Capítulo XI - Portal?

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Cof, cof! Meu Deus, mas o quê... - Annie perde as palavras - ONDE EU TÔ?
– Está perdida, moza?
– Oi?
– Espere, és unha bruxa! Seus cabelos rubios, só podería ser froito de bruxaría!
– Céus, nunca pensei que aprender trovadorismo em literatura seria importante. Olha só, senhor, você consegue me entender? São línguas parecidas, é tudo português, a diferença é que o seu tem galego acompanhando o nome.
– Non me importa se entendo ou non! Tu és bruxa, e hai de ir para a fogueira!
– Veja bem, eu não sou bruxa. Eu vim do futuro por um portal estranho e não sei nem onde eu tô, respondendo à sua primeira pergunta, sim, eu estou perdida!
– Vostede disse "portal"? Isto est deveras froito de bruxaría! Fogueira xa!
– Disseste fogueira?
– Si, eu dixen! Vê esta herexe? Est unha bruxa, claramente!
– Senhores, de verdade, eu não sou bruxa, por favor... Eu, eu... Eu era zoada de "bruxa da Idade Média" na minha escola mas, olha, eu não sou uma bruxa, não mesmo. Na verdade eu nem sei como estou aqui, eu só quero sair em paz e de preferência sem morrer... Eu só quero sair daqui, como faço? - Annie fez uma pausa - Ok, já sei que não tem jeito.
Annie sai correndo ao mesmo tempo que tenta esconder seus cabelos ruivos. Olhando, bem longe, ela vê algo brilhando.
– Aquilo é o portal? Só pode ser o portal! Tem que ser!
Annie se aproxima, correndo cada vez mais rápido, enquanto ouve os vassalos gritando qualquer coisa relacionada a "fogueira".
– Vamos lá, eu consigo, eu consigo... Espera...
O portal começa a se fechar, aumentando gradativamente a velocidade.
– Não, não, não!

Puuuf... O portal se fecha por completo. Annie entra em desespero, pois não sabia o que fazer e continuava com camponeses feudais correndo atrás dela. Lembrando-se de que tinha com ela uma pequena carteira, Annie entra em uma área florestada e dispersa os estranhos perseguidores. Ela saca a carteira de seu bolso, abrindo-a e pegando uma das pequenas ferramentas ali contidas.
– Se é necessário, é isso que eu vou fazer.
Na carteira havia vários tipos de ferramentas em miniatura. Tesoura, alicate, navalha, estilete, chave de fenda, chave mestra entre outras muitas coisas. Annie usou a tesoura, reunindo coragem e cortando uma primeira mecha de cabelo.
– Não é de mecha em mecha que vou conseguir.
Respirando fundo e segurando firmemente a tesoura em uma mão e seu cabelo em outra, Annie o corta. Largando a tesoura, pega a navalha e passa pelo que sobrou de cabelo em sua cabeça. Os fios ruivos e ondulados estavam dispersos pelo chão, e Annie não podia nem mesmo ver a si mesma. Com o olho cheio d'água, ela sai correndo, mais uma vez.

Medieval. Muita coisa acontecia ao mesmo tempo. Após chegar em um local mais tranquilo, ou aparentemente mais tranquilo, Annie se senta para respirar. Os que passavam por ela a olhavam com certo ar de desconfiança e estranheza, principalmente por conta de seu cabelo - que, nesse caso, não tinha - e vestimenta, nada parecido com suas roupas medievais, seja do clero, nobreza ou do trabalho servil.
– Por Deus, onde eu fui parar? Eu nunca deveria ter entra... - Annie é interrompida quando percebe a formação de um outro portal, e vai correndo passar por ele.
– Não, não, NÃO! - Antes mesmo de Annie conseguir passar, o portal se fecha. - 5 segundos, 5 segundos é o tempo exato da duração desses portais.

Planejamento. Annie retira de seu bolso pedaços de papel e uma caneta, mais utensílios que, se vistos por qualquer tipo de pessoa que estivesse em volta dela, seria digno de acusação de bruxaria. Com tudo que estava passando pela cabeça de Annie, ela nem se lembrava mais da parte em que raspou o próprio cabelo. Evitava falar com qualquer um e pensava em como arranjar uma roupa apropriada para mulheres do feudo.
– Desisto – começou a raciocinar sozinha – Simplesmente desisto. Por que eu tenho que ter curiosidade das coisas? Caramba! Olho pra um portal estranho e entro, assim?! Que idiotice! Besteira! Argh!
Mais uma vez, um portal se abre, e Annie sai correndo, com esperança de alcançar o portal. E alcança.
– Meu Deus, meu Deus! – Ela mal consegue respirar – Onde que eu tô agora?! – Sem querer, e sequer ver, empurra a porta que está em sua frente.
– Oi... Hã... Desculpa a pergunta, mas... o que houve com seu cabelo? E em que momento você entrou...
– OI?! QUEM É VOCÊ? ONDE EU TÔ NESSE MOMENTO?!
– Hã... Annie? Tá tudo bem?!
– Milly?!
– Annie, o que houve?
– Mas... eu...
– Ok, ok... Você tá muito agitada. Vai beber uma água.
– Tá, não precisa. Onde tá o Fast, Ford, Trillian, Arthur..?
– Fast? Fast foi demitido há uns dois meses ou mais. Na verdade, ele nunca mais apareceu. E esses outros que você falou... não sei nem quem são.
– Quanto tempo faz que você não me vê?
– Annie, não sei o que tem de errado com você, mas você tinha me dito há uns 5 minutos que ia comprar um lanche e agora surge no banheiro.
– Espera... EU disse que ia comprar um lanche AGORA? Eu faltei algum dia de aula?
– É, você disse. E, não, não faltou nenhum dia de aula.
– Ah, não... ferrou! – Annie sai correndo em direção à cantina de sua escola e encontra o que já esperava – Não, não, não!
Ouve-se sussurros do tipo: "Como se parece com a Annie!", "Será que ela tem alguma irmã?", "Cadê o cabelo dela?!"
– Isso só pode ser um pesadelo, não é possível!
– Annie! Por que saiu correndo?
– XIIIU! Não fale meu...
– Oi Milly! Estou aqui!
– O que... o que...
– Milly, espera! Calma! Annie, calma!
– Mas o que é isso???!! Sou EU?
– Calma, sim, é, mas... eu também não sei!
Nesse momento todos já olhavam, abismados, para a situação. Annie (as duas) já estavam em desespero.
– SILÊNCIO! Eu vou explicar! – disse Annie, a que você conhece.– Olha, eu entrei em um portal, eu viajei pelo espaço-tempo. Eu não escolhi vir pra cá, esse seria o ÚLTIMO lugar que eu escolheria. Mas, em um outro contexto, meu antigo eu, antes da viagem, ainda está aqui, é a Annie, a Annie amiga da Milly. Eu sou uma intrusa nesse contexto, e apenas preciso encontrar uma saída daqui, pois esse não é meu espaço. Quero pedir desculpas pelo inconveniente. Eu... Eu... Preciso ir!
Annie sai correndo em busca de algum outro portal, não importa pra onde ele levasse. Ela só precisava sair dali, encontrar uma saída pra qualquer lugar que não tivesse uma outra Annie, em qualquer aspecto. E ela encontrou. Ela conseguiu encontrar, escondido nas estruturas da escola. A única coisa que seu cérebro processou nesse momento foi a ação de correr até o tão procurado portal, com firmes esperanças de reencontrar Fast, Trillian e Arthur. E entrou.

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