Girassol • Maylor

5

   — Quem é esse pedaço de mal caminho que você trouxe?

   — Freddie quer calar a boca? — Roger reclamou enquanto colocava suas luvas de borracha. — Nós estávamos tomando café e...

   — Se estavam tomando café juntos, por acaso foi com ele que você passou a noite fora? Eu conheço todos os seus amigos, mas esse eu nunca ouvi falar...

   — É uma história muito longa que eu não posso contar agora, enfim, estávamos tomando café juntos e eu quebrei o dente dele, mas foi por acidente.

   — Eu tô tentando imaginar como você quebrou o dente dele...

   — Se começar a falar merda eu vou quebrar os seus.

   — Já falamos sobre a sua sexualidade amigo, é um questão de tempo, você não vai aguentar e vai acabar explodindo, agora se apresse que o bonitinho já está deitado te esperando.

   Farrokh Bulsara era um grande amigo de Roger desde a faculdade, era um homem estrangeiro, com cabelos pretos e um bigode grosso, além de uma arcada dentária interessante com alguns dentes a mais. Havia trocado seu nome para Freddie aos dezoito anos, trabalhava como ajudante no consultório e estava chegando ao fim do curso de desenho. Era o único que sabia dos problemas de Roger em relação a sua sexualidade, ele também já teve esses problemas, depois que se assumiu, as coisas melhoraram muito, então Freddie tentava convencer seus amigos a fazerem o mesmo.

   Roger foi até a sua sala, Brian já estava deitado na cadeira, ele sorriu ao ver o louro novamente, ele ficava sexy com aquelas luvas, a máscara e o jaleco de dentista.

   — Já que eu bati a colher no seu dente, o tratamento vai ser por minha conta. — Ele disse, sentando ao lado da cadeira.

   — Está tudo bem, eu posso pagar...

   — Não, eu insisto, é por ontem, você mesmo disse que gentileza gera gentileza. — Roger sorriu por baixo da máscara. — Agora vamos abrindo a boca.

   Por mais nervoso que estivesse por causa de Brian, Roger tentava tomar cuidado para realizar seu trabalho com perfeição. Ele estava tentando se afastar de uma forma rápida, sem enrolação e, se possível, não muito dolorosa, ele tinha que tirar aquele homem de sua cabeça, mas era como se tivessem jogado uma praga sobre ele para que os dois não se separassem mais.

   Freddie já havia ameaçado partir para a feitiçaria se ele não se assumisse, se aquilo fosse coisa dele...

  Certo, terminar o tratamento, levar Brian para casa e acabar com tudo aquilo, era tão simples, por que ele simplesmente não conseguia fazer isso? Deveria ser por que toda vez em que prestava atenção nos olhos e na expressão de Brian, ele acabava sorrindo involuntariamente. Examinar a boca dele era seu trabalho, não esperava que ele fizesse expressões de incômodo tão engraçadas.

   Ele era um florista realmente adorável.

   — Acabei. — Roger tirou as luvas depois de trabalhar por quase uma hora. — Está lindo como sempre, falando de uma forma amigável.

   — Você quer tanto assim flertar comigo?

   — Perdão?

   — Toda vez que me elogia, quando está sóbrio pelo menos, você diz "com todo o respeito", "de uma forma amigável", "falando como um amigo", você tem medo que eu entenda como um flerte? Eu sei que você tem namorada. 

   — Tá bom eu paro de falar assim, espere aqui, eu preciso falar com o Freddie pra saber sobre minha próxima consulta, eu vou te levar pra casa.

   — Eu posso chamar um táxi.

   — É o mínimo que eu posso fazer, um minutinho. — Roger tirou a máscara e foi até a porta do consultório, chamando na direção da recepção. — Só temos nós três aqui então não se incomode com isso, Bulsara!

   — Bulsara é sua mãe! Eu já falei pra não me chamar assim! — Gritou de volta da recepção.

   — A próxima consulta é quando?!

   — Em três horas imbecil!

   — É eu posso te levar pra casa, evite comer coisas duras desse lado da boca, se sentir qualquer dor me ligue. — Brian se levantou, colocando a mão na bochecha. — Dói um pouco no começo, mas já vai passar.

   Os dois saíram do consultório e foram direto para o carro, ainda era de manhã, já que saíram às pressas as seis e meia da manhã por causa de um dente quebrado. Brian estava fazendo dois chocolates quentes e pediu para que Roger pegasse uma colher para ele, o louro foi estender a colher mas acabou fazendo com uma certa força e acertou o dente dele. Não era tão grave, mas como um dentista, ele não iria deixar alguém que o tratou tão bem sem um tratamento adequado em troca. Agora os dois estavam lá, dentro do carro de Roger, um carro vermelho esportivo muito bem cuidado, o louro usando jaleco seus óculos escuros e apoiou o braço na janela aberta, parecia um ator de Hollywood em um filme de corridas que cruzou com um médico.

   Isso o deixava ainda atraente.

   — Você é bem ocupado como dentista não é? — Brian disse, olhando para a estrada pela janela. — Passa o dia todo no consultório?

   — Depende de quantas consultas eu tenho agendadas ao dia, por que?

   — Estava pensando, nós dois poderíamos nos ver de novo.— Brian estava triste em pensar que não veria mais seu novo amigo, enquanto Roger estava fazendo de tudo para nunca mais ver aquele florista na vida, mesmo que fosse contra a sua vontade. — Assistir mais jogos de futebol, tomar algumas cervejas, algumas ouviu? Sem exagerar de novo. — Os dois riram.

   — Eu não sei... Não estou dizendo que nós nunca mas vamos nos ver de novo. — "Mas deveria." — É que sabe, ficar indo e voltando, — "Nem pense nisso". — Eu apareceria apenas em finais de semanas. — "Roger cala a boca pelo amor de Deus!".

   — Então não é nada confirmado mas você vai tentar vir quando puder?

  — Sim. — "NÃO!" — Eu venho quando eu puder. — "EU DEVERIA ESTAR COGITANDO EM VÊ-LO DE NOVO, SE EU GOSTAR DELE E A SARINA ME CHUTAR EU AVISEI!" — Podemos trocar mensagens também. — "EU VOU ME MATAR!".

   — Que ótimo. — Brian sorriu. — Eu fico feliz de que nos veremos de novo.

   — Eu posso até te convidar para meu casamento, Sarina não escolheu quem vai fazer os arranjos com as flores para a decoração.

   Brian tinha esquecido o verdadeiro motivo pelo qual eles se encontraram, Roger tinha uma namorada, eles iriam ser noivos, Brian não deveria insistir em ficar se encontrando com ele ou criando uma falsa esperança, mas era inevitável.

   — Bom, chegamos. — Roger parou o carro na frente da floricultura, o florista saiu do carro, mas ainda ficou olhando para o vidro. — Até mais, Brian May.

   — Até mais, loirinho. — Brian respondeu, com um sorriso.

   Roger subiu os vidros, deu meia volta e desapareceu na estrada, enquanto Brian continuava observando o horizonte, com uma certa melancolia.

   — Você também é muito bonito.