VOCÊ TAMBÉM MENTIU

36 3 0
                                    

       Busan, Coréia do Sul

Depois


        Kyung Soo cessou seus passos. Era a primeira vez que estava ali, e, muito provavelmente, a última também.

        A lápide de Jong In inspirava à velhice. Estava cheia de talhos nas laterais, como se tivesse passado muito mais tempo do que na realidade. Algumas folhas secas foram varridas pelo vento e deslizavam pela superfície puída da lápide de madeira. Um ramo de flores estava murcho no centro, os lírios e hortênsias completamente descoloridos de um tom morto e pegajoso.

        Kyung Soo se perguntou por que até a mortalidade das flores lembravam Jong In. O mundo parecia muito injusto quanto a lembrá-lo em todas as coisas.

        Olhou para o buquê de rosas brancas que segurava, o papel emitindo um incômodo ruído envolta dos caules das flores.

        Acho que você não merece que eu esteja aqui. Você me proporcionou algumas coisas boas, mas não tanto quanto me machucou. E, mesmo assim, ainda passei por cima de cada uma delas, somente para permanecer ao seu lado, como um idiota. Será que eu realmente te amava?

        O coração de Kyung Soo estava fundo e dolorido. Estar ali, na frente de quem um dia ele amara e o fizera tão infeliz, era como voltar no tempo. Era estarrecedor e dolor, como se suas cicatrizes se abrissem novamente. Apesar disso, uma parte sua insistia em querer vê-lo uma última vez. Como uma despedida de verdade. Como a despedida que nunca conseguiu dizer.

        Jong In havia lhe feito muito mal, ninguém nunca superaria o peso das suas maldades jogadas nas costas de Kyung Soo. Jong In fora a pessoa que moldou Kyung Soo e o converteu ao seu espírito que era. Um espírito que outra pessoa resgatou.

        A brisa da manhã farfalhou contra a grama e agitou as flores que Kyung Soo segurava, causando barulho com o papel.

        A estive tão perdido nesses últimos anos e sempre achei que era eu quem devia arruinar tudo, como se eu tivesse matado você e reencarnado em mim mesmo. Quando eu pensava que tinha te esquecido, que todo o mal que você me fez tinha se apagado, você reaparecia, e eu era menos eu mesmo e mais você. E então eu não sabia como amar aquele Baek Hyun do jeito que ele merecia. Porque era como se eu estivesse refazendo os seus passos, cravando marcas em outro alguém. Envenenando uma outra alma.

        Kyung Soo respirou fundo e aspirou o aroma doce de uma fragrância feminina que não estava ali antes. Olhou de relance para o lado e notou o rosto jovial de uma mulher parando ao seu lado. Ela estava trajada de roupas longas e leves, tinha os cabelos castanhos curtos, e um cenho triste que se adequava a ocasião. Segurava um buquê de tulipas e hortênsias, igual as que morreram na lápide.

        Kyung Soo observou-a enquanto ela se agachava e colocava o novo ramo no centro da lápide. Depois pegou as flores mortas e segurou pela haste dos caules, sem se importar com a substancia pegajosa que gotejava das pétalas.

        Ela encarou as flores mortas e sem cores, os olhos tristonhos e marejados. Demorou-se um tempo naquele tipo de reflexão silenciosa. E, quando Kyung Soo supôs que ela iria chorar ou simplesmente sair andando depois de fazer os votos em silêncio, ela olhou-o. Ele demorou em nutrir algum tipo de compaixão por aqueles olhos oblíquos.

        — É tão estranho quando as pessoas morrem. — Ela disse, de repente, com uma voz rouca e baixa. — Em um dia estão sorrindo e no outro somos obrigados a entregar flores para simbolizar sua importância em vida. — Ela conseguiu sorrir. Um sorriso soturno e cheio de lembranças. — Elas simplesmente se vão, em um piscar de olhos. — Abaixou a cabeça, olhando as flores.

FOR YOU - BAEKSOOOnde histórias criam vida. Descubra agora