao meu irmão." - sorriu de lado.

A sua mão foi para cima da minha onde ele fez uma pequena pressão.

"Eu sei que gostas da minha presença Daisy." - sorriu de lado. - "Apesar de ainda não compreender porque é que me tentas afastar."

"Não importa." - retirei a minha mão de debaixo da sua e encostei-me na cadeira de braços cruzados, à espera que algum empregado nos viesse atender.

Sim, aquilo seria apenas um almoço, mas eu tinha a certeza que seria um longo almoço, longo até de mais.

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ThinkingOutLoud69

Secrets of Past (A.I)❀Onde histórias criam vida. Descubra agora