CONGELADO PELA NEVE

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Ottawa, Canadá

Depois

        Do Kyung Soo tinha arquitetado pouquíssimos planos para a sua vida — e se apaixonar por um romancista sonhador, casar-se com ele e migrar para o subúrbio do enregelado Canadá; limitando seus dias ao confinamento de uma pequena casa na sombra do país, sendo assombrado pelo frio ininterrupto e o teor maçante de como cada estação se propagava e contorcia-se numa mudança lenta não estava anexado a eles.

        A vida em Ottawa não era nem remotamente reconfortante para Kyung Soo. Ele não gostava do fato de que residia naquele lugar miúdo e detestava estar quase sempre sem nada para ocupar o tempo. Aquele país era aborrecedor. As etnias e linguagens se misturavam e atropelavam o seu discernimento sem freio. Repudiava o frio dos invernos congelantes, que sempre deixavam os nós dos seus dedos mortalmente lívidos e doloridos. Estava sempre enfiado em muitas peças de roupas, continuadamente na mesma estação de calor inexistente, e era cansativo vesti-las tanto quanto era para tirá-las.

        No entanto, ele permanecia no mesmo lugar, por uma razão mais forte do que toda a sua aversão pela vida no Canadá — e o único motivo que não o fazia desistir de tudo e voltar para Busan no primeiro voo para fora do país. Era apenas a completa e inevitável existência de Byun Baek Hyun. A pessoa pela qual Kyung Soo apostou toda a sua felicidade e deixou sua vida para trás, limitado a se satisfazer sob a base dos desejos de alguém que não era ele.

        A sua vida atual era um inferno congelado no tempo e ele não podia culpar Baek Hyun. Não podia culpar ninguém pelas suas decisões se não a si próprio. Desde o início, quando encontraram-se sob aquela chuva de verão, Kyung Soo sabia no que estava se afundando. Baek Hyun era bom demais para ele, e estava ciente de que pisava em solo muito fértil, espalhando suas muitas sementes secas e mortas e esperando que Baek Hyun fosse capaz de cultivar e colher seus sonhos.

Esperava que ele fosse tantas coisas positivas em sua vida de merda, e tantas coisas boas aconteceriam e compensariam os estragos dos anos anteriores, do mau relacionamento, das muitas falhas e cadências da sua alma e mente deturpada, que permitiu a autonegligência. E Baek Hyun mostrou-se compatível para entorpecer toda uma vida de lama, soprando as mágoas e maldades de Kyung Soo para longe; amando-o, beijando-o e deitando-se com ele em todas as noites frias.

        Baek Hyun havia, apaixonadamente, calado uma vida soturna e arrastado-o para a margem do seu mundo que beirava a felicidade eterna.

        Mas Kyung Soo sabia que tudo isso estava muito perto de acabar, sempre esteve muito próximo do limiar. Ou, como Baek Hyun uma vez lhe dissera; a um cigarro de distância.

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        Kyung Soo abriu a porta e colocou a mão para fora de casa. Imediatamente sentiu o frio agonizante nocautear seu membro descoberto e os ossos dos dedos enrijecerem como rochas. Não havia um ritual para se preparar, algo que espantasse o frio, tudo que tinha de fazer era sair, bem como o fez.

       Ele fechou a porta de entrada atrás de si e caminhou um pouco pela faixa de pedras fincadas no chão. Estava frio, não mais do que o dia anterior ou tão menos quanto uma semana antes. Estava apenas, monotonamente, frio.

        À medida que atravessava o pequeno jardim tingido de branco no quintal frontal da casa, afundava na neve com cada passo, enterrando os pés até quase alcançar a borda do cano médio dos coturnos. Fazia um frio tão pavoroso, que todo o seu corpo se arrepiava quando o vento soprava contra ele. Suas roupas não pareciam ser suficientes para aquecê-lo daquele inverno nem das estações adjacentes.

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