Capítulo 1: Desigualdade

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"O tempo é infinito e sem forma, enquanto a vida humana é finita e com forma. Quando morre, não acaba e sim recomeça. Olhe, o horizonte está bem à sua frente, abrace-o."

Estava correndo o máximo que podia entre os becos. Seus perseguidores a seguiam pelos telhados. Eram dois: um parecia ágil o suficiente, e além de sua aparência magra, carregava nas costas uma espécie de sino gigante. O outro, que pulava os telhados de um quarteirão de forma desengonçada, era alto e forte, além de não carregar nada. Entretanto, continuavam a perseguir seu alvo.

Rápida como uma forte brisa, ela se esgueirava entre os becos com passos rápidos e curtos. Sabia que quem a estivesse perseguindo não tinha a intenção de conversar.

"Estão tentando me eliminar! Preciso saber... por quê?", ela pensou ao passar por um beco e dar de cara com uma rua aberta. Não havia tantas pessoas na área; já estava anoitecendo e o fluxo diminuía cada vez mais. Ela continuava a fugir deles.

Correu em direção a um antigo e velho galpão que havia ali. Estava abandonado e devastado. Ela olhou para trás e desviou a tempo de uma espécie de dardo perfurar sua pele.

— Você é diferente de todos... — ele analisou atentamente e soltou um sorriso. — Que já matei. Uma Hagune irregular — disse, enquanto tirava de suas costas uma espécie de sino gigante.

O homem alto chegou um pouco depois, portava um enorme sobretudo que cobria totalmente seu corpo. Olhava diretamente em direção à garota.

— E pensar que esta Hagune nos daria trabalho. — fechava os punhos. — Não acha, Ajioka? — ele perguntou ao seu companheiro, que de alguma forma estava recitando uma espécie de cântico.

Ajioka continuava a recitar o cântico e o imenso sino aos poucos tomava outra forma, transformando-se totalmente em uma espécie de lança esverdeada e dourada.

— Norijuki, eu cuido dela! — disse enquanto mirava a lança em sua direção. — A Profeta Vieltras é capaz! — a lança foi arremessada.

Um pequeno turbilhão foi formado na direção da Hagune, causando uma pequena destruição na parede do galpão, além de revelar a Hagune, com seus longos cabelos e um corvo em seu ombro.

— Estes olhos. Não me diga que você...! — ele ao menos teve chance de terminar.

Sentiu sua barriga doer e sua consciência apagou por exatos três minutos. Quando acordou, notou que seu braço esquerdo estava doendo, sangue seco e grosso saía do que havia sobrado. A Hagune parecia estar bem.

— Ajioka! — Norijuki gritou de pavor.

Seu braço esquerdo, ou o que havia sobrado, era apenas a silhueta de um lugar vazio. Onde deveria ter um braço, agora estava coberto pela cor carmesim, tingindo o chão com seu sangue. Ajioka estava sofrendo com intensa dor, desesperado, procurava por sua lança. Ao notar que ela estava no teto, perfurada ao seu braço esquerdo, totalmente preso, sua expressão era de um humano com medo.

— Ataquei forte demais. — ela suspirou, seus olhos estavam roxos. — Tentarei usar ataques mais frágeis contra vocês! — disse soltando um sorriso de deboche.

O homem alto e com um porte físico estava se dirigindo em sua direção, rangendo os dentes de raiva.

— Ora sua! — tirou seu sobretudo, revelando que havia duas imensas argolas em seus punhos.

Ela desviou facilmente do primeiro ataque, que acabou por acertar o chão e danificar totalmente a área. Já o segundo golpe acertou suas costas e a arremessou para longe. A vitória estava garantida para Norijuki, ainda mais por conta de seu Profeta Mongus. Ele seguia em direção a ela enquanto seus punhos pareciam brilhar com um tom intenso de luz.

— C-Como... é p-possível!? — a Hagune se perguntou, vomitando sangue e sentindo uma dor intensa nas costas. — Nunca vi um profeta assim — disse enquanto o observava com os olhos cheios de raiva.

Norijuki ignorou o que ela estava dizendo, apenas andando em sua direção, cada vez mais radiante. Seus punhos pareciam ser o próprio sol de tão brilhantes. Quanto mais ele chegava perto, mais ela conseguia sentir o calor da luz.

— Receba a terceira carga! — disse em um rápido movimento.

Ele sentiu seu punho ser parado e um clima de névoa começava a se manifestar. Então, notou que havia um corvo segurando seu braço. Um sorriso de desdém apareceu na face da Hagune, que se distanciava dele.

— O-O que é-é isso!? — ele balbuciou, com medo por dentro. — Me responda! — ele gritou, mas sabia que já não estava em posição de exigir.

Aos poucos sua voz parecia sumir e ele não conseguia mais escutar nada. Era como se tivesse perdido para sempre. Aos poucos, conseguiu ver vários corvos se juntando em volta da Hagune, que apenas olhava com desprezo.

— Vocês, humanos, são... — ela olhava para o teto do galpão, onde a lança estava presa. — Tão frágeis.

Norijuki sentiu uma dor intensa nas pernas, os corvos estavam devorando-o vivo, e sentia sua barriga ser aberta. O medo já havia tomado seu corpo por completo e sangue escuro saía de suas tripas.

A Hagune soltou um sorriso.

— Frágeis não seria uma palavra adequada. — ela olhava para os dois humanos que sofriam. — Eu diria, suscetíveis. — disse, soltando uma gargalhada para um corvo em seu ombro.

Os dois humanos se contorciam no chão, gravemente feridos, suas expressões eram totalmente de medo e iriam viver eternamente neste loop, vivenciando sua própria morte eternamente.

— Vocês chegaram! Foram rápidos dessa vez — ela disse, olhando para outros dois seres monstruosos. — Já estão prontos, podem devorá-los — disse enquanto saía com um sorriso de canto.

Os monstros foram para cima dos humanos, que estavam sendo despedaçados e devorados ainda vivos. Dessa vez era real. A garota seguia andando pelas ruas novamente e trajando seu sobretudo com capuz. Em sua face, um sorriso se manifestava, uma expressão de crueldade se abria em forma de riso.

— Espero que encontre mais deles! — disse suspirando para o corvo. — Dessa vez, irei devorar.

Ela seguia em direção ao centro da cidade, que estava toda iluminada, onde iria encontrar inúmeras pessoas para devorar, além destes "Caçadores".

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