Tea

Votre

Você sabe que é pra você.

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Talvez eu me precipite quando olho para o céu e tento relacionar os tons do azul ao gosto de um algodão doce, e mais provavelmente, seja errôneo sentar e observar as pessoas, tentando adivinhar suas vidas. Na verdade, tudo pode ser apenas um verdadeiro equívoco bilateral.

Mas com toda a certeza que me cabe no ser, aquele verão não se encaixava nessa categoria.

Vovó tinha resolvido que passar seus anos enfurnada em uma casa era muito desperdício de vida, de modo que apenas arrumou uma pequena mala e sumiu pela Europa, deixando-me a incumbência de regar sua preciosa coleção de flores e cuidar de seus três gatinhos. Chimmy, Cooky e Choky. Não me pergunte o porque do tamanho amor a C's e Y's, porque eu não vou saber responder e, de qualquer forma, não é exatamente sobre os nomes dos gatos que eu quero falar. Eu quero falar sobre ela.

Joguei as malas no sofá assim que cheguei na casa da minha avó. Era uma construção que ria da palavra antiguidade, deitando-se sobre o passar do tempo graciosamente. Era um tipo de pequeno chalé de dois andares, extremamente aconchegante e do jeito que ela gostava: móveis de madeira, janelas de vidro e arranjos de porcelana. Ela adorava aquele lugar, principalmente quando vovô ainda estava aqui. Eles eram como Romeu e Julieta, Queijo e Goiabada, Blu e Jade... E até onde minha imaginação pode me levar, como eu e você poderíamos nos tornar.

O vento fresco que brincava com as leves cortinas esbranquiçadas na janela da sala era, simplesmente, de tirar o fôlego. Era a mais linda dança na mais pura sincronia, enquanto os raios de sol travessos contrastavam com os leves movimentos precisos e indefinidamente espontâneos ao mesmo tempo. Ah, como eu desejo que minhas palavras adquiram tal beleza ao falar de você. Acho que não vou usar palavras complicadas pra te descrever. Um dia, você me falou que gostava de simplicidade sincera. Talvez meus pensamentos não sejam sinceros comigo mesmo - me iludindo, vez ou outra, ao criar inúmeras histórias sobre o futuro - mas são todos imediatamente seus desde que te conheci. E talvez meu coração também não seja tão simples, mas eu ofereço-o a você, porque sei que vai saber cuidar dele.

Choky, o mais carinhoso de todos os três, já se embolava por entre minhas pernas enquanto eu tropeçava até a salinha de música, porque era meu lugar preferido. Minha avó tinha a voz mais linda do mundo, e sabia tocar vários instrumentos, mas o seu preferido era sem dúvidas o violino. Ela extraía notas tão leves, tão puras, tão intensas apenas com um breve roçar do arco sobre as cordas que minhas lágrimas fluíam como um rio sempre que ela começava a tocar.

Vovó não gosta de partituras prontas. Ela cria as suas próprias, seguindo a voz do vento e o cantar dos pássaros, observando o dançar das árvores e as batidas de asas dos beija-flores. Foi ela quem me ensinou a amar a natureza, e a agradeço cada vez mais por isso. Ao menos tive uma boa bagagem com a qual sustentar nossas conversas e os imensos termos científicos que você sempre usava quando conversávamos.

- Eu amo conversar com você - ela tinha sussurrado, enquanto observávamos o pôr-do-sol em uma segunda-feira à tarde. Virei o rosto em sua direção, encontrando seu olhar brilhante; suas longas unhas bonitas batucavam silenciosamente na mesa, fazendo nossas xícaras de chá tilintarem baixinho - Mas tenho que me concentrar demasiadamente para não me perder na imensidão dos seus olhos e nesse tom gostoso que a sua voz carrega. Você é intenso, Taehyung, e eu adoro isso.

Abri um dos baús da sala de música, sentindo o coração bater mais forte quando o cheiro do passado inundou meus pulmões. Não sei descrever o cheiro e nem mesmo a sensação. É como ser criança e passar pela rua, ver um pequeno hibisco radiante e imediatamente imaginá-lo no cabelo de sua mãe. Depois de algum tempo, aquela pequena flor vai ser graciosamente deitada por entre as páginas de um livro querido e, anos depois, você vai voltar a descobri-la, envelhecida e enrugada, marcando muito mais do que apenas uma folha - parece te lembrar de que, algum dia, pequenas mãozinhas puras dedicaram aquela flor a quem você mais amava; provavelmente as mãos tenham crescido, mas em algum lugar, você ainda é você.