Ainda estava muito cedo para ver qualquer
pessoa, todas as que conhecia ainda
dormiam. Decidi então, dar uma volta pela
cidade, caminhar pela praça. Enquanto
caminhava me deparei com Sr.
Carlos em sua bicicleta, ele era o padeiro
da cidade, todos os dias, nas primeiras
horas, ele subia em sua bicicleta e levava
pães, bolos, biscoitos, café e leite, para
aquelas pessoas que moravam longe de
sua padaria. Era um sucesso, o admirava
muito por realizar ato tão bom.
Mas aqueles belos raios de sol, que
iluminavam com êxito as primeiras horas do dia, foram dissipados por nuvens escuras e
ventos frios. Não demorou muito para que
começasse a chover.
Davi já estava indo pra escola, meu pai e
minha mãe já haviam ido trabalhar. Meu pai
era advogado em uma empresa
multinacional, minha mãe psicóloga. Ela
tinha sua própria clínica.
Você deve estar se perguntando: mas, se
ela é psicóloga porque ela não percebeu
seus indícios? Ou tentou te ajudar de
alguma maneira?
A resposta é simples: 'isso nunca vai
acontecer comigo ou na minha família.' Por
mais profissional, dedicada, competente...
Que minha mãe fosse, quando chegava em
casa, não conseguia enxergar meus sinais.
Mas, antes que vocês a juguem, sim, ela
tentou me ajudar. mas vamos dizer que não
deixei, de alguma maneira não queria preocupa-la com meus problemas. Na verdade, não queria ajuda de ninguém. Pois
não queria preocupá-los. Afinal era um peso
pra mim mesmo, imagina ser um peso pra
eles? Realmente não queria isso.
Acompanhei Davi pelo caminho da escola,
ele amava estudar. Nunca tivemos
problemas, estudávamos na mesma escola,
só que em prédios diferentes, raramente
nos víamos. Mas quando acontecia
geralmente era na biblioteca, onde
conversamos sobre vários livros, líamos,
indicávamos para nossos amigos,
escrevíamos e recitávamos poesias
autorais. Meu irmão era muito inteligente,
acho que já falei isso pra vocês, mas ele é
meu maior orgulho.
Davi fez a mesma rota de sempre. E lá ia
ele, com seu all-star preto, calça jeans,
uniforme, jaqueta de Harry Potter e mochila
camuflada. Então passou pela praça, posto
policial, saudou os guardas, pegou uma flor
na orla do campo de futebol e entregou pra senhora que caminhava por ali. Enquanto
andava, cantarolava uma música, que
quando prestei atenção, percebi que era a
minha música... O nome dela é Desabafo.
Realmente me surpreendi. A música dizia:
“(...) vejo minha vida passando frente aos
meus olhos e eu aqui no meu quarto, com
meu violão, meus livros, meus discos,
minhas confusões(...)”
Nossa escola ficava a algumas quadras do
cemitério da Cidade.
Fiquei encabulada quando percebi que Davi
passou direto pela escola e se dirigiu ao
cemitério.
Chegando lá, pegou um livro, leu algumas
páginas e fechou-o, pegou um caderno,
uma caneta e começou a escrever, conforme escrevia, lágrimas molhavam seu
rostinho. Quando se aproximou do horário de saída
do colégio, Davi se levantou e se dirigiu até
em casa.
No dia seguinte, mais uma vez Davi não foi
a escola. Pegou sua bicicleta e se dirigiu até
o cemitério onde eu havia sido sepultada.
Você deve estar se perguntado o motivo
pelo qual minha família não me sepultou no
cemitério da cidade. A resposta é bem
simples. Desde sempre minha família foi
sepultada ali e podemos dizer que essas
tradições são levadas muito a sério por
eles. Pois acreditavam que deveríamos ser
enterrados juntos com nossos ancestrais,
para que na “próxima vida” possamos todos
nos encontrarmos.
Quando Davi chegou no cemitério, ele
pegou uma rosa, se dirigiu até meu tumulo,
retirou um papel do bolso e colocou-o junto
com a rosa sob a lapide, que dizia: Amanda
Cardoso, filha amada, irmã exemplar, amiga
fiel... -2000-2017-. Um silêncio pairou sob aquele lugar. O dia
estava ensolarado, nem um sinal de nuvens
no céu. Apenas uma brisa suave e o cantar
dos pássaros.
De algum modo, a rosa enrolada ao poema,
apareceu em minhas mãos. O poema dizia:“saudade. Sentimento daqueles que amam.
Aperta Minh ‘alma, fazendo escorrer pelos
olhos o que já não cabe no peito.
Melodias, noites e dias. Fiz dela minha melhor amiga.
Queria te abraçar, te ter aqui. Mas só tenho
a saudade para manter vivo o amor que
sinto por ti.
Através do vento de outono, ouço sua voz. Sinto seu calor pelo sol de verão. Nas flores primaveris lembro-me de seu perfume forte. No frio de inverno seu abraço me faz falta. Você se foi, o amor ficou, o desejo de te ter
de volta a cada dia aumenta. Te guardo em
meu coração te eternizo em cada estação.”
Tentei abraça-lo, enxugar seus prantos. Mas já era tarde demais. Ele já não podia sentir-me.
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Me apaixonando pela vida
RomanceA história é narrada por Amanda, uma adolescente de 17 anos que cometeu suicídio. após realizar tal ato, ela ( Amanda) se arrepende, se apaixona por viver e tenta retornar, mas já é tarde demais para isso.