Confesso que me apaixonei e desejei a vida
por diversas vezes. A cada nascer do sol, a
cada levantar da noite, a cada semana, mês
e ano.
Me entristeço por saber que poderia ter me
apaixonado por viver ainda em vida, mas
não me permitir tal coisa.
Me dói acompanhar as consequências que
minha morte trouxe para a vida daqueles
que tanto amo. Logo eu, que achei que o
suicídio seria a tão sonhada solução. Na
verdade, todos os suicidas acham que tal
ato é solução. Mas te digo com certeza que
não é. A verdadeira solução, é permitir-se
apaixonar por viver. Eu sei que é difícil, pois
a cada ano que passa, nossa sociedade está se esquecendo o significado da palavra humanidade.
Durante todos esses anos, pude observar e
aprender muito sobre o mundo no qual
vocês vivem.
A cada ano que passa, vocês estão mais
conectados com o mundo. As pessoas
estão mais distantes de outras pessoas.
Vocês estão informados, mas não
formados. Vocês sabem sobre o mundo,
mas o conhecem. Muitas vezes não
conhecem as pessoas que trabalham,
estudam, pegam o ônibus com você todos
os dias.
Muitas vezes não veem o nascer do sol,
muito menos o cair da noite. Não sentem a
brisa, não sentem a chuva, não sentem o
perfume das flores.
Vocês não se permitem se apaixonar e saborear a vida como ela é: Bela, longa, cheia de oportunidades.
Pude observar que vocês não abraçam as
pessoas, mal dizem bom dia, não olham
nos olhos... por que vocês fazem isso?
Vocês sabem o valor de um abraço? De
um carinho, se um toque... parece ser tão
simples e realmente é; mas são essas
pequenas coisas que fazem a diferença.
Tantas vezes desejei apenas um abraço,
apenas uma demonstração de carinho,
Muitas vezes só queria alguém para
conversar, para dizer como foi meu dia.
Apenas um pequeno ato.
Já parou para pensar, que seu sorriso pode
salvar uma vida? Aposto que não.
Pessoas precisam de pessoas. Isto é fato.
Não falo de amor platônico ou no sentido de
relacionamentos amorosos. Digo no sentido
de amizade de carinho de empatia. E isso
está faltando entre vocês. Empatia!
Qual foi a última vez que você saiu com seus amigos? Ouviu sua música preferida?
Fez um desenho (mesmo que não saiba
desenhar)? Qual foi a última vez que você
se apaixono pela vida? Que você se
permitiu ser feliz? Sabe, é preciso ter
coragem para ser feliz.
Qual foi a última vez que você ajudou
alguém, apenas por ajudar? Qual foi a
última vez que você disse EU TE AMO para
alguém?
Aqui no vale dos suicidas, chegam pessoas
novas todos os dias, todas as horas.
Pessoas de todas as idades. crianças,
jovens, adultos e idosos. Todos com a mais
diversa história, dos mais diversos lugares
do mundo.
no horário do mundo mortal, a cada 40
segundos, alguém comete suicídio. São
quase 800 mil óbitos por ano. Onde 90% dos casos podem ser evitados. Isso não são apenas números e estatísticas, isto é vivência. Sei que a esta
altura da história, estou sendo mais seria
que o normal. Mas imagino que minha
história poderia ser diferente, assim como a
história das 799 mil outras pessoas, que
cometeram suicídio naquele ano.
O suicídio é a última opção de quem sofre,
de quem está confuso(a) consigo
mesmo(a).
Preconceito gera suicídio, LGBTfobia causa
suicídio, machismo, racismo, xenofobia,
intolerância religiosa.
Não seja intolerante. Ame acima de tudo,
independente de tudo. O amor cura, o amor
salva, o amor é a solução.
Por diversas vezes me pego imaginando
como seria se não tivesse morrido...
Eu poderia ter me formado no ensino médio, passado no vestibular, conseguido o emprego dos sonhos, construir minha casa, conseguir tirar minha carteira me motorista
e ter conseguido realizar todos os sonhos
que tive. poderia ter me apaixonado pela
vida antes e ter evitado toda a situação que
minha família está passando por minha
causa. Sem dúvidas não estaria
sussurrando minha história para você,
enquanto seguro minhas lágrimas. Mas não
adianta mais imaginar, já não posso realizar
nenhuma daquelas metas. Agora elas são
apenas desejos não realizados.
Sabe, hoje me apaixonei mais uma vez.
Porém dessa vez foi diferente. Me apaixonei
pela minha própria história. Me apaixonei
por conta-la para você, me apaixonei por
você. Mesmo não te conhecendo, me
apaixonei por saber que você ouviu minha
história, mesmo sem me conhecer. Graças
a isso, mais uma vez, me apaixonei por
viver, mesmo não podendo mais fazer tal coisa. Eu não sei como minha história chegou até
você ou porque você decidiu dar atenção a
ela. Mas espero que de alguma forma eu
possa ter ajudado.
A você que acompanhou a história, tenho
mais um pedido.
Talvez você não tenha pensamentos
suicidas, depressão, ansiedade ou
quaisquer outros transtornos mentais. Mas
tenho certeza que você conhece alguém
que passa por algum tipo de transtorno ou
possa ser que apenas esteja passando por
algum conflito interno. Seja qual for o
problema que essa pessoa tenha, ajude-a.
Converse com ela, tente ajuda-la.
Preste atenção e cuide, daquele filho ou
filha, que só fica o celular ou no quarto.
Converse com ele(a) sem julgamento.
Apenas os escute e abrace-os. Pois pode fazer a diferença.
Cuide de seu(sua) namorado(a) que chora
por tudo, que está sempre carente. Cuide
do seu tio que antes era o palhaço da
família e hoje quase não conversa. Cuide
daquela pessoa que possa ser que você
não conheça, mas que cruzou seu caminho
e apresentou um ar triste.
Cuide de você, peça cuidados. Se
autoconheça. Em todos esses casos,
mesmo se após a conversar com uma
pessoa se sentir melhor, busquem um
profissional. Pois ao contrário do que
pensamos, psicólogos e psiquiatras não são
para pessoas “doidas”. São para pessoas.
Eles vão te ajudar e você vai se sentir
melhor.
Não cometa o mesmo erro que cometi.
Lembre-se, diferente do que dizem por aí,
não se vive apenas uma vez. Se morre apenas uma vez, viver, vivemos todos os dias.
Hoje me arrependo muito por ter
interrompido minha vida. Dói ver minha
família e amigos sofrendo. Dói não poder
fazer nada para evitar o sofrimento deles,
dói observar a humanidade se autodestruir
e se dividir por tão pouca coisa. Dói me
apaixonar pela vida todos os dias e não
consegui viver mais uma vez, pois
infelizmente, resolvi “solucionar” um
problema temporário, com uma medida permanente. Problema que poderia ter sido resolvido junto com as pessoas que amo. E claro com a ajuda de um profissional.
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Me apaixonando pela vida
RomanceA história é narrada por Amanda, uma adolescente de 17 anos que cometeu suicídio. após realizar tal ato, ela ( Amanda) se arrepende, se apaixona por viver e tenta retornar, mas já é tarde demais para isso.