Capítulo VIII - Overthinker?

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Pensador demais. Poderia ser essa a tradução literal de "overthinker"? Seja como for, overthinker definia Annie nesse momento. Ela ainda não tinha parado para pensar sobre tudo... sobre todos. O que era real ali? Até que ponto algo acontecia ou era mera ilusão?
– Trillian...
– Oi, Annie!
– Você nunca se pergunta o que está acontecendo aqui?
– Acho que todos nós já nos perguntamos um dia, mas desistimos de descobrir a resposta...
– Mas... eu não quero desistir de descobrir os porquês! O problema é que... cada pergunta que eu faço me remete a outras perguntas.
– É sempre assim.
Houve uma pequena pausa e Annie ficou observando o universo pelos vidros da nave.
– Será que eu realmente existo?
– Eu consigo te ver, te tocar e te ouvir. Claro que você existe, Annie!
– Mas e se, na verdade, nem você existe e tudo isso que sentimos não passa de ilusão?
– Annie, o que te faz pensar assim?
– Tudo que está acontecendo me faz pensar assim... - Annie diz com uma voz pensativa e olhando para um pacote em suas mãos.
– O que tem aí nesse pacote?
– Um dos motivos de eu achar que isso tudo não passa de ilusão... de sonho se tornando realidade. - Annie pausa por um instante - É um presente do Obi-Wan, sim, do próprio Obi-Wan pra mim.
– O que é?
– Um sabre de luz, o sabre de luz dele próprio. Ele funciona, é real. Ou pelo menos parece ser... - Annie diz, ligando simultaneamente o sabre de luz, surgindo um forte laser azul na frente dos seus olhos, entre ela e Trillian.
– Meu Deus, Annie, ele... ele realmente te deu isso?
– Antes de eu entrar na Coração de Ouro ele me deu e pediu que eu só abrisse depois de decolar. Acho que ele adivinhou que eu iria devolver se abrisse naquele momento.
– Bom... então... aproveite o que você tem, acredito que a improbabilidade de você ganhar isso é tão alta que você deveria aproveitar cada átomo desse presente.
– Mas, você acha que isso vai ser útil algum dia?
– Se depender de Ford e Fast, as furadas que eles nos colocam todo dia, vai ser mais útil do que imagina.
– Eu vou improvisar um tipo de bolsa pra colocar ele, não quero que fique exposto.
– Posso arranjar uns tecidos pra você. Vou ver com o Computador ou com Marvin o que eles têm.

Tecidos. Annie pegou os tecidos que Trillian a entregou e começou a costurar – fazendo algumas gambiarras – uma pequena bolsa do tamanho certo para um bom sabre de luz Jedi. Ela não sabia para onde estava indo, e, sinceramente, preferia nem saber. Já tinha se acostumado com essa história de viajar pra um monte de universo sem saber onde realmente estava. Onde realmente estava. Ela não sabia nem se ela própria era real, se Fast era real, se Trillian era real, quem dirá se o lugar que ela estava era real. A dúvida era o que pairava sobre tudo e todos. O que estavam fazendo? Onde estavam indo? Qual a probabilidade de algo acontecer? Quem eram todos os seres estranhos que existiam – ou não – ao redor deles? Qual era o universo "oficial"?

Pin, pin, pin. Soa o alarme da Coração de Ouro. A nave começa... uma turbulência? Annie se perguntava como era possível uma turbulência no vácuo, mas desistiu de encontrar uma explicação, já que nada que ela tinha se perguntado até agora tinha uma resposta concreta, então decidiu ignorar a física e a geografia naquele momento. Continuou costurando a bolsa e ignorando qualquer coisa que estivesse acontecendo.
– Fast, o que está acontecendo - Ford se aproxima da sala de comando.
– Oh, Ford! Que bom que está aqui, conhece essa nave melhor que eu!
– Não posso te afirmar muito bem isso, mas... é...
– Você conviveu com Zaphod, deve ter visto como ele controlava essa bagaça aqui.
– É, eu via, mas eu não faço a menor ideia de como ela funciona.
– Ah, dá uma olhada aí. Vê se você consegue, pelo menos, identificar o problema que tá acontecendo. Já vi de tudo - ou quase tudo - nessa vida, mas nunca vi turbulência no vácuo.
– Hamm... Não seria melhor chamarmos Zaphod?
– Ah, Ford, é tolice! Zaphod deve estar ocupado discutindo entre suas duas cabeças.
– É... ele é meio insuportável às vezes mas eu acho que dá pra gente aguentar ele só por uns minutinhos.
– Ford, Ford. Conhece Zaphod. Ele vai querer voltar pra essa nave se a gente chamar ele.
– Vamos pelo menos tentar, eu não acho que ele seja mais insuportável do que o barulho desse alarme ultrassônico!
– Faça como quiser então, eu não faço a menor ideia de como consertar isso mesmo.

Zaphod. Annie ainda não o conhecia, e, ao mesmo tempo que estava ansiosa para saber quem ele era, não sabia muito bem se gostaria dele. Ela estava pensando nisso quando ouviu Ford passando com Marvin.
– Faça-me um favor! Quando eu pensei que tinha me livrado do Zaphod e aquelas duas cabeças barulhentas você me vem com essa? Ah, Ford, eu acho que vou explodir meus circuitos.
– Marvin, não é tããão ruim assim. Ele nem vai ficar aqui, só vai resolver esse problema na nave e ir embora.
– Pelo que eu conheço do Zaphod, ele não vai querer dar só "uma passadinha" aqui. Ele vai se infiltrar nesse lugar e não vai sair mais. Mas, como minha opinião não vale de nada, já que, obviamente eu não chego nem aos pés de vocês na minha inteligência, não, não mesmo, porque eu nem sou um dos robôs mais inteligentes criados, óbvio que não, vou ficar quieto.
– Olha, você podia usar essa sua inteligência pra fazer menos drama. Nunca vi isso, um robô tão dramático.
– Eu já disse que a culpa não é minha. Eles que me criaram com sentimentos.
– Tá, tá. Eu vou ligar pro Zaphod.
– Vai lá, depois não diz que eu não avisei.

Pensar. Annie entrou de novo no seu momento "pensativo". Começou, novamente, a pensar em tudo. Pensar na sua família, pensar nos seus amigos, pensar na Terra, pensar sobre a vida, o universo e tudo mais.
– 42 é um bom número.
– Arthur?
– Eu estou vendo sua cara pensativa. Já desisti de pensar sobre como consertar essa nave e comecei a pensar sobre tudo que já passei com essa galera daqui... Onde eu ia imaginar que amendoins me levariam tão longe?
– Quando eu ia pensar que um professor de física estranho me levaria pra tão longe?
– Até que Fast se saiu bem, pensamos que ele não conseguiria.
– Então você já sabia que alguém voltaria com ele?
– Eu já sabia que você voltaria com ele.
– Como?
– Geradores de Improbabilidade Infinita. Sempre acertam.
– Uau...
– Sabe, eu te recomendo a não ficar pensando muito.
– Por quê?
– Você pode enlouquecer.
– Mas é tudo novo aqui, tenho que pensar.
– Finja que não é. De início eu me assustei muito com isso tudo, Ford me levando pra diversos lugares aleatórios e eu sem poder fazer nada, porque não conhecia completamente nada. Comecei a parar de me desesperar. Se aquilo tudo era real ou não, nem me importava mais. Eu só ia pra onde me levassem e aproveitava o que tinha pra mim.
– Sinceramente... Acho que vou fazer isso. Pensar demais pode até ser bom às vezes, mas em alguns casos não. Eu estava ouvindo Overthinker agora, uma boa música.
– Ah, nunca ouvi. Faz tempo que não ouço um som terrestre, aqui só toca a playlist do Ford.
– Quer ouvir?
– Pode ser. - Arthur pega um lado do fone de Annie e começa a ouvir algumas músicas, enquanto aguardam a chegada de Zaphod.

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