Sporadique Session - La Maison Jaune Au Sommet De La Colline

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N/A: E eu vos apresento - possivelmente - o único romance que não é um romance de Tea.      

  Estava especialmente frio para um dia de outono. As folhas amareladas revolviam-se com o vento, indo para lá e para cá sem nunca - aparentemente - chegar ao seu destino. Enfiei as mãos dentro dos bolsos do moletom, desistindo de tentar esquentá-las. Nuvens brancas e fofas formavam-se à minha frente quando eu expirava, o que tornava todo o caminho mais divertido.

        Árvores secas de galhos retorcidos foram tomando a paisagem conforme o meu bairro se aproximava. Não era exatamente o bairro mais amistoso da cidade - e tampouco o mais bonito, apesar de que na primavera, os crisântemos que se abriam eram imbatíveis em beleza - mas carregava séculos de história, o que não era exatamente uma vantagem. Na verdade, e na maioria das vezes quando era verão, se tratava de noites mal dormidas porque garotos de 13 anos saíam de suas casas no centro para virem brincar na encosta da Colina, gritando estrondosamente com medo da casa assombrada.

     A Casa Amarela no alto da colina.

 Era uma construção antiga, majestosa. Erguia-se imponente acima de todas as casas do quieto bairro, observando-nos lá de cima. Tinha sido construída por algum tipo de duque ou marquês há muitos séculos, mas a família foi à falência quando se envolveu em brigas pelo trono. Dizem que só uma pessoa mora naquela casa - um velho decrépito e rabugento que tinha um olhar mais feroz que o de uma águia, vigiando-nos, pobres camponeses, por sua janela embaçada.

  Minha mãe sempre me disse para nunca subir a colina, porque dizia-se que alguma criança do tempo da minha avó havia desaparecido quando subiu lá altas horas da madrugada, gritando e pedindo por satisfações. Mas, francamente, por que uma criança desejaria tanto tirar a paz do pobre velho logo a noite?

     Infelizmente - ou não - nunca consegui entender as advertências da minha mãe, e tampouco os sussurros assustados das garotas da vila. Simplesmente não fazia sentido. Se aquele velho era velho desde que minha mãe era criança, então ele provavelmente já devia estar em fase de decomposição lá dentro - a não ser que ele não fosse um velho decrépito ou que houvesse uma Organização Secreta dos Idosos para revezarem a moradia lá de cima. 

     Mas, apesar de supostamente assombrada e desesperadamente assustadora, a Casa Amarela era linda. Era extremamente atrativo encará-la, solitária e autossuficiente, reinando naquela colina por séculos a fio. Vez ou outra ela aparecia nos meus sonhos, e eu sempre era corajoso o suficiente para subir a colina e parar em frente à varanda. Mas aqueles olhos sagazes sempre surgiam na janela, me fazendo despertar.

      - Taehyung! - ouço a voz irritada da minha mãe caminhar por entre as casas e me envolver lentamente, tirando-me do torpor que eu nem sabia estar vivendo. Estava, mais uma vez, parado ao pé da colina, sentindo o forte e ininterrupto vento bagunçar os cabelos que mamãe lutara tanto pra arrumar.

     - Oi, mãe! - gritei de volta, lançando um último olhar para a casa e tendo que olhar outra vez por talvez ter visto a sombra de alguém passar rapidamente pela janela. - Já... Vou...

     Engoli as batidas implorantes por aventura do meu coração, respirando fundo para conseguir enfrentar mais um sermão que eu sabia que viria. Caminhei lentamente até minha casa - modéstia a parte, a mais bonita - baixando o olhar quando a figura baixinha da minha mãe com as mãos na cintura chegou-me aos olhos. Por favor não briga comigo, por favor não briga comigo, por favor não...

     - GA-RO-TO! O TEMPO ESTÁ CONGELANTE! E JÁ DISSE PRA NÃO FICAR AÍ PARADO NA FRENTE DESSA ESPELUNCA! ESTAMOS TE ESPERANDO PARA O ALMOÇO HÁ QUARENTA MINUTOS SEU...

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