Capítulo XII - Fim?

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Viagem. Enquanto entrava no portal, entre o ato de pisar dentro dele e de ser transportada para sabe-se lá onde, Annie se lembrava de tudo que tinha vivido até ali. Se lembrava de todas as risadas com Fast, das conversas com Trillian e de quando ouvia as reclamações de Marvin, o robô mais reclamão que ela já conheceu na vida — considerando que os únicos que ela conhecia eram... bem... computadores que não falavam. Isso a remeteu ao Computador da Coração de Ouro, um computador que simplesmente fazia o que vinha na sua cabeça, ou não fazia, se preferisse. Ao mesmo tempo que sorria, sentia a lágrima meio gelada escorrendo pelo seu rosto quente no momento. Até tudo ficou escuro. Em alguns momentos, tudo se tornou branco. Ao se virar, Annie vê um espelho. Não havia nada além dela mesma. Por algum motivo, enquanto olhava para si mesma no espelho, começou a chorar. Chorava profundamente. Ela foi desmoronando aos poucos até cair no chão, sozinha. Fechou os olhos.

Lembranças. Com os olhos fechados, as mesmas imagens já descritas continuavam passando pela sua cabeça. Ela, confusa, sozinha, com medo, com frio, perdida, não sabia o que fazer além de chorar. Annie não tinha coragem de abrir os olhos sem saber o que poderia ver. Ela só queria poder abraçar novamente todos os doidos que lidou durante sabe-se lá quando tempo. Se recordando do dia em que recebeu um sabre de luz do próprio Kenobi, colocou a mão no lado esquerdo do seu corpo, na altura do quadril, onde ele deveria estar, permanecendo com os olhos fechados. Ela sentiu um frio na barriga ao perceber que ele não estava lá. Desesperada por dentro, procurava consolo por abraçar a si mesma, e em poucos segundos se encontrava em posição fetal no chão frio do vazio. Ela não sabia o que fazer. Sentia medo de ter perdido todos. Apagou.

Retorno. Em algum momento, Annie se achou consciente novamente. Percebeu que estava com os olhos fechados e tudo estava preto. Abriu os olhos. A primeira coisa que viu foi um teto branco. Não entendendo, olhou para os lados. À direita, uma janela com uma cortina verde água entreaberta. À esquerda, um suporte de soro pingando em exatos intervalos de tempo. Seu coração acelerou.
– Eu poderia estar em qualquer lugar, qualquer dimensão, mas o que é isso? – Falou para si mesma.
Em alguns segundos, ouve passos correndo em sua direção. Imaginou que poderia ser Trillian a encontrando. Alguém abriu com força a porta e, ao olhar, era apenas um médico. Ele chamava desesperadamente uma enfermeira pedindo algo que Annie não conseguia ouvir no momento.

Minutos. Passou algum pouco tempo, e o médico mexia em várias coisas em volta de Annie. Ela ainda não entendia o que exatamente estava acontecendo ali ainda. Fechava os olhos toda hora para tentar ir para alguma outra dimensão, porque aquela não estava legal. Em um dado momento, o médico sai da sala para falar com duas pessoas que Annie novamente não consegue ouvir direito, nem enxergar, já que a porta havia fechado. Instantes após isso, sua mãe e seu pai entram chorando de felicidade pela porta. A abraçam, dão beijos e falam muitas coisas que ela realmente não presta atenção. Estava perdida, não sabia o que estava acontecendo.
– Filha, foram 42 dias em coma, pensamos que não voltaria mais! Você não sabe como sentimos sua falta. Seus colegas vieram aqui e trouxeram alguns presentes. Todos ficaram preocupados!
Nesse momento, Annie desaba. Ela começa a chorar desesperadamente, e não consegue mais se lembrar de tudo que passou com Trillian, Fast, Marvin e os outros. Automaticamente ela percebe que tudo aquilo estava apenas na cabeça dela, todas as aventuras, todos os risos, todas as alegrias. Nada existiu.
– Entendemos que esteja chorando, filha, nós também estamos. É muito difícil ver uma filha em uma cama de hospital por tanto tempo, e deve ser muito ruim saber que ficou tanto tempo inconsciente. Mas não se preocupe! Você está melhor, conversamos com o médico e sua alta será ainda hoje. Incrivelmente, você se recuperou 100% após acordar.
– Todos ficaram muito preocupados com você por não aparecer no primeiro dia de aula, por isso separaram toda a matéria desde então. Você não perderá seu ano por isso, sabemos que isso é importante para você.
– Você é bem forte, menina – Disse o médico.

Horas. Em casa, Annie começa a desempacotar todos os presentes de seus colegas e familiares. No seu quarto havia muitas flores, o que não agradou muito pelo fato de mais parecer um velório. Mas ela entendeu. Ainda não tinha soltado uma palavra aos pais, que também a entenderam. Com eles, abriu todos os presentes. Tinham brinquedos, roupas, cartões e algumas coisas aleatórias. Porém, depois de abrir todos, encontrou um sem nome de remetente. Foi a primeira vez que soltou a voz:
– De quem é este?
Os pais também ficaram confusos, pois não tinham visto quem entregou.
– Também não sabemos, nos entregaram tantos que não conseguimos nos lembrar exatamente de todo mundo, não é? A melhor forma de tentar descobrir é abrindo!
Ela o fez. Ao abrir o pacote, havia um outro, de couro e bem costurado. Annie pensou ser apenas uma bolsa, mas estava muito pesado para não ter nada dentro. Ao abrir, ali estava um sabre de luz. Quando o tocou, se lembrou de tudo o que tinha acontecido enquanto estava em coma, e voltou a chorar.
– Uau! Que presente, filha!
– Sim... não esperava – Annie diz soluçando, mas escondendo o real motivo de estar chorando.
Indo para o quarto, percebe um pequeno papel com uma assinatura: F, T & K. Ela não sabe se está assustada ou feliz. Teria sido tudo aquilo que passou coisas apenas da cabeça dela? Alguém soube de tudo o que sonhou? O que é realmente a realidade?

Voltou a dormir.

"A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez."

– Friedrich Nietzsche

– Friedrich Nietzsche

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