Desír

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Pássaros brancos enfeitando o céu

      azul turquesa.

      Casais passeando, e ao longe

     uma baronesa.

      Casinhas do outro lado do rio,

      Cortando o azul anil.

      Não eram pássaros, eram pipas feitas por crianças

      que imaculadas pela inocente infância

      brincavam na grama.

      O vento agitava as nuvens no céu

      em torno do azul pastel.

      Eram origamis de aviões

      simpáticos, belos e desprovidos de

Ah, e era você. Olhando para mim com seu sorriso leviano

      e logo éramos nós dois

      embaixo do azul ciano.

🌺

       Estava sorrindo quando abri os olhos. As imagens do último sonho deslizavam pelas batidas erráticas do meu coração tão perdido no acordes, nas cores, nas formas dela. Já esgotaram-se as palavras do meu repertório, e parece que vou ter que aprender outros idiomas apenas pra falar em outras palavras o que já me estava escrito na testa.

    Jane.

   Levantei apenas para ver o sol nascer do outro lado da janela, banhando as montanhas e refletindo nas pequenas e delicadas gotas de orvalho. Provavelmente, também brincava com a água das cachoeiras, que desciam em cascata - aliás, como seus cabelos, que lhe adornavam tão perfeitamente - apenas para seguir o curso do rio outra vez.

   Repentinamente, me veio a brilhante ideia de apenas pegar o celular e mandar uma mensagem pra ela. Se ela estivesse acordada seria uma grande sorte, e poderíamos conversar morrendo de amores como os casais - casais. Nós somos um casal - fazem.

      Esse era o plano até me recordar de que eu não tinha seu número de telefone. Talvez descobrisse stalkeando suas redes sociais, mas não sei bem como ela reagiria. Acho que é melhor lhe dar espaço. Segundo Chooky, eu estou ficando cada vez mais clichê.

      Mas seria uma boa ideia aparecer com um buquê de rosas?

     Não, rosas não.

      Chá. Chá orgânico.

      E depois poderíamos apenas andar por aí como sempre fazíamos - ou quase sempre. Jane acabou pegando um resfriado e eu não conseguia ser um bom (namorado, amigo, vizinho? Em que categoria eu me encaixava? Talvez em todas elas) ser humano e ajudá-la. Tudo o que eu conseguia fazer era rir de sua carranca e de seu nariz levemente avermelhado. 

      E apesar dos meus protestos, continuamos nos beijando, então eu também me resfriei quando ela começou a melhorar. Vivíamos encolhidos no sofá, amontoados de coberta e com duas caixas de lenços e dois bules de chá e chocolate quente. Vez ou outra, eu ainda tinha que me levantar para por comida para os bichinhos. Jane disse que não era preciso regar as plantas - Você por acaso quer afogar Virgínia? Eu espero que isso nem tenha passado pela sua cabeça! - já que havia chovido suficientemente para lhes prover de um estoque aquífero proeminente.

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