3.

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Já se aproximava o início do funeral. As
pessoas começaram a chegar na igreja.
Me surpreendi. O local estava lotado, meu
corpo estava coberto com um véu branco,
em um caixão, decorado com rosas azuis
eram minhas preferidas- que se encontrava
ao centro do templo, em frente ao altar.
Todos que estavam presentes,
questionaram aquela situação de alguma
forma. Algumas pessoas culpavam a si
próprio, outras culpava, e julgavam meus
pais e o restante permanecia em silencio,
tentando compreender os motivos que me
levaram a cometer ato tão brutal.
Jean, se aproximou do caixão, e começou a
chorar, tudo que estava preso saiu em
forma de lágrimas, suspiros e soluços.
Parecia que só ali, perante ao corpo, ele percebeu que eu realmente havia partido.
Ele ficou lá, parado, em prantos.
-Perdão Amanda, eu poderia ter evitado. Eu
devia ter evitado. eu nunca vou me perdoar
por isso. -Ele repetia baixinho. - Após um
longo suspiro, se retirou.
Meu irmão, Davi, que tinha apenas 10 anos,
se aproximou do caixão. Agora ele
entendeu o que aconteceu. Ele já não era
tão criança assim. Pra ser sincera, Davi
sempre foi esperto e atento. Então ele
levantou o véu, e acariciou meu rosto frio e
morto, enquanto dizia:
_ Porque você me deixou Amanda?
Porque fez isso comigo, porque me
abandonou? Eu te amo, eu nunca vou te
esquecer. Por favor, pela última vez eu lhe
peço, acorda Amanda.
-Eu te amo, acorda. – Lágrimas molharam aquele rostinho angelical.
Perante aquela cena, mesmo sabendo que
eu não podia, mesmo sabendo que ele não
iria sentir, tentei abraça-lo.
_ Perdão meu pequeno. Falei quase que
em um sussurro minha voz quase não
soava, tudo que eu queria era reverter
aquilo. Uma onda de
raiva, ódio, arrependimento e medo, me
envolveu. Então olhei para meu corpo no
caixão, ele parecia tão sereno, como se
todo o caos, desordem e medo, tivessem
passado. Mas, sabia que não tinha, toda
aquela confusão havia apenas começado.
Então disse ao meu próprio corpo:
_ Você se acha tão forte, não é? Você acha
mesmo que a confusão passou, o
desespero, a desordem, acha mesmo que
acabou? Não mesmo, você foi egoísta. Não
pensou neles. Como foi capaz. Porque você
não observou a natureza? Porque não leu
seu livro pela última vez? Você devia ter
saído do seu quarto, gritado, chorado...Cantado sua canção. Você
parece dormir, parece descansar. Você
tentou acabar com seu sofrimento e agora,
causou o sofrimento deles. Eles não
mereciam isso, não mereciam.
Minha voz já não soava, parecia ter sumido,
por mais que eu tentasse falar. O desespero
tomou conta de mim, comecei a chorar.
Almas também choram, também sofrem,
mesmo que ninguém possa ver ou ouvir. De
repente minha voz voltou, então eu gritei o
mais alto que podia. Deitei em cima daquele
corpo, com a esperança de voltar a viver,
com a esperança de conseguir consertar
aquela situação, mas dessa vez, eu falhei.
Quando eu vivia eu queria morrer, e agora
que estou morta, tudo que eu quero é voltar
a viver. Mas isso já não é possível.
Alguns minutos se passaram, me levantei
um pouco mais calma, e voltei a observar o que acontecia no mundo mortal.
Todos comentavam o quão maravilhosa
eu era, falavam e recordavam dos meus
trabalhos sociais, do brilho do olhar, o
sorriso que sempre era presente em meu
rosto, falavam do meu carisma, E que eu
era um exemplo de ser humano. Mais uma
vez questionei, qual seria os motivos pelos
quais eles não me disseram isso antes. - E
o sentimento de culpa, invadiu-os por nunca
terem me dito aquilo.
Todos fizeram a vigília fúnebre. Já eram
quase quatro horas da manhã do dia
seguinte, o sol já estava prestes a nascer.
meu pai se aproximou do caixão, atraiu a
atenção de todos disse:
_ O horário do enterro se aproxima. Foi uma
grande perda pra todos nós. nossa querida
Amanda partiu cedo demais. E agora temos
que ser fortes e tentar seguir em frente.
Antes de partir, ela nos deixou uma carta.
Vou lê-la pra vocês. me perdoem se eu
travar. – Meu pai leu a carta, com voz trêmula, tentando segurar o choro. E todos
ouviam atenciosamente.
A cada frase lida, cada virgula. Os que
ouviam, ficavam chocados, e até aqueles
que permaneciam fortes até aquele
momento, choraram, como se a consciência
tivesse pesado.
A carta foi escrita momentos antes de
minha despedida, aquelas palavras eram as
mais sinceras e verdadeiras.
Aquela carta dizia:

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