— Quem é esse cara, Maithê? — Júlio pergunta pela milésima vez, mas estou absorta demais por conta do toque de Adam, que limpa meu corpo com suas mãos grandes, retirando minuciosamente cada partícula de areia.
— Machucou alguma coisa? — Questiona baixo no meu ouvido limpando as minhas costas.
— Já estou limpa, Adam! — pigarreio e ele se afasta analisando meu corpo com um olhar em chamas. O grande problema é que eu sei que esse olhar não é do tipo avaliativo para saber se existe algum machucado, pois está mais para um olhar de desejo. Estou me sentindo molhada e não é pela água do mar.
Me viro para Júlio em busca de me livrar dessa sensação que o olhar de Adam me causa, principalmente evitando passar vergonha em babar no peitoral nu e definido que ele ostenta, juntamente com o volume natural bem marcado em sua sunga preta. — Esse é o Adam, Pai do Gabriel.
— Gabriel? O pai do bebê da sua irmã? — concordo com a cabeça. — Quando me falou por mensagem, pensei que ele era tipo um velho gagá, da benga mole, ostentando uma barriga de cerveja. Cara, com um tanquinho desse eu libero até o boga, cu, poço sem fundo, buraquinho...
— Você é ridículo, Júlio! — Não contenho o sorriso e me aproximo ajudando-o a limpar os braços. — Você está parecendo um frango empanado. Ah, e a propósito, o suposto velhinho de benga mole fala português fluentemente!
— Merda! — sorri sínico, se afasta estendendo a mão para cumprimentar Adam que nos encara com cara de bunda. — Foi mal, cara! Não leva essa brincadeira a sério, me desculpa se eu te assustei, é que eu sempre faço isso com a Maithê e para te falar a verdade, faço isso desde que éramos crianças. Prazer, me chamo Júlio! Sou o obstetra da Ashley, amigo de infância da Maithê, e era o cara mais gostoso do litoral até você aparecer. Só diz que você não é médico, beleza?
— Não, não sou médico! — diz. — O prazer é meu!
— Você me mata de vergonha! — digo passando por Júlio e ele da um tapa da minha bunda me deixando muito puta.
— Filho de uma...
— É pecado falar palavrões com a mãe falecida de alguém, gatinha! — provoca e me calo, mostrando o dedo do meio para ele antes de sair rumo ao quiosque. Preciso beber algo forte.
Tudo bem que Adam não é um poço de simpatia, mas ele não foi tão antipático assim comigo, mesmo agindo feito um babaca. Agora, diante de Júlio, o cara parece um ser de outro mundo, um bloco de gelo ambulante enquanto o observo apenas balançar a cabeça e olhar para mim algumas vezes enquanto o outro tagarela um monólogo. Não existe pessoa imune aos encantos de Júlio, às suas piadas, sua forma leve de conduzir uma conversa, mas há Adam e sua falta de vontade de pelo menos demonstrar um pouco de simpatia.
Viro minha dose de tequila e respiro fundo, buscando paciência e sabedoria para saber lidar com toda essa intensidade e a tensão que existem entre nós dois. Eu lembro que uma vez, mas precisamente a anos atrás, minha madrinha contou uma história sobre ligação espiritual, e basicamente, ela falava da troca mútua de energia cósmica com alguém que você nem conhece direito, mas precisa de apenas uma duzia de palavras para essa ligação acontecer. Parece um papo meio louco, mas para quem acredita, como ela acreditava e eu também acredito, faz todo o sentindo.
Eu sou muito "mística", espiritual e acredito que todas as pessoas que estão ao meu redor, são pessoas a quem escolhi a dedo por conta da troca bacana de energia. São pessoas leves, de bem com a vida, que possuem uma força sobre humana. Então, não que Adam seja um exemplo de pessoa, mas além da sua carranca irritada e da sua falta de tato para uma conversa amigável, conversa que ele não seja te ignorando, criticando ou especulando, como um todo, ele não tem uma energia ruim. Muito pelo contrário, ele possui uma energia muito forte, uma aura dominadora e isso me deixa à flor da pele. Não queria admitir, mas os toques das suas palmas em meu corpo, a forma como nos olhamos desde a primeira vez, quando apareceu na porta da minha casa. A forma intensa que profere as palavras quando fala comigo.
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Nascida para Amar
Chick-LitDona de seu próprio empreendimento, Maithê se vê alcançando tudo o que sempre buscou durante todos os seus vinte e cinco anos. Batalhadora e esforçada, sempre dera valor ás pequenas e simples coisas da vida. Morando em uma cidade praiana, assiste...