BANDEIRA BRANCA E ACIDENTES À PARTE

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Busan, Coréia do Sul

Ainda


        Sob a intrépida chuva de verão, eles olharam-se, incapazes de articular frases e projetar movimentos. Olhos vidrados, frases congeladas na garganta, receios e agitação interior. Baek Hyun queria dizer tantas coisas. Mostrar que não se importava o bastante com aquela ordem idiota de mantê-lo longe para voltar e ser persistente. Queria dizer tantas coisas, mas chuva se encarregaria de diminuir sua voz. Quanto a Kyung Soo, ele queria apenas esquecer. Não importasse que fosse Jong In, Baek Hyun ou aquela maldita chuva, queria apenas apagar da sua existência.

        A água despencava como estalactites do declínio do guarda-chuva, desfazendo-se no chão. Gotas grossas pingavam às bicas do cabelo de Kyung Soo — e do seu nariz, do queixo, dos dedos e da roupa também. Estava fazendo um frio pavoroso, mas tinha algo que agarrava seus pés ao chão, enraizado pelo que havia de intenso na presença de Baek Hyun. No mais, seu corpo estremecia sob o véu de suas roupas geladas.

        O baque da chuva começou a crepitar alto nos ouvidos de Kyung Soo, ganhando força contra seu corpo trêmulo. Ele propôs a si mesmo um rápido estudo facial de Baek Hyun. Ele era bonito. Não, era lindo — como já havia notado muito tempo antes. Nenhuma análise externa era necessária para medir a inigualável beleza de Baek Hyun, mas quis experimentar a sensação do vislumbre.

        Baek Hyun tinha castanhos olhos encantadores e incontestáveis à sua nacionalidade. Os lábios eram esbeltos e acentuados, moldados à perfeição no seu rosto de porcelana. E o cabelo. Ah, o cabelo laranja — o maldito cabelo tingido que o destoava em qualquer lugar, no meio de qualquer multidão. Mesmo com o guarda-chuva leitoso sobre a cabeça, o cabelo ainda assim se assemelhava a um sol poente de romances piegas. Para Baek Hyun, era apenas uma coloração qualquer que estirou em seu cabelo, mas, para Kyung Soo, era seu selo, uma característica da exclusividade da pessoa que a carregava. Era estranho e talvez um prejulgamento raso, mas o cabelo de Baek Hyun condizia com todo o resto; desenvolturas, falas, olhares e uns, ora trêmulos, ora confiantes, sorrisos.

        Baek Hyun era tão perfeito que até mesmo a ideia de lhe dar as costas parecia egoísta. Apesar de querer ser aquela porcentagem boa da população — dos que recolhem lixos das estradas e acolhem animais atropelados —, Kyung Soo sabia que ceder passagem para Baek Hyun em sua vida seria como dar um tiro no próprio pé. Sendo assim, com esses pensamentos envolventes de beleza física e lisonjeira falta de coragem para mirar nos próprios membros rodopiando em sua mente, Kyung Soo decidiu que aquele momento não era nada, tudo estaria acabado quando lhe desse as costas, afinal.

        Foi exatamente o que fez.

        Ele estava fazendo aquilo de novo. Fugindo como um covarde. Porque a melhor decisão sempre se voltava para uma fuga melodramática e de triunfante efemeridade. Kyung Soo era fraco e sempre seria incapaz de controlar sua mecânica de impulsividade caso viesse a machucar alguém. E começou a temer tão assustadoramente que esse alguém fosse Baek Hyun, que não conseguia suportar mais um segundo da sua presença. Deixar as pessoas livres são o melhor caminho, pensou ele.

        Deixo-o livre. Saia do seu caminho, idiota.

        E deixou Baekhyun.

        De costas, não precisava olhar para alguém, tampouco sentir algum tipo de sentimento belicoso. Contudo, Kyung Soo lembrou-se cinco segundos depois da largada de volta para casa, a baixa da retaguarda era o caminho mais rápido para uma perda de combate. E seu combate tinha terminado. Podia juntar-se ao banco dos abnegados e passar um gelo na ferida aberta; tinha perdido.

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